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Investidores chineses refugiam-se nos fundos de Hong Kong

A pressão sobre a moeda chinesa e as dificuldades no rearranque da economia interna têm levado os investidores a procurarem refúgio em fundos de seguros de Hong Kong. O governo central já estará a promover medidas de controlo das movimentações de capitais.
6 Julho 2023, 10h00

Os investidores chineses estão a correr para o exterior para fazerem depósitos em dólares e comprar seguros em Hong Kong, num sinal de que a confiança interna está a definhar e que o yuan, a moeda chinesa, enfrenta mais pressão – segundo avança a imprensa norte-americana.

As saídas de divisas colocam em evidência a preocupação dos investidores chineses com o estado da economia do país, refere a agência Reuters, à medida que a tão esperada recuperação da pandemia estagnou, segundo observação das mesmas fontes. “Os gastos dos consumidores estão em queda, o mercado imobiliário e os mercados de ações estão no marasmo e o dinheiro está a acumular-se nos bancos”.

As participações de investidores chineses num sistema que permite o investimento em produtos de Hong Kong e Macau mais do que duplicaram desde o final do ano passado, para 814 milhões de yuans (cerca de 110 milhões de dólares). Os novos prémios cobrados nas apólices de seguro de Hong Kong saltaram 2.686%, para 9,6 mil milhões de dólares no primeiro trimestre de 2023.

“Cada vez mais pessoas percebem que não podem colocar os ovos todos na mesma cesta”, disse Helen Zhao, uma corretora de seguros em Hong Kong, citada pela Reuters. As aplicações de seguros de Hong Kong têm sido um canal para os chineses comprarem ativos no exterior, com as apólices a fornecerem mais proteção que a que está disponível no mercado interno – os produtos de poupança e investimento denominados em dólares são os mais atrativos.

Um gestor de fortunas na Noah Holdings disse à Reuters, anonimamente, que recentemente agregou um grupo de clientes chineses para assinar contratos de seguro, muitos incomodados com as consequências da política de tolerância zero face à Covid. “Alguns clientes ficaram chocados com a reviravolta da política interna e pessimistas em relação à economia da China”, disse. “A explosão de compras de seguros em Hong Kong reflete uma perspetiva doméstica sombria e preocupações com um futuro incerto.” Os produtos de seguro de poupança em Hong Kong oferecem uma rentabilidade mínima de 4,5%, disse, melhor que os 3% oferecidos na China.

A Noah Holdings disse em comunicado que os seguros offshore são uma ferramenta conveniente para alocar ativos, enquanto a localização de Hong Kong os torna um destino natural para investidores chineses.

Por sua vez, os depósitos em dólares em Hong Kong oferecem uma proteção contra movimentos sentidos pelo yuan e, para um prazo de um ano, rendem 4%, de acordo com o Banco da China. Na própria China, os depósitos em dólares a um ano rendem 2,8%, enquanto os depósitos em yuan rendem 1,65%.

Por outro lado, a diferença entre os rendimentos dos títulos soberanos dos Estados Unidos e da China a dois anos é a maior em 16 anos, em favor dos primeiros, e as ações globais estão a subir a Ocidente enquanto as da China estão estagnadas.

De qualquer modo, “a procura offshore de apólices denominadas em dólares de Hong Kong é baixa “, disse Lawrence Lam, CEO da Prudential Hong Kong, também citado pela Reuters. A procura total permanece abaixo dos níveis pré-Covid e estava antecipado um aumento da procura a partir da reabertura das fronteiras da China. No entanto, essa procura ocorre num momento em que o yuan parece cada vez mais frágil. Uma situação semelhante ocorrida em 2016 levou Pequim a aumentar o controlo de capital e promover medidas restritivas à saída de capitais. Movimento idêntico, segundo a Reuters, está neste momento a intensificar-se.

 

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