Um estudo do Telecoms Advisory Service, em nome da AWS, concluiu que a inteligência artificial (IA) ligada à cloud acrescentou mais de 647 milhões de dólares ao Produto Interno Bruto (PIB) português em 2023. “A investigação também concluiu que a cloud, no seu conjunto, deverá acrescentar 2,6 biliões de dólares ao PIB da Europa até 2030, com quase 434 mil milhões de dólares provenientes apenas da IA baseada na cloud”, reforça esse mesmo estudo.
Em 2024, foram 96 mil empresas que adotaram inteligência artificial pela primeira vez, o que representa 41% do total de empresas no país (35% no ano anterior), revela o relatório “Desbloquear as Ambições de Portugal sobre Inteligência Artificial (IA) na Década Digital em 2025”, da AWS e Strand Partners.
“As empresas portuguesas registaram um aumento de 24% no investimento em IA em 2024, a par da média europeia de 22%, o que indica um forte crescimento e empenho na adoção da IA. Dentro de três anos, as empresas preveem que a IA irá representar 16% dos seus orçamentos globais de TI, o que reflete a sua crescente importância estratégica”, salienta o relatório.
O documento diz ainda que 77% das empresas que adotaram a tecnologia “já viram melhorias significativas” na produtividade, onde se inclui: análise de dados simplificada (66%), a melhoria do serviço ao cliente (53%) e a automatização de tarefas de rotina (54%).
“94% das empresas portuguesas relata aumentos de receitas numa média de 30% devido à adoção da IA, o que demonstra o impacto da IA na competitividade das empresas. A impulsionar esta mudança estão as startups portuguesas, que estão a integrar prontamente a IA e a tirar partido das suas finalidades mais avançadas. 55% das que adotaram a IA têm a tecnologia integrada nas suas estratégias, em comparação com 38% em toda a Europa”, refere o relatório.
“Portugal deve continuar a adotar medidas proativas para sustentar a adoção da IA e impulsionar níveis históricos de produtividade, crescimento e inovação”, recomenda o documento.
É defendido também no relatório que a “adoção proativa da IA é a alavanca mais forte de Portugal para atingir e ultrapassar os objetivos da sua década digital, acelerar a inovação, aumentar a competitividade e reforçar a sua posição global”.
O relatório diz que em 2024, em média, a cada hora 12 empresas em Portugal passaram a utilizar a IA pela primeira vez. “41% das empresas está atualmente a utilizar IA em Portugal, ou seja, mais de 600 mil empresas em todo o país. 62% das startups adotou IA e 35% está a criar produtos ou serviços orientados para a IA. 77% das empresas que adotaram IA em Portugal registrou melhorias de produtividade transformadoras ou significativas. 49% registou a melhoria pela IA da experiência do cliente e 48% registou um reforço da automatização. 94% das empresas portuguesas relata um aumento das receitas graças à adoção da IA, com um aumento de 30%”, conclui também o documento.
O relatório destaca também o papel que as startups estão a ter ao nível da adoção desta tecnologia.
“62% das startups portuguesas adotaram IA. Destas, 55% tem a tecnologia integrada nas suas estratégias, em comparação com 38% na Europa. 35% estão a desenvolver novos produtos baseados em IA”, diz o documento.
O documento sublinha que 46% das empresas portuguesas afirmou que o acesso a subsídios ou financiamento do governo foi o que “mais ajudou a permitir” a adoção da IA. “O financiamento das startups portuguesas aumentou significativamente desde o início da década; embora existissem pouco menos de cinco mil startups em Portugal em 2024, estas representam um importante motor económico, ao gerar mais de 2,6 mil milhões de euros em volume de negócios”, diz o documento.
“33% das startups portuguesas afirma que a colaboração com outras empresas e líderes do setor é importante para as ajudar a crescer. As startups portuguesas são apoiadas através de esforços do governo central e regional, como a Unicorn Factory criada pela Câmara Municipal de Lisboa”, acrescenta o relatório.
“55% das startups portuguesas afirma ter um forte conjunto de competências em IA, em contraste com a média de apenas 30% de todas as empresas portuguesas”, diz o relatório.
O relatório deixa ainda um alerta. “As grandes empresas e as PME estão a ficar para trás em relação às startups no que diz respeito ao aproveitamento das utilizações mais avançadas da IA. Embora o nível de adoção da IA seja encorajador — com 55% das grandes empresas já a utilizando — há uma preocupação crescente de que muitas delas fiquem limitadas à aplicação básica da tecnologia, focando apenas em ganhos de eficiência e automatização de processos. Isso pode impedir um uso mais estratégico da IA, como na criação de novos produtos ou na transformação de setores inteiros por meio da inovação”.
É ainda realçado que “apenas 11% das empresas portuguesas estão na fase mais avançada da adopção da IA e utilizam a IA para transformar fundamentalmente os processos e serviços empresariais, em comparação com 35% das startups”. A isto acresce que 47% tem “um orçamento dedicado à IA, em comparação com 58% na Europa” e menos de 19% das empresas em Portugal “tem uma estratégia global de IA, em comparação com 25%” na Europa.
“As PME estão, em termos gerais, em linha com a média nacional no que respeita à adoção da IA. Tal como acontece com as grandes empresas, a maioria (65%) permanece em níveis básicos de adoção da IA, enquanto 17% está a tirar partido da IA para as suas utilizações mais avançadas. Uma vez que as PME representam a maioria das empresas portuguesas, isto representa um potencial considerável por explorar”, diz o documento.
