A pandemia de Covid-19 veio reforçar a consciencialização para a sustentabilidade do investimento e colocar em evidência os temas ambientais, sociais e de governança das organizações (ESG, na sigla inglesa). “É uma tendência que já se desenhava numa fase pré-pandemia, mas que, por razões regulatórias, políticas e de consciência pública generalizada, tem ganho uma maior tração”, diz ao Jornal Económico (JE) Manuel Puerta da Costa, administrador-executivo do BPI Gestão Ativos para a Área de Imobiliário.
No sector do imobiliário, esta consciencialização em torno de temas relevantes para a resposta ao que é classificado como emergência climática constituiu “um fast track para que os consumidores e, consequentemente, o mercado passassem a olhar de um outro modo para a edificação saudável”, explica Hugo Santos Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII).
Assim, é a procura que está a determinar o ritmo da mudança, à medida que os investidores intervêm diretamente no mercado, preferindo projetos sustentáveis, ou optam por fundos de investimento imobiliário em que os critérios ESG são defendidos; e o mesmo acontece no momento de tanto particulares como organizações decidirem sobre a aquisição ou o arrendamento de imóveis. “Hoje, o simples arrendamento de um espaço de escritórios já tem de estar alinhado com as políticas internas de ESG e, por inerência, [alinhado com as políticas] dos investidores institucionais que precisam de responder às exigências do mercado”, afirma Tiago Fernandes, administrador executivo na CA Imóveis. Também parceiros, como as instituições de crédito, levam em conta o investimento sustentável e, cada vez mais, incorporam os critérios ESG na avaliação de risco. “A motivação dos investidores e das instituições de crédito é facilmente compreendida, já que as variáveis de sustentabilidade são percecionadas como alavancas de valor futuro. São edifícios com maior potencial de valorização (assumindo a tendência crescente da procura, para aquisição ou arrendamento, dependendo do segmento) ou que podem oferecer maior proteção em cenários adversos de potencial desvalorização global no mercado”, justrifica.
Por isso, Hugo Santos Ferreira defende que “a questão da sustentabilidade é central e uma prioridade para os investidores e promotores imobiliários”.
“Quanto maior for a procura e quanto mais sensibilidade existir por parte da sociedade, maior será a oferta, é uma questão de procura versus oferta que depende do mercado, pois os promotores, investidores e os demais stakeholders estão preparados e motivados para a questão da sustentabilidade”, sublinha Santos Ferreira, apontando que este facto é comprovado “pelos projetos que têm sido colocados no mercado nos últimos anos, em que a questão da sustentabilidade está cada vez mais presente”.
Energia, espaços verdes e resíduos
A sustentabilidade dos projetos no sector do imobiliário, incluindo a reabilitação urbana, reflete-se na construção, mas também na operação dos imóveis. “Temas como a eficiência energética do edifício, compensação de carbono, uso racional da água, espaços verdes integrados nos edifícios, gestão de resíduos, aproveitamento de materiais em reconstruções e mitigação dos riscos de contaminação do solo são atualmente considerados, em maior ou menor grau, na análise de projetos imobiliários”, diz Tiago Fernandes ao JE.
Gilberto Jordan, CEO do Grupo Jordan, aponta que a ação passa por “incorporar, na construção de edifícios muitos parâmetros específicos que permitem vivências mais sustentáveis, tais como isolamento térmico e acústico muito acima da média, luz natural em todas as divisões, painéis fotovoltaicos que alimentam baterias que posteriormente vão abastecer a casa, pontos de carregamento elétrico de carros, painéis solar térmicos, controlo de climatização, gestão do silêncio, ETAR doméstica, entre outros, capazes de tornar um projeto de construção num caso claro de inovação sustentável”.
Mesmo a reabilitação urbana tem de obedecer a estes padrões. “Tem como principais objetivos garantir a melhoria da qualidade de vida dos utilizadores dos imóveis, garantir que esse conforto ocorre com recurso ao mínimo de utilização de energias não renováveis possível e que em todos os processos envolvidos, tanto na renovação como na utilização, a pegada ecológica seja a menor possível”, exemplifica José Dias, Sales Director da Hydro Building Systems.
Neste contexto, Gilberto Jordan defende que “a sustentabilidade não pode continuar a ser encarada apenas como um objetivo, mas sim uma atitude permanente”. Manuel Puerta da Costa concorda e defende que se trata de uma tendência que “não só se vai manter, como vai aumentar, à medida que a Agenda Verde da UE [União Europeia] avançar, criando excelentes oportunidades para os agentes imobiliários que se anteciparem e melhor se souberem adaptar, promovendo certificações de edifícios e desenvolvendo projetos inovadores, que terão uma vantagem de valorização face a todos os outros que não tenham este objetivo de sustentabilidade incorporado”.
“Este será, sem dúvida, o grande desafio para o futuro”, conclui Jordan.
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