A Riopele venceu recentemente o Prémio Nacional de Inovação da COTEC, com a marca Tenowa de tecidos sustentáveis e ecológicos. A distinção vem reforçar a ideia de que as empresas dos setores tradicionais, neste caso o têxtil, e com um longo passado – a Riopele conta já com 91 anos de atividade – podem ser verdadeiramente inovadoras, à semelhança das startups de base tecnológica.

Importa desfazer o mito de que as empresas dos setores tradicionais têm pouca apetência para a inovação, baixa intensidade tecnológica e produtos pouco diferenciados. Muitas PME tradicionais interiorizaram já que, para serem competitivas, devem apresentar propostas de valor inovadoras. Podem não ser disruptivas ou revolucionárias mas, no seu dia a dia, estão a introduzir mudanças na cadeia de valor, com o intuito de melhorar a performance empresarial.

De resto, a inovação não se centra apenas no produto ou no processo. Em áreas como a das vendas, da distribuição, do marketing ou da gestão, por exemplo, também se pode ser inovador. Por outro lado, a inovação não tem necessariamente de resultar da interface entre o tecido empresarial e o meio académico, apesar de esta relação ser, como sabemos, de grande importância económica. Na verdade, as atividades de I&D têm resultados comerciais limitados em setores de baixa intensidade de conhecimento ou menos sofisticados tecnologicamente.

Obviamente que é fundamental para a nossa economia a conversão de conhecimento científico e tecnológico em produtos transacionáveis, de molde a ganhar competitividade no mercado global. A evolução na cadeia de valor dos setores do têxtil, vestuário e calçado, por exemplo, mostra que, com a colaboração do meio académico, se podem desenvolver produtos diferenciados e assim atrair consumidores mais exigentes. Com esta estratégia, foi possível não só enfrentar a liberalização mundial destes setores como conquistar novos mercados.

Contudo, interessa não esquecer a realidade empresarial do país. Em Portugal, a maioria das empresas não tem escala ou massa crítica, pelo que a prioridade deve ser o apoio à adoção de novas tecnologias, à criação de competências internas e à agilização das estruturas organizacionais. Para muitas PME, os inputs do meio académico não se traduzem em resultados comerciais, pois não há capacidade instalada para aplicar o conhecimento em novos produtos ou processos.

Acontece, porém, que as políticas de incentivo à inovação estão ainda muito centradas na promoção de sinergias entre o tecido empresarial e o meio académico. Talvez seja pertinente orientar parte dos incentivos para capacitar as PME com tecnologia e know-how, de modo a que as próprias possam, por si, evoluir em áreas como a engenharia, o design, a gestão de produção, a qualidade, a logística, entre outras. E assim serem igualmente inovadoras.