[weglot_switcher]

Inquérito do BEI revela que a pandemia deverá afectar investimento privado em Portugal

As empresas em Portugal tornaram-se, de um modo geral, mais pessimistas quanto às perspetivas de curto prazo, muito à semelhança dos seus pares da UE, sendo que a incerteza quanto ao futuro continua a ser o mais referido obstáculo a longo prazo ao investimento (92%).
Cristina Bernardo
15 Março 2021, 19h19

O investimento verde e digital foi destacado pelo Banco de Portugal e pelo BEI como fundamental para a recuperação face à Covid-19, no Webinar “Investimento, Digitalização e Financiamento Verde: O Caso Português, organizado pelo banco central nacional e pelo BEI.

Na conferência virtual, o BEI apresentou os resultados das mais recentes edições do seu relatório anual sobre o investimento e do inquérito anual sobre o investimento na Europa e em Portugal, que forneceram informações sobre a dinâmica do investimento e as necessidades de investimento em Portugal.

“Quase metade das empresas em Portugal prevêem investir menos devido à Covid-19; quase dois terços das empresas estão a investir ou planeiam investir em projetos relacionados com o clima, e 50% das empresas inovaram com novos produtos, processos ou serviços”, concluiu o BEI.

O inquérito do BEI sobre o investimento em Portugal revela que a pandemia de Covid-19 deverá exercer pressão sobre o investimento privado. “O novo inquérito sobre o investimento destaca a forma como as empresas foram afetadas pela crise económica causada pela pandemia. Quase metade (47%) das empresas em Portugal preveem investir menos devido à Covid-19. Além disso, cerca de um terço abandonaram ou adiaram os planos de investimento devido à pandemia, menos do que a média da UE (35%), e quase um quarto (24%) das empresas esperam manter pelo menos alguns dos seus planos de investimento, mas com uma escala ou âmbito reduzidos, acima da média da UE (18%).

Para as empresas afetadas pela  pandemia, o desenvolvimento de novos produtos ou serviços é a prioridade de investimento mais referida (38%), acima da média da UE (30%). No último exercício, o principal objetivo do investimento era a substituição dos edifícios, maquinaria, equipamento e tecnologia (IT) existentes (52%), sendo a maior percentagem do investimento em maquinaria e equipamento (53%).

O inquérito do BEI sobre o investimento revelou que, ao longo do último exercício, foram mais as empresas que aumentaram o investimento do que as que o reduziram. No entanto, as perspetivas de investimento são ainda negativas. As empresas em Portugal tornaram-se, de um modo geral, mais pessimistas quanto às perspetivas de curto prazo, muito à semelhança dos seus pares da UE, sendo que a incerteza quanto ao futuro continua a ser o mais referido obstáculo a longo prazo ao investimento (92%).

Empresas portuguesas inovaram mais do que a média europeia

Cerca de metade de todas as empresas inovaram e desenvolveram ou introduziram novos produtos, processos ou serviços como parte das suas atividades de investimento, acima da média da UE (43%). Tal inclui 18% das empresas que reportaram ter introduzido inovações que são novas no país, também acima da média da UE (15%).

“Apesar das perturbações económicas causadas pela pandemia, as empresas portuguesas têm a inovação no topo da sua agenda. As empresas afetadas pela crise económica causada pela Covid-19 aperceberam-se que a inovação e a digitalização poderão ser as melhores ferramentas disponíveis para fazer face à atual crise”, afirmou Debora Revoltella, Economista-Chefe do BEI.

“De facto, as empresas portuguesas implementaram, em média, mais tecnologias digitais do que as suas contrapartes da UE, sendo mais provável que desenvolvam ou introduzam novos produtos, processos ou serviços como parte das suas atividades de investimento. Portugal ainda está aquém da média da UE em investimento em investigação e desenvolvimento, mas os resultados do inquérito mostram que estão a dar passos na direção certa”, disse a responsável do BEI.

