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Investir em defesa sem preservar Estado social da União Europeia seria suicídio coletivo, considera António Costa

“Aqueles que colocam como opção escolher entre o Estado Social e a investir na defesa é um suicídio coletivo porque ninguém se mobiliza para se defender se não for para defender o seu próprio modo de vida. E o que caracteriza o nosso modo de vida europeu é precisamente a existência deste Estado Social forte”, afirma António Costa em entrevista à agência Lusa em Bruxelas a propósito dos seus seis meses no cargo de presidente do Conselho Europeu.
epa12171055 President of the European Council, Antonio Costa, delivers a speech during the ceremony commemorating the 40th anniversary of the signing of Portugal’s Treaty of Accession to the European Communities, at the Jeronimos Monastery in Lisbon, Portugal, 12 June 2025. EPA/TIAGO PETINGA
2 Julho 2025, 08h45

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, afirma que investir em defesa sem preservar o Estado social da União Europeia (UE) seria um “suicídio coletivo”, destacando o impulso norte-americano à unidade europeia em torno dos objetivos da NATO.

“Aqueles que colocam como opção escolher entre o Estado Social e a investir na defesa é um suicídio coletivo porque ninguém se mobiliza para se defender se não for para defender o seu próprio modo de vida. E o que caracteriza o nosso modo de vida europeu é precisamente a existência deste Estado Social forte”, afirma António Costa em entrevista à agência Lusa em Bruxelas a propósito dos seus seis meses no cargo.

“Isso é absolutamente essencial porque a defesa não é só um gasto militar, a defesa é a mobilização do conjunto da sociedade para se defender a si própria. E o que é que é a sociedade defender-se a si própria? É defender seus valores e o seu modo de vida”, acrescenta.

Para o líder da instituição que junta os chefes de Governo e de Estado da UE, “é fundamental manter esse Estado Social e ter a capacidade de organizar a economia para gerar os recursos necessários para sustentar este investimento em defesa”.

Numa altura de contínua guerra da Ucrânia causada pela invasão russa e de tensões geopolíticas no Médio Oriente, António Costa vinca que “a Europa mudou radicalmente” pois “houve uma compreensão generalizada que a paz sem defesa é uma ilusão”.

“Portanto, a Europa da defesa tornou-se uma realidade e foi isso que, logo em março de 2022 […], o Conselho Europeu decidiu, que foi assumir maiores possibilidades na área da defesa”, assinala.

Para tal, contribuíram, a seu ver, os apelos do Presidente norte-americano, Donald Trump, a mais gastos em defesa, desde que voltou à administração dos Estados Unidos no início deste ano.

“O Presidente [norte-americano, Donald] Trump, paradoxalmente, ajudou a resolver isto porque a dúvida que existia na Europa era [entre] aqueles que entendiam que a autonomia estratégica e o reforçar o pilar europeu da NATO era uma divisão relativamente aos americanos e uma bizarria francesa que criava um problema no relacionamento com os Estados Unidos, [mas] a verdade é que, com o Presidente Trump, […] ambas as partes convergem na mesma posição”, elenca.

Nesta entrevista à Lusa, António Costa conclui: “A melhor forma hoje em dia de preservar a relação transatlântica é com uma Europa da defesa, um pilar europeu da NATO e uma maior autonomia estratégica da Europa.”

Na semana passada, reunidos em Bruxelas, os líderes da UE comprometeram-se a financiar adequadamente o aumento dos gastos com defesa, coordenando tal investimento para o fazer “melhor em conjunto”, dada a nova meta da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) dias antes.

Os chefes de Governo e de Estado da UE pediram também à Comissão Europeia e à chefe da diplomacia comunitária, Kaja Kallas, que apresentem um roteiro para alcançar a prontidão da defesa comum da UE até 2030.

Na cimeira da NATO, os 32 aliados da Aliança Atlântica assumiram o compromisso de gastarem, até 2035, 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em despesas militares tradicionais (forças armadas, equipamento e treino) e 1,5% do PIB adicionais em infraestruturas de cibersegurança, prontidão e resiliência estratégica, um acréscimo face ao atual objetivo de 2%.

Entre 2021 e 2024, a despesa dos Estados-membros da UE com defesa aumentou mais de 30%, para 326 mil milhões de euros, o equivalente a cerca de 1,9% do PIB comunitário.

Portugal investiu cerca de 1,55% do PIB em defesa no ano passado e já disse que este ano chegará aos 2%.

No dia 01 de dezembro de 2024, António Costa começou o seu mandato de dois anos e meio à frente do Conselho Europeu, sendo o primeiro socialista e português neste cargo.

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