[weglot_switcher]

Israel: primeiras três reféns já voltaram a casa

Três mulheres, uma delas britânica, foram libertadas – com um atraso de três horas que se revelaria fatal para 13 palestinianos, mortos pelo fogo israelita, que se manteve ativo até ao último momento.
epaselect epa11837257 People gather to watch the military helicopter carrying three Israeli female hostages, Romi Gonen, Emily Damari and Doron Steinbrecher land at Sheba Medical Center in Ramat Gan, Israel, 19 January 2025. The three Israeli female hostages, Romi Gonen, Emily Damari and Doron Steinbrecher received medical treatment after crossing into Israeli territory and met with their families at Sheba Medical Center where they will continue their medical rehabilitation. Israel and Hamas agreed on a hostage release deal and a Gaza ceasefire to be implemented on 19 January 2025. EPA/ABIR SULTAN
20 Janeiro 2025, 07h00

Romi Gonen, Doron Steinbrecher e Emily Damari. São estes os nomes das três primeiras reféns em poder do Hamas libertadas este domingo – num processo apinhado de burocracias e incógnitas sobre quem fará parte do grupo de cerca de três dezenas que serão libertados nas próximas semanas. Com os três reféns que chegaram a Israel chega também a esperança de que o fim da guerra na Palestina possa ser uma realidade não necessariamente distante. Terá sido por certo essa esperança que levou milhares de palestinianos a saírem às ruas para comemorar e regresso aos escombros das suas casas bombardeadas ao longo dos últimos meses pelo exército israelita, na sequência do acordo de cessar-fogo que interrompeu os combates em Gaza.

Combatentes armados do Hamas atravessaram a cidade de Khan Younis, no sul, relatam vários jornais, que encontraram multidões aplaudindo e cantando. No norte do território, bombardeado, os palestinianos abriram caminho entre pedras amontoadas metal retorcido e a memória do que era uma vida (mais ou menos) normal, desfeita a partir da operação de terror levada a cabo a 7 de outubro de 2023 pelo Hamas.

Em Telavive, capital de Israel, centenas de israelitas apinharam-se junto ao quartel-general das Forças de Defesa para assistirem à libertação dos reféns em uma tela gigante que permitiu acompanhar em direto toda a operação. A multidão aplaudiu quanto as três reféns foram avistadas a sair de um veículo em Gaza, cercadas por homens armados do Hamas. As reféns entraram de seguida em veículos do Comité Internacional da Cruz Vermelha, que as levaram para Israel. Mais tarde, foi oficialmente dito que todas estavam de boa saúde. Ao mesmo tempo, na Cisjordânia, autocarros aguardavam a libertação de prisioneiros palestinianos detidos em Israel – entre eles 69 mulheres e 21 adolescentes.

A primeira fase do cessar-fogo entrou em vigor após um atraso de três horas, durante o qual aviões de guerra e artilharia israelita bombardearam a Faixa de Gaza. Um ataque de última hora matou 13 pessoas – que por instantes não puderam assistir às diversas manifestações de alegria que se seguiriam. A trégua exige o fim dos combates, o envio de ajuda para Gaza e a libertação de 33 dos 98 reféns israelitas e estrangeiros ainda mantidos durante a primeira fase de seis semanas em troca de centenas de prisioneiros palestinos mantidos em prisões israelitas.

“Hoje as armas em Gaza silenciaram”, disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que comemorou o seu último dia completo no cargo aplaudindo uma trégua que demorou mais de um ano a ser conseguida, demonstrando inesperadas dificuldades por parte de diplomacia norte-americana.

O acordo de cessar-fogo ocorre após meses de negociações intermitentes mediadas pelo Egipto, Qatar e Estados Unidos, e entra em vigor na véspera da posse do presidente eleito Donald Trump , que disse que haveria “um inferno a pagar” a menos que os reféns fossem libertados antes de assumir o cargo. Não há um plano detalhado em andamento para governar Gaza após a guerra, muito menos para reconstruí-la. Qualquer regresso do Hamas ao controlo de Gaza testará o comprometimento com o cessar-fogo aceire (com grande dificuldade) por Israel – que disse que retomará a guerra se o Hamas assumir o controlo do enclave.

O ministro da Segurança Nacional, o extremista Ben-Gvir, deixou o gabinete este domingo exatamente por causa do acordo de cessar-fogo, embora o seu partido tenha dito que não tentaria derrubar o governo de Benjamin Netanyahu. O outro extremista no governo, o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, decidiu permaneceu, para já, no gabinete, mas disse que deixaria o cargo se a guerra terminasse sem o Hamas estar completamente destruído.

O conselheiro de Segurança Nacional designado por Trump, Mike Waltz, disse que se o Hamas não cumprir o acordo, os Estados Unidos apoiarão Israel “naquilo que tiver de fazer. O Hamas nunca governará Gaza. Isso é completamente inaceitável”, afirmou.

“A libertação de três reféns é uma notícia maravilhosa e há muito esperada após meses de agonia para eles e para as suas famílias. Entre eles está a cidadã britânica Emily Damari, que agora se reunirá com a sua família, incluindo a sua mãe Amanda, que nunca desistiu da sua luta incansável para trazer a filha para casa”, disse o primeiro-ministro britânico Keir Starmer. “No entanto, hoje é mais um dia de sofrimento para aqueles que ainda não voltaram para casa. Embora o acordo de cessar-fogo seja bem-vindo, não devemos esquecer-nos daqueles que permanecem em cativeiro pelo Hamas”. “Agora precisamos de ver as fases restantes do acordo de cessar-fogo implementadas integralmente e conforme o cronograma, incluindo a libertação dos reféns restantes e um aumento da ajuda humanitária em Gaza”, disse ainda Keir Starmer.

A guerra entre Israel e o Hamas começou depois de o grupo radical invadir cidades e vilas israelitas em 7 de outubro de 2023, matando 1.200 pessoas e capturando cerca de 250 reféns. Mais de 47 mil palestinos foram mortos desde então em ataques israelitas que reduziram a Faixa de Gaza a um deserto. Quase toda a população de 2,3 milhões do enclave está sem abrigo. Cerca de 400 soldados israelitas também morreram durante os 15 meses de combate – que alastraram para o Líbano, Irão, Iémen e Síria.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.