7 ideias para mais estabilidade

A inovação tem sido uma das áreas em que as intermitências, resultado de escolhas e decisões que não se têm mantido estáveis ao longo do tempo, com avanços e recuos em medidas políticas estruturantes, colocam ao País grandes desafios nas próximas décadas. Sabemos que, para ter impacto, na inovação, seja em termos de novos produtos e serviços, processos, modelos de negócio, métodos de trabalho, novas soluções para problemas sociais, é determinante a estabilidade.

Sem surpresas, o recente estudo da OCDE, que define cenários de desenvolvimento até 2060, reconhece a importância da inovação como fator determinante para o aumento da produtividade, com efeitos relevantes na geração de externalidades positivas.

Para tal, à semelhança de países cujo investimento em I&D é inferior a 3% do PIB, Portugal deve aumentar, nos próximos anos, de modo significativo e sustentado, esse investimento, com efeitos expectáveis nas condições de vida da população, o que parece ser reconhecido, no discurso, nas políticas públicas e setoriais.

Passar do discurso à prática, com mais velocidade e ambição, porque outros países estão a ser mais rápidos e mais ágeis, impõe envolver a comunidade, multiplicar os esforços dirigidos em torno de prioridades, definir e aplicar, sem intermitências ou hesitações, uma ‘cartilha’ consensualizada, com as necessárias margens de liberdade e de criatividade essenciais na área da Inovação.

Como?

Desde logo, com o aumento da despesa em I&D, quer pública, quer privada. Só que o aumento da despesa em I&D deve refletir uma visão partilhada na sociedade portuguesa sobre o futuro, capaz de gerar acordos e proporcionar condições para o desenvolvimento da inovação, sem intermitências. Será também importante tirar partido da experiência de internacionalização, quer no espaço europeu quer noutras regiões do mundo que, nos domínios da ciência e tecnologia, tem permitido criar redes de conhecimento e de colaboração extremamente relevantes para todos os atores do sistema de inovação.

Quando confrontados com a necessidade de identificar algumas ideias que permitam estabilidade no apoio à Inovação, e agregando algumas das contribuições do Relatório RIO (Research and Innovation Observatory) sobre Portugal, selecionamos sete:

  1. Proporcionar condições favoráveis para a I&D empresarial, contribuindo para o aumento da despesa pública e privada com atividades de I&D;
  2. Melhorar o desempenho inovador das empresas, apoiando o desenvolvimento das suas capacidades internas, de participação em redes de conhecimento e colaboração em projetos e iniciativas de I&D e de valorização de resultados;
  3. Estimular e acelerar o desenvolvimento de novas empresas de base científica e tecnológica, potenciando o aumento das exportações de bens e serviços de conhecimento e tecnologia intensivos;
  4. Reforçar as ligações entre os ‘atores’ do sistema de inovação: empresas, universidades, instituições de I&D, centros tecnológicos, centros interface e outros, criando oportunidades de orquestração de atividades, preferencialmente à escala global;
  5. Definir, estruturar e apoiar o desenvolvimento de agendas de inovação, orientadas para a criação de valor económico e social;
  6. Aumentar o emprego qualificado e científico associado a atividades de I&D empresarial;
  7. Apoiar a capacitação das pessoas e organizações para a transformação digital.

Também a qualidade das instituições, incluindo a qualidade da gestão, constitui um dos elementos chave na explicação das diferenças, no desenvolvimento, entre alguns países pois delas decorrem importantes incentivos ao investimento, à translação e absorção de conhecimentos e tecnologia, ao desenvolvimento de competências das pessoas e organizacionais, à transformação digital, fulcrais no processo de mudança de Portugal e da sua convergência com as metas a cumprir.

E a qualidade das instituições exige liderança forte, esclarecida e mobilizadora, o que não abunda em Portugal.