O que se passou na terça-feira na Assembleia República evidencia por completo os sinais dos próximos tempos. A vitória que saiu das urnas no dia 10 foi frágil. Nunca um partido ganhou por tão pouco na democracia, nem um ponto separou PSD (AD) e PS. Logo, a maneira de agir de quem quer liderar e governar não pode assentar nos mesmos pressupostos de um partido que ganha com maioria absoluta.

No Parlamento, para a eleição do seu presidente, o PSD estava obrigado a sair da sua zona de conforto – que é conversar com CDS e IL – para efectuar conversas alargadas com os restantes partidos, inclusive os de esquerda, especialmente com o PS, para lá de não estar preso a um redutor “não é não” proferido por Luís Montenegro em campanha que intimida o PSD a não negociar com o Chega.

Ora, se há outra evidência absoluta, é que o centro da política passou para a AR, palco prioritário para todas as negociações, medida a medida, de um governo minoritário, tal como em 1995 aconteceu com António Guterres.

Assim, o pecado original desse dia inusitado que chocou todos os observadores, sobretudo o PSD que contava com um passeio no parque para a eleição de José Pedro Aguiar Branco, foi o PSD não ter fechado o assunto com o PS ou com o Chega, que quis mostrar que sem o milhão e cem mil portugueses que representa não há estabilidade.

Sim, teremos uma instabilidade fruto de eleições que dinamitaram por completo o que era a segurança de um regime de cinquenta anos com dois partidos que alternavam no poder, porque agora há um “challenger” com 50 deputados que vão fazer barulho e um líder que chega facilmente às pessoas e veste a pele de um “zeitgeist” que se vai espalhando por toda a Europa.

Agora é importante que o PSD tenha aprendido a lição. Está no início do seu novo pontificado político, tem tempo para corrigir o posicionamento. Sendo que isto foi um dia perdido para a democracia, um péssimo espectáculo para o exterior, porque quem quer investir em Portugal precisa de estabilidade (aquela que vimos na transição suave de António Costa para Luís Montenegro com um café em Bruxelas) e previsibilidade, não quer apanhar com surpresas ou sustos.

Falta ver o novo governo, rostos e estilos, porque há muito problema para resolver. Com acção, mas, obrigatoriamente nestes novos tempos, com muito diálogo.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.