A internacionalização da economia portuguesa é hoje um desafio que, ao contrário do que sucedia no passado, tem nos serviços o protagonista principal.

Este protagonismo reside em dois factores. Por um lado, os serviços portugueses são responsáveis pela maioria do valor acrescentado nacional incorporado nas exportações totais do país (conforme demonstrado num estudo realizado em 2014 por Augusto Mateus & Associados para a CCP e o Fórum dos Serviços). Por outro lado, a digitalização da economia permite que as empresas exportem cada vez mais serviços sem necessidade de deslocação ou deslocalização.

Este é o caso paradigmático da inovação que resulta directamente em crescimento. Ora, crescer nas actividades intensivas em conhecimento significa, sobretudo, criar emprego qualificado. Ou seja, sem que existam os recursos humanos com as qualificações requeridas não é possível dar este salto na internacionalização.

Significa isto que é necessário conjugar a competitividade, cada vez mais assente nas qualificações e em competências aplicadas, com uma nova competitividade-custo, que se desloca do trabalho intensivo e menos qualificado para um perfil maioritariamente centrado no valor acrescentado do conhecimento, e cujo custo não pode ser desligado deste.

Mas não basta. Ao trabalho de elevação das qualificações, que vai da reformulação do sistema de ensino à criação de condições para a formação contínua de activos, associa-se um constrangimento que tem hoje que ver com a insuficiente quantidade dos recursos humanos qualificados disponíveis, seja no curto, seja no médio e longo prazo.

Os problemas demográficos do país são uma condicionante estrutural, que demorará várias décadas a ultrapassar. Temos de a enfrentar no imediato, o que nos confronta com a necessidade de conjugar a aposta na qualificação com a fixação e mobilidade de talentos e que passa, também, pela atracção de não residentes.

A atracção de não residentes deve constituir um pilar de uma estratégia de desenvolvimento do país, tirando partido da crescente mobilidade de pessoas e capitais e da melhoria das nossas acessibilidades, e deve visar não apenas o turismo ou os visitantes de curta duração.

Devemos fomentar programas orientados para permanências mais prolongadas, que atraiam pessoas ao país para estudar, para trabalhar, para investir ou para ter acesso a uma melhor a qualidade de vida na reforma e que possam evoluir para novos residentes, cujo perfil deverá assentar em pessoas com rendimentos acima da média ou portadores de conhecimento e capacidade empreendedora acrescida.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.