Nas conclusões do inquérito do BEI verifica-se que três quartos das empresas (76%) afirmam que as alterações climáticas têm atualmente impacto nas suas atividades, muito acima da média da UE (58%). Quase dois terços das empresas (64%) estão a investir ou planeiam investir em projetos relacionados com o clima, em linha com a média da UE (67%). Além disso, quase metade das empresas (48%) investiram em medidas destinadas a melhorar a eficiência energética, em conformidade com a média da UE.

Esta análise do país apresenta resultados selecionados com base em entrevistas a 481 empresas em Portugal entre maio e agosto de 2020. O inquérito faz parte do Survey on Investment and Investment Finance (EIBIS), conduzido à escala da UE a 13.500 empresas, que reúne informações quantitativas sobre as atividades de investimento das PME e grandes empresas, as respetivas necessidades de financiamento e as dificuldades com que se deparam.

“Investimento, digitalização e financiamento verde: o caso português”

Durante o evento virtual, que contou com a presença de mais de 400 líderes empresariais, economistas e parceiros do setor público, o Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, e o Vice-Presidente do Banco Europeu de Investimento, Ricardo Mourinho Félix, deram a conhecer os principais resultados do inquérito do BEI sobre o investimento em Portugal de 2020. A Economista-Chefe do BEI, Debora Revoltella, moderou o debate.

Na intervenção de abertura, Mário Centeno, Governador do Banco de Portugal, afirmou: “A compreensão da dinâmica da transição digital e das alterações climáticas é muito importante em si mesma, mas também para perspetivar a recuperação económica”.

“A pandemia atingiu a atividade e acelerou as mudanças estruturais que transformarão as nossas economias e a nossa forma de viver. Assim, o desafio será não só recuperar da crise, mas também de nos adaptarmos às mudanças agora em curso, aproveitando o impulso da recuperação para implementar as alterações necessárias”, disse Centeno.

Já Elisa Ferreira, Comissária Europeia, reforlou que “nos nossos esforços para reduzir drasticamente os gases com efeito de estufa, será essencial mais investimento público e privado, para construir uma nova economia digital mais limpa e mais competitiva, capaz de apoiar o nosso estilo de vida europeu”.

“Todos temos trabalho a fazer: na Comissão Europeia, no Banco Europeu de Investimento, mas também no Banco de Portugal e no Sistema Europeu de Bancos Centrais. Somos os garantes da estabilidade financeira na UE. Agora precisamos também de ser os facilitadores de uma transição bem-sucedida”, afirmou a Comissária Elisa Ferreira.

Na sua intervenção de encerramento, Ricardo Mourinho Félix, Vice-Presidente do Banco Europeu de Investimento e responsável pelas operações do BEI em Portugal, salientou que “não obstante a devastadora crise económica causada pela pandemia, as empresas portuguesas terão de continuar a investir no seu futuro e nas áreas mais impactantes: inovação, digitalização e ação climática”.

“Como “Banco do Clima” da União Europeia, o Grupo BEI é um dos principais financiadores de projetos de ação climática”, disse salientando que “somos igualmente um dos maiores investidores europeus em inovação. Estamos a apoiar mais do que nunca as empresas portuguesas, para que estas superem os desafios atuais e futuros. Estamos ao lado das empresas portuguesas e dos seus trabalhadores.”

Impacto da Covid-19 e perspetivas de transição climática e digital
Os principais intervenientes descreveram a evolução das necessidades e prioridades de investimento de Portugal devido à pandemia e salientaram a necessidade de reforçar o financiamento e a cooperação consultiva ao nível das melhores práticas, a fim de se acelerar a transição para uma economia digital e verde.

O debate centrou-se na prontidão e na adaptabilidade das empresas às novas restrições causadas pela pandemia e na necessidade de implementar tecnologias digitais essenciais para apoiar a resiliência e a competitividade.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.