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Israel: Egipto e Qatar temem que plano de Trump para Gaza impeça negociações sobre os reféns

Estado hebraico tinha o seu próprio plano para incentivar a saída dos palestinianos, ao mesmo tempo que a extrema-direita quer a anexação do enclave e da Cisjordânia. Israel saiu do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Trump
FILE PHOTO: Former U.S. President Donald Trump speaks to an audience at the “American Freedom Tour” event in Memphis, Tennessee, U.S., June 18, 2022. REUTERS/Karen Pulfer Focht/File Photo
6 Fevereiro 2025, 07h00

Mediadores árabes do Egito e do Qatar estão preocupados com o fato de o plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – de assumir o controle de Gaza e esvaziar permanentemente o enclave dos seus habitantes palestinianos – possa ter um impacto fortemente negativo sobre o atual acordo de cessar-fogo em Gaza e a libertação de reféns. Tudo isso ocorre em um momento em que Israel e o Hamas iniciam negociações indiretas sobre os termos da segunda fase do acordo. “O acordo é muito frágil, e a transição da primeira para a segunda fase seria sempre difícil, mas isso pode virar tudo de cabeça para baixo”, diz uma das autoridades árabes, sob anonimato, citada pela imprensa de Israel. O Hamas já indicou aos mediadores que os comentários de Trump podem ter exatamente esse efeito.

Entretanto, as mesmas fontes indicam que Israel vem considerando há vários meses o seu próprio plano para incentivar a emigração de Gaza para um país terceiro que não seja o Egito ou a Jordânia – onde já se encontram milhares de palestinianos, com as autoridades nacionais afirmando que não têm condições para acolher mais refugiados. A imprensa afirma que não está claro se o plano realmente existe e, caso exista, qual seria a sua dimensão. De qualquer modo, é conhecido que os partidos da extrema-direita e da ortodoxia religiosa (que fazem parte da coligação governamental do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu) há muito defendem o regresso dos colonatos a Gaza e a expansão dos que existem na Cisjordânia. Evidentemente, em vista está a ocupação total do território atribuído aos palestinianos em 1948 – muito maior do que aquele que ocupam atualmente – e que uma medida desse calibre teria, com toda a certeza, tração social suficiente para não ser um escândalo.

Um escândalo foi precisamente a forma como o resto do mundo observou a iniciativa de Donald Trump de tomar conta do enclave para ali instalar uma espécie de Riviera do Médio Oriente. De todas as capitais vieram claras rejeições do plano de Trump, umas mais contundentes que outras.

Posição de Portugal

O próprio primeiro-ministro português não pôde acompanhar a posição de Trump, por muito que os Estados Unidos sejam um parceiro privilegiado do país. O primeiro-ministro português condenou “qualquer intervenção, propósito ou intenção de haver uma limpeza étnica” na Faixa de Gaza, segundo avança a Lusa. Mas rejeitou retirar “conclusões precipitadas” das declarações do Presidente dos Estados Unidos da América. O chefe do executivo respondia à coordenadora do BE, Mariana Mortágua, no debate quinzenal no parlamento, que interrogou Luís Montenegro sobre o plano de Trump para a Faixa de Gaza. Mariana Mortágua quis saber se o primeiro-ministro concordava com o ministro da Defesa, Nuno Melo, que afirmou que “não lhe compete comentar” política interna norte-americana, acrescentando que estavam em causa “singularidades da política norte-americana que por estes dias vai sendo, a esse propósito, muito rica e animando noticiários”. Não deveria ser Nuno Melo a comentar – mesmo que as declarações de Trump não fossem de política interna, mas externa. Montenegro respondeu que a posição do Governo português sobre esta matéria “foi sempre muito clara” e que o executivo mantém a defesa da solução dos dois estados, o de Israel e o da Palestina.

Entretanto, e novamente segundo a imprensa israelita, um dia depois de Donald Trump interromper o envolvimento dos Estados Unidos no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, Israel fará o mesmo, anuncia o ministro israelita das Relações Exteriores, Gideon Sa’ar. “Israel junta-se aos Estados Unidos e não participará do CDH da ONU”, escreveu Sa’ar. “O CDH da ONU protege tradicionalmente os violadores dos direitos humanos, permitindo que eles se escondam do escrutínio e, em vez disso, demoniza obsessivamente a única democracia no Oriente Médio — Israel”, acusou. “Este órgão concentrou-se em atacar um país democrático e propagar o antissemitismo, em vez de promover os direitos humanos. Israel não aceitará mais essa discriminação!”, declarou Sa’ar.

Esta quarta-feira, Trump regressou à narrativa que já usara durante sua passagem pela Casa Branca, segundo a qual a ONU, liderada pelo português António Guterres, não é uma organização que mereça confiança – tendo voltado a colocar a hipótese de reduzir seu nível de financiamento. Desde há meses, recorde-se, que António Guterres é ‘persona non grata’ em Israel.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reuniu-se esta quarta-feira com o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, e com o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, em Washington, e tinha ainda um encontro marcado com o secretário de Defesa, Pete Hegseth, no Pentágono.

 

 

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