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Investimento no SNS permitiu retorno de 5,1 mil milhões para a economia

Índice de sustentabilidade diminuiu, mas SNS apresenta nível de atividade mais elevado dos últimos quatro anos. Pela primeira vez, o estudo apresenta um índice de atuação preferencial para o setor.
2 Abril 2019, 18h47

Cerca de metade do valor investido no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 2018 retornou, no próprio ano, para a economia graças ao impacto positivo que os cuidados de saúde tiveram no absentismo laboral e na produtividade dos portugueses, de acordo com o Índice de Saúde Sustentável, estudo desenvolvido pela NOVA Information Management School (NOVA-IMS) e hoje apresentado na 8ª Conferência AbbVie|DN|TSF.

No total, terão voltado para a economia nacional 5,1 mil milhões de euros, de onde resulta que o investimento no SNS foi da ordem dos 10,2 mil milhões de euros. Apesar da descida do índice de sustentabilidade, dos 103 pontos para os 100.7 pontos, o estudo realça “o incremento da satisfação e confiança dos utentes e o aumento considerável da atividade do SNS em 2,5%”.

Para a queda do indicador, contribuiu, segundo o estudo, “o aumento da despesa (2,9%) e uma redução na qualidade global (a qualidade percecionada pelos cidadãos manteve-se estável, mas a técnica diminuiu)”. “Houve de facto um aumento da despesa e uma ligeira diminuição da qualidade do SNS, que acabaram por ditar a redução do índice de sustentabilidade da saúde. No entanto, olhando para os vários parâmetros que compõem este índice, existem também aspetos francamente positivos como a redução da dívida do SNS, o aumento da atividade e uma qualidade percecionada pelos utentes que se mantém estável”, explica Pedro Simões Coelho, professor da NOVA IMS e coordenador principal do projeto Índice de Saúde Sustentável.

Além de medir a sustentabilidade do sistema, o estudo calculou também o impacto do SNS no absentismo laboral e na produtividade dos utentes. “Em média, os portugueses faltaram quase 6 dias (5,9) ao trabalho em 2018, o que resultou num prejuízo de 2,2 mil milhões de euros. No entanto, a prestação de cuidados de saúde através do SNS permitiu evitar a ausência laboral de outros dois dias (2,4), representando uma poupança de 894 milhões de euros”.

Também foi analisada a redução na produtividade tendo em consideração situações de doença que poderão ter influenciado o desempenho de uma pessoa num dia normal de trabalho. Por motivos de saúde terá existido uma “perda de produtividade equivalente a 12,3 dias de trabalho, o que se traduz num prejuízo de 4,6 mil milhões de euros. Porém, conclui-se também que o SNS permitiu evitar outros 6,8 dias de trabalho perdidos em produtividade, resultando numa poupança de 2,5 mil milhões de euros”.

Totalizando o impacto no absentismo laboral e o impacto na produtividade, o SNS permitiu uma poupança total de 3,4 mil milhões de euros. Considerando o impacto dessa poupança por via dos salários e a relação entre a produtividade/remuneração do trabalho (valores referência do INE), é possível concluir que os cuidados prestados pelo SNS permitiram um retorno para a economia que ronda os 5,1 mil milhões de euros. “Estes números comprovam que o SNS tem um impacto extremamente positivo quer no absentismo laboral, como na produtividade, permitindo não só poupanças significativas, mas também um importante retorno para a economia nacional”, salienta Pedro Simões Coelho.

Pela primeira vez, o estudo desenvolveu um índice de atuação preferencial, que resulta da avaliação que os utentes fazem dos determinantes da qualidade dos cuidados de saúde e da importância que atribuem a cada um deles. “Com uma avaliação de 78,3, numa escala de 1 a 100, a qualidade dos profissionais de saúde é, na ótica dos utentes, o ponto mais forte do SNS e um ponto que deve ser valorizado. Por outro lado, a facilidade de acesso aos cuidados (59 pontos) e os tempos de espera entre a marcação e a realização de atos médicos (54 pontos) são encarados como os dois aspetos mais negativos”.

Desta análise, resultou o índice de atuação preferencial, que estabelece prioridades e distribui a percentagem de investimento para cada determinante: qualidade dos profissionais de saúde (31%), facilidade de acesso aos cuidados (27%), tempos de espera entre a marcação e a realização de atos médicos (17%), qualidade da informação fornecida pelos profissionais (14%) e infraestruturas/equipamentos (10%).

Curiosamente, apesar dos utentes se mostrarem mais críticos em relação à adequação dos preços, nomeadamente do preço das taxas moderadoras (27% dos inquiridos consideram-nas inadequadas vs 24% em 2017), a atividade não realizada devido aos custos baixou. Em 2018, devido aos custos das taxas moderadoras terão ficado por realizar 503.749 episódios de urgência, valor que no ano anterior ultrapassava os 900 mil.

Se às taxas moderadoras se acrescentarem também as despesas de deslocação, a conclusão é idêntica: os custos têm cada vez menos impacto. No caso da consulta externa/especialidade num hospital público, por exemplo, não foram realizadas 637.132 consultas, valor que representa uma redução de 3,4% na atividade perdida face a 2017, ano em que ficaram por realizar mais de um milhão de consultas.

Por fim, o estudo avaliou também o índice global do estado de saúde dos portugueses, que se encontra nos 74,4 pontos – numa escala de 0 a 100, em que 100 corresponde ao estado de saúde ideal. Se a este índice fosse retirado o contributo do SNS, o valor ficaria apenas pelos 54,6 pontos, o que comprova que o SNS contribui fortemente para a perceção do estado de saúde dos cidadãos.

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