[weglot_switcher]

Investimento na defesa impulsiona valorização das empresas do setor

O início de 2025 está a ser marcado por uma forte valorização das empresas ligadas ao setor da defesa, impulsionada por um movimento estratégico da União Europeia.
17 Março 2025, 12h52

Bruxelas apresentou uma proposta para mobilizar até 800 mil milhões de euros ao longo dos próximos quatro anos, com o objetivo de fortalecer a capacidade de defesa da Europa. Este pacote de estímulos ao setor surge como resposta ao agravamento das tensões geopolíticas, particularmente no contexto da invasão russa da Ucrânia, da crescente incerteza em relação ao posicionamento dos Estados Unidos da América (EUA) e da necessidade urgente de reforçar a autonomia estratégica europeia. O plano, recorda a consultora XBT, não só pretende fortalecer as capacidades militares da União Europeia (UE), como também reduzir a sua dependência de fornecedores externos, nomeadamente os Estados Unidos.

A proposta contempla mecanismos como a emissão de dívida conjunta e a reorientação de fundos comunitários da UE para projetos de defesa, “promovendo a modernização e a inovação das infraestruturas de segurança. Este movimento de esforço reflete uma crescente consciencialização de que a segurança a longo prazo da Europa exige uma abordagem integrada e colaborativa, envolvendo todos os Estados-membros na construção de uma política de defesa comum”.

Embora as questões sobre o setor não sejam recentes – já no início da invasão russa à Ucrânia se registou um aumento da contribuição do PIB para o setor -, as atuais metas orçamentárias revelam uma ambição ainda maior para os gastos com a defesa da Europa.

“Atualmente, a maioria dos países da UE já cumpre o requisito de destinar pelo menos 2% das despesas com a defesa em relação ao PIB. No entanto, os dados do Banco Mundial indicam que, em 2023, as despesas em toda a UE poderão ultrapassar os 1,7% do PIB. Em teoria, caso se concretize o plano da Comissão Europeia para um reforço anual de os 200 mil milhões de euros, o investimento total poderia ascender a 2,7- 3,0% do PIB”.

Para contextualizar esta dimensão de investimento, “é importante notar que a última vez que esta percentagem do PIB (2,7-3,0%) esteve dedicado ao setor da Defesa, foi nas décadas de 1970 e 1980 nos países da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço.

Num cenário em que as despesas com a defesa da UE aumentem em 200 mil milhões de euros por ano, o impacto sobre as perspetivas de crescimento económico, diz a XBT, será relativamente limitado. No entanto, este investimento poderá ter um efeito positivo ao mitigar parcialmente os desafios da atual conjuntura económica na Zona Euro, especialmente nas principais economias europeias, como França e Alemanha.

Por outro lado, este pacote de estímulos ao setor levanta preocupações quanto ao impacto da dívida pública, uma vez que o aumento das despesas poderá intensificar a pressão sobre as finanças dos Estados-membros da UE. De modo a viabilizar o plano, a União Europeia pretende suspender temporariamente as regras que limitam os défices excessivos, permitindo uma maior flexibilidade orçamental para financiar o plano de defesa. Em termos financeiros, 650 mil milhões de euros serão provenientes diretamente dos Estados-membros, o que exigirá a captação desses recursos, possivelmente através da emissão de dívida pública.

“Embora esta estratégia possa ser absorvida sem grandes implicações por países com níveis de endividamento relativamente baixos, representa um desafio para economias já altamente endividadas, como França e Itália. Para mitigar esse impacto, a UE prevê a concessão de empréstimos a taxas de juro mais vantajosas, totalizando 150 mil milhões de euros, oferecendo assim uma alternativa financeira para os países mais vulneráveis ao impacto do aumento da dívida.

A consultora recorda que as ações da germânica Rheinmetall registaram a maior valorização, impulsionadas pela expansão da produção de munições e pelos contratos provenientes do orçamento de defesa alemão. A Thales beneficiou do aumento da procura por sistemas C4ISR e radares antiaéreos, enquanto a Leonard capitalizou a crescente necessidade da NATO por sistemas de guerra eletrónica. Já a BAE Systems foi favorecida pelo desenvolvimento do caça Tempest e pelo crescimento do setor da cibersegurança. No entanto, o setor enfrenta riscos significativos, incluindo possíveis atrasos nos contratos e o aumento dos custos das matérias-primas e da investigação, fatores que podem pressionar as margens operacionais destas empresas.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.