A inovação deixou de ser um diferencial competitivo organizacional para se tornar uma condição essencial de sobrevivência. Num contexto global marcado por instabilidade geopolítica, incerteza económica e aceleração tecnológica, a capacidade de inovar não garante apenas vantagem – garante relevância. É exatamente nesse sentido que aponta um estudo global recente, segundo o qual 53% dos CEO afirmam que a inovação é a principal mudança necessária para assegurar o crescimento das suas organizações. Um valor que evidencia a exigência de repensar modelos, processos e competências para responder a um mundo que não abranda.

A centralidade da inovação nas agendas dos CEO não traduz ambição criativa, mas sim a consciência de que os mecanismos tradicionais de gestão deixaram de ser suficientes. A velocidade com que surgem novas tecnologias e a dinâmica dos mercados tornaram obsoletos muitos dos referenciais que orientaram as últimas décadas. Hoje, hesitar custa mais do que arriscar. E é precisamente neste ponto que a inovação assume um papel estruturante: é a única forma de acompanhar a incerteza sem ficar refém dela.

Neste novo contexto, quando os CEO afirmam que precisam de inovar, não falam apenas de desenvolver novos produtos ou investir em tecnologia. Falam de repensar processos que já não acompanham a complexidade do mercado, de questionar modelos de negócio que perderam tração e de redesenhar a forma como as equipas trabalham, colaboram e aprendem. Inovar tornou-se sinónimo de reinventar a própria organização, criando condições para operar ao ritmo acelerado que o mundo impõe.

É também por isso que a Inteligência Artificial surge como uma das prioridades mais citadas pelos líderes empresariais. O mesmo estudo indica que 44% dos CEO afirmam estar a investir ativamente em IA, reconhecendo o seu potencial para acelerar decisões, antecipar tendências e libertar talento para desafios de maior impacto.

A tecnologia deixou de ser vista como um instrumento periférico e passou a ser uma alavanca central da capacidade de adaptação. No entanto, a tecnologia só cria valor quando existe talento capaz de a interpretar e transformar em impacto, o que explica por que razão o desenvolvimento de pessoas continua a ser uma prioridade estratégica para 42% dos CEO a nível mundial.

Esta triangulação entre inovação, tecnologia e talento é hoje o verdadeiro motor da transformação organizacional. A velocidade tecnológica exige equipas capazes de aprender continuamente, de operar de forma transversal e de cultivar uma curiosidade ativa que permita questionar pressupostos e experimentar novas abordagens. É também por isso que tantos líderes reconhecem a necessidade de desenvolver níveis inéditos de adaptabilidade – não apenas nas suas equipas, mas em si próprios. Liderar num ambiente imprevisível já não implica controlar a complexidade, mas sim abraçá-la, tomando decisões corajosas sem perder a capacidade de ajustar a rota quando a realidade muda.

Neste contexto de mudança contínua, a inovação deixou de ser sinónimo de novidade e passou a ser uma resposta direta à complexidade. É o que permite enfrentar mercados fragmentados, competir com players globais que se reinventam continuamente e atrair talento que procura propósito, desafio e impacto.

A questão que se coloca já não é se devemos inovar, mas se é possível crescer sem o fazer. E a resposta, segundo os discursos e ações dos líderes globais, é clara: não é. Num mundo em que a mudança é permanente, inovar deixou de ser um caminho para o futuro e tornou-se uma condição para existir nele.