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Interessado em desenvolver projeto de hidrogénio verde em Sines? Há apoios disponíveis

Depois do cancelamento do projeto H2SinesRDAM, os apoios ficaram disponíveis. Governo avisa que quem estiver interessado vai ter de apresentar proposta modificada.
10 Julho 2024, 18h22

O Governo está à procura de interessados para desenvolver um projeto de hidrogénio verde em Sines. Depois do cancelamento do projeto H2SinesRDAM, ficaram disponíveis estes apoios para quem quiser pegar no projeto. Mas com uma condição: o projeto terá de ser reformulado.

“Temos essa autorização, se encontrarmos promotores ou os mesmos [consórcio anterior], se reformularem ligeiramente o projeto, ou outros interessados no objetivo geral, mas reformulando o projeto. Como estava, tecnicamente, é quase impossível o transporte, os 400 MW de hidrogénio. É impossível de implementar neste momento”, disse a ministra do Ambiente e da Energia na quarta-feira aos jornalistas à margem da sua audição no Parlamento.

Hidrogénio para ser produzido localmente? “Sim, em principio”, afirmou, não adiantando o valor do apoio especificamente.

O projeto previa uma capacidade de produção de 400 MW em Sines. O objetivo era começar a exportar hidrogénio verde via navio para o porto de Roterdão.

Mas o consórcio franco-neerlandês constituído pela Engie e Shell cancelou este ano o seu projeto.

“Dada a falta de regulamentos claros e considerando a atual maturidade do mercado-alvo, assim como a ausência de infraestruturas suficientes, os diferentes parceiros do parceiro tomaram a decisão de terminar o projeto em Portugal em outubro”, disse fonte oficial da Engie ao JE a 9 de abril.

“A Engie ainda está convencida de que o hidrogénio permanece um factor fundamental dentro da transição energética, pois a vontade e a necessidade existem”, afirmou.

O projeto H2SinesRDAM estava orçamentado em “vários mil milhões de euros” para “toda a cadeia de valor, das renováveis a todas as infraestruturas”, disse em abril de 2023 ao JE o vice-presidente europeu da elétrica Engie para o hidrogénio verde Nils Grobet, adiantando que o objetivo era que o projeto entrasse em vigor em 2028/2029.

Em 2023, o responsável da Engie salientava que o projeto aguardava pela resposta da Comissão Europeia à candidatura aos fundos europeus do IPCEI (Projetos Importantes de Interesse Comum Europeu).

Nils Grobet dizia então que o projeto iria contar com um “gigawatt de fontes renováveis e 400 megawatts de eletrolisadores. E também unidades de liquefação (conhecidas por trains), com a capacidade de exportação de mais de 100 toneladas por dia no terminal de Sines, através de um navio dedicado ao transporte rumo ao terminal de importação no porto de Roterdão”. O objetivo seria vender este hidrogénio líquido para clientes no norte da Europa, que é mais caro que a versão normal de H2.

Além da Engie e da Shell, o projeto também contava com a participação de Anthony Veder, especialista no transporte marítimo de gás natural liquefeito e da empresa neerlandesa Vopak, operador de terminais de armazenamento, que iria ficar responsável pela construção e operação dos terminais.

Numa análise ao mercado global de hidrogénio verde, a consultora Wood Mackenzie alertou este ano que os custos estão a pressionar os projetos de hidrogénio. “O hidrogénio tem sido um tópico quente na transição energética. Mas os promotores, tomadores e decisores políticos lutam por andarem ao ritmo planeado – com os custos a serem a principal barreira”.

A consultora especializada em energia acredita que os projetos vão continuar a surgir, mas que o foco vai estar nos que conseguirem atingir a decisão final de investimento (FID). “Este vai ser um ano crítico para em estabelecer o ritmo a que os mercados de hidrogénio e derivativos pode crescer”, segundo Murray Douglas, vice-presidente da área de research de hidrogénio e amónia.

O analista aponta que os “custos de desenvolvimento para projetos de hidrogénio e energias renováveis aumentaram significativamente durante 2023, e no topo disto, os promotores lutaram para garantir financiamento. Estas novas, e ainda por provar, tecnologias, muitas vezes tendo como alvo novos clientes, são consideradas arriscadas. Com o financiamento dificil de obter, custos a aumentar e as decisões regulatórias ainda no ar, o atraso de projetos e cancelamentos têm sido generalizados – um padrão que deverá continuar”.

A Wood Mackenzie destaca que os “projetos de exportação estão a debater-se para garantir FID, mas a Europa e a China continuam a ter a maior capacidade sob construção. Apenas 2% da capacidade total anunciada a nível global está sob construção ou operacional”.

Os projetos focados na exportação – correspondem a 44% da capacidade anunciada, mas entrarem em operação vai depender “do aumento da procura nos seus mercados de importação. Com cerca de metade dos anúncios de capacidade global a serem especulativos, e os anúncios a ultrapassarem os desenvolvimentos, é claro porque é que estes projetos são considerados de alto risco”.

No último trimestre de 2023, foi atingido um recorde em termos de capacidade anunciada: 12,7 milhões de tpa anunciados, atingindo um total global de mais de 120 milhões de tpa. “Os anúncios de capacidade em todo o mundo têm sido dominados por centros de produção e megaprojetos, e novos projetos foram principalmente em mercados focados para a exportação, particularmente no Norte de África”, segundo a Wood Mackenzie.

A consultora destaca que grandes anúncios em mercados menos desenvolvidos devem ser tratados com cautela: “mercados focados em exportação albergam um pequeno número de grandes projetos, inflacionando a capacidade total por região. Mas na verdade, a maioria destes projetos (…) vão lutar para progredir devido a assuntos relacionados com financiamento, falta de políticas de apoio, desafios em garantir compradores e infraestrutura de apoio por desenvolver”.

Analisando a produção de eletrolisadores, cruciais para produzir hidrogénio e com a tecnologia para produzir eletrolisadores maiores e em larga escala a precisar de ser afinada, a China surge como uma das potências na sua produção, sendo capaz de “escalar a capacidade de produção mais rapidamente do que a Europa e a América do Norte, possivelmente capturando uma porção assinalável do mercado”.

Mas existem “dúvidas sobre a performance e confiabilidade”, com a WM a dar o exemplo do projeto Kuqa da Sinopec que encontrou “problemas técnicos e está a operar atualmente a menos de um terço da capacidade instalada”.

Entretanto, novos e ambiciosos atores estão a “prometer escalar” apesar de os “alarmes” estarem a soar devido ao risco de excesso de oferta de eletrolisadores no curto a médio prazo.

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