O estudo identifica também os principais desafios que estão a impedir as empresas portuguesas de tirarem pleno uso da inteligência artificial. Um deles são as competências.
“42% das empresas portuguesas identifica a falta de competências digitais como um obstáculo a uma adoção mais profunda da IA e 57% afirma que esta situação está a dificultar a inovação. Com a previsão de que a literacia em IA será necessária em 48% dos novos empregos em Portugal nos próximos três anos, colmatar esta lacuna será especialmente importante”, diz o relatório.
Sobre isto é ainda referido que 44% das empresas portuguesas afirma ter “dificuldades em atrair talentos com as competências digitais necessárias e, por sua vez, estão dispostas a oferecer melhores condições a candidatos com fortes competências digitais – com um aumento salarial médio de 41%”. A isto junta-se 65% das empresas portuguesas que afirmam que a “disponibilidade de profissionais de IA qualificados e de programas de formação tem sido crucial para a sua adoção da IA”.
Entre os desafios está também os custos. “34% das empresas portuguesas cita a perceção dos custos iniciais como um obstáculo fundamental à adoção da IA. Além disso, 21% das empresas afirma que precisam de uma compreensão mais clara do retorno do investimento da IA, mas 94% das empresas portuguesas registara um aumento significativo das receitas com a IA, com um crescimento médio de 30% das receitas atribuído à IA”, diz o estudo.
E o desafio final identificado pelo estudo é a insegurança regulamentar. “37% das empresas portuguesas considera a insegurança regulamentar como um obstáculo fundamental, menos do que a média europeia de 44%. Outros 44% das startups portuguesas afirma que a incerteza regulamentar atrasou ou alterou as suas estratégias de IA e tecnologia. A clareza regulamentar contínua incentivará e impulsionará a adoção e a inovação no domínio da IA”, disse o estudo.
O estudo dá ainda três dicas para acelerar a adoção de inteligência artificial. Um deles é a continuação do apoio às startups portuguesas orientadas para a IA.
“O apoio contínuo, nomeadamente através de opções de capital de risco e de financiamento acessível, é crucial para a capacidade de expansão das suas empresas e para a sua inovação em matéria de IA; 89% das startups afirma que opções mais acessíveis de capital de risco e de financiamento são cruciais para a capacidade de expansão das suas empresas, e 46% de todas as empresas portuguesas afirma que o acesso a subvenções ou financiamento do Estado é uma das medidas mais úteis para a adoção da IA”, defende o estudo.
“Portugal deve continuar a capitalizar a dinâmica criada pela liderança das startups na inovação em IA através de políticas que apoiem a inovação das startups, incluindo a expansão dos programas de educação e requalificação em IA, o aumento dos canais de financiamento públicos e privados e o reforço das infraestruturas que apoiam a colaboração das startups”, refere o mesmo documento.
A última dica passa por acelerar a transformação digital em todos os setores.
“Para acelerar a adoção digital pelo setor privado, Portugal precisa de estabelecer um círculo virtuoso de investimento e crescimento, centrado na transformação digital e numa mão de obra qualificada. A ênfase renovada na atualização dos processos empresariais, na aplicação comercial das inovações e no investimento em I&D pode ajudar as empresas europeias a recuperar o seu entusiasmo pelo arranque e a impulsionar a competitividade europeia a nível mundial”, recomenda o estudo.
O estudo acrescenta que deve também ser melhorado o “acesso ao financiamento privado e ao financiamento governamental” tendo em conta que 71% das empresas portuguesas “considera crucial ou muito importante, e deve-se investir no desenvolvimento de competências em matéria de IA – 90% das empresas considera que as competências em matéria de IA são fundamentais nos próximos cinco anos”.
O relatório afirma que o cumprimento dos compromissos em matéria de competências será “crucial para apoiar uma mão de obra digitalmente nativa, que possa inovar no futuro”.
E por fim o relatório defende a expansão do apoio às PME e às grandes empresas para integrarem a IA de forma estratégica.
“Alargar os incentivos financeiros específicos para que as empresas desenvolvam projetos de IA de grande impacto, tais como créditos fiscais para investigação e desenvolvimento (I&D) em IA, regimes de cofinanciamento para programas-piloto de IA e subvenções à inovação que incentivem a tomada de riscos e a experimentação”, é uma medida defendida pelo relatório.
“Lançar centros de inovação em matéria de IA e aceleradores setoriais específicos para ajudar as grandes empresas a colaborarem com as startups, as instituições de investigação e os especialistas em IA a desenvolverem em conjunto soluções que ultrapassem a automatização e visem uma verdadeira transformação (por exemplo, novos produtos, modelos de negócio ou serviços)”, é outra medida defendida no mesmo documento.
“A adoção da IA pelo setor público é também um facilitador crucial da adoção da IA; 85% das empresas portuguesas afirma que é mais provável que adotem a IA quando o setor público o fizer. As entidades públicas que lideram iniciativas de IA reforçam a confiança nas tecnologias emergentes nas ferramentas e tecnologias, demonstrando a fiabilidade e os benefícios da IA através de aplicações reais nos serviços públicos e incentivando assim as organizações do setor privado a seguirem o exemplo”, defende o documento.
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