“Uma das coisas que me ajudam na minha transformação é a inquietude face à tecnologia e à capacidade de autoformação”. Foi com esta declaração que Francesc Juan Viegas, responsável pelo departamento de arquiteturas e sistemas da Schneider Electric, começou a responder à pergunta “que caraterísticas tem que lhe permitiram fazer e acompanhar a transformação do mercado nos últimos anos?”
Para o efeito contribuíram os “conteúdos tecnológicos de qualidade disponíveis atualmente em qualquer parte a partir da cloud”. Para Francesc, a formação, hoje, “tem de ter um estilo diferente”, com mais flexibilidade e agilidade. E os fabricantes estão a acompanhar esta evolução disponibilizando conteúdos que permitem a qualquer um manter-se atualizado em relação ao que se passa no mercado, acompanhando realmente a evolução do mundo das tecnologias de informação”. Especialmente quando se assiste a uma convergência entre os mundos das TI e industrial, convergência esta que irá proporcionar otimizações, em particular nas operações das fábricas e das utilities, assinala.
Outro aspeto que também o ajudou na transformação foi o conceito de plataformas as a service, que permitem “contratar serviços na cloud” sem necessidade de gerir a infraestrutura tecnológica ou de ter um departamento de TI para o fazer. Em suma, a tecnologia – ou a formação – “está a democratizar-se”, ficando ao alcance, por subscrição, de qualquer pessoa em qualquer parte do mundo através da conectividade e da cloud.
Mas a formação não se faz apenas através da subscrição de plataformas na Internet. Para separar o trigo do joio é necessário ter conhecimento e contactos: “É preciso trabalhar em rede”, sublinhou. “Eu tenho background em automação e sistemas de controlo de redes, mas não sou do mundo da ciência de dados. No entanto, estou conectado com pessoas que o são”. Cada um tem de construir o seu próprio ecossistema de contactos, sendo “estratégico para as organizações serem capazes de gerir e de ser centrais nesses ecossistemas”, explica.
As empresas vão ter de mudar para se adaptar a um novo modelo de funcionamento. E é esta uma das dúvidas que prevalece no mercado: “como é que as empresas se vão relacionar no futuro? Umas vezes seremos parceiros e outras concorrentes”. É um requisito ter “uma mentalidade muito aberta, porque vamos enfrentar cenários que requerem uma nova forma e cultura de trabalho”. O responsável salienta que, no passado, se trabalhava de uma forma muito hierárquica sendo agora, mais que nunca, fundamental trabalhar com foco no cliente. “Com mercados mais abertos será necessário incorporar tecnologia de outros fabricantes nas nossas soluções para ter uma proposta de valor realmente muito sólida para o cliente”.
O advento do 5G
“As comunicações em 5G vão mudar o mundo”. Previstas para chegar comercialmente ao mercado dentro de dois anos, irão dar resposta a um problema crítico do mundo industrial: o controlo de proximidade (edge computing). O 5G permitirá “a análise, geração e processamento de dados no local, na fábrica, sem necessidade de transporte”. A latência das comunicações possibilitará a execução de atividades críticas no local, sem necessidade de ocupar as “infraestruturas de comunicação, as autoestradas da informação, com dados que não necessitam de estar noutro local”.
Hoje temos a rede 4G – que é uma tecnologia que não é má, mas tem as suas limitações e uma capacidade enorme de computação em cloud. Quando passarmos para 5G, a rede será alargada e os limites serão colocados pelo cliente e não pela tecnologia. “É fundamental ter infraestruturas de comunicação realmente rápida”.
Em simultâneo, a cloud continuará a ter um papel determinante ao permitir desenvolver ferramentas que deixam de ser um investimento CAPEX para ser um investimento OPEX nas suas várias dimensões. “Tudo poderá será contratado por subscrição e disponibilizado em plataformas cloud”, assinala.
Naturalmente, irão manter-se processos críticos ou de segurança localmente. “Por muito boas que sejam as comunicações, no final é sempre melhor contratá-lo perto de onde se processam os dados”.
“O importante da comunicação é o valor que pode gerar. E para mim o valor passa por dar poder aos utilizadores da tecnologia: para ganharem em conforto na parte residencial ou para ganharem rentabilidade na indústria, ou ainda para evitar paragens não planificadas das fábricas”.
Cidades, indústria e edifícios do futuro
No futuro, as cidades serão diferentes graças às tecnologias de comunicação emergentes, que permitirão serviços de partilha quer de automóveis quer de outros recursos (edifícios, parques…) que não são utilizados na sua totalidade nos dias de hoje, antecipa Francesc. “Poder-se-á tirar partido de uma infraestrutura de rede que permitirá ter tudo conectado constantemente”. Iremos viver numa economia colaborativa que “funcionará em torno de uma rede que permite, de facto, o tempo real instantâneo”.
Os primeiros sistemas de controlo de supervisão deverão surgir, num primeiro momento, nos edifícios e, mais tarde, no mundo industrial, antecipa. Com o suporte de sensores e 5G será possível fazer “praticamente qualquer coisa” em matéria de “diagnóstico ou manutenção preventivos”. A tecnologia já existe atualmente, mas falta “sensorizar tudo, tornar os equipamentos inteligentes para que possam enviar informação através das redes de comunicação para a cloud”, potenciando deste modo a “tomada de decisões muito mais inteligentes”.
Com esta combinação de tecnologias será possível melhorar a experiência do utilizador – consumidores ou agentes de manutenção. Haverá ainda espaço para as tecnologias de realidade aumentada, que já estão a passar do mundo do entretenimento para o mercado industrial. As infraestruturas de comunicações rápidas serão fundamentais, pois estamos a falar de conteúdos pesados, como vídeos, para o suporte à realidade aumentada.
Segurança: benefícios superam os riscos
Os sensores e a circulação de dados têm naturalmente riscos, “mas o benefício é tão grande que é necessário tomar decisões”.
“Na Schneider temos um processo de fabricação de produtos que se denomina cybersecure by design, e incorporamos de forma permanente nos nossos produtos todas as certificações, sendo que tem de ser evolutivo desde a conexão do equipamento até à cloud”, explica Franscesc.
“Não existe risco zero, mas com um desenho correto do produto, das arquiteturas e das metodologias é possível mitigar muitos riscos”, sublinha. Tal como na estratégia militar, é necessário um sistema de defesa por camadas. Ainda assim, repete, “o benefício é muitíssimo superior ao risco que assumimos” e, sempre que for necessário, “podem manter-se zonas ou serviços críticos isolados”.
Apesar de tudo, “um risco zero, um bunker, também tem riscos”. O especialista recorda que “muitos dos ciberataques chegam às empresas através do próprio pessoal (por exemplo, através de portas USB) inadvertida ou intencionalmente”. Em suma, “o facto de não se estar conectado não é garantia de que não haja ataques”.
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