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Israel promete forte retaliação depois do ataque houthi

Foi a primeira vez que um míssil disparado do Iémen atingiu o solo israelita – o que levou a Arábia Saudita a acusar o Irão de estar a transferir armamento de ponta para os seus amigos rebeldes no país da Península Arábica.
Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu speaks during a ceremony to show appreciation to the health sector for their contribution to the fight against the coronavirus disease (COVID-19), in Jerusalem June 6, 2021. REUTERS/Ronen Zvulun
16 Setembro 2024, 07h30

Um míssil disparado pelos rebeldes houthis, um dos lados da guerra civil que graça no Iémen e são apoiados pelo Irão, atingiu Israel pela primeira vez este domingo, quando caiu numa área desabitada, sem causar ferimentos ou mortes, disse uma fonte do exército (IDF). Segundo relatos dos jornais do Estado hebraico, as sirenes de ataque aéreo soaram na capital, Telavive, e em todo o centro de Israel momentos antes de o míssil cair, ainda de madrugada.

Um responsável dos houthis, Nasruddin Amer, disse nas redes sociais que um míssil iemenita atingiu Israel depois de “20 mísseis não terem conseguido intercetá-lo”, e descrevendo o ataque o como o “começo” do que aí vem. Em comunicado divulgado da mesma forma, o grupo xiita disse que daria mais detalhes sobre uma “operação qualitativa que visava a profundidade da entidade sionista”.

Os houthis já tentaram antes – e desde outubro – lançar ataques aéreos sobre Israel, mas é a primeira vez que um engenho consegue chegar ao alvo e explodir em terras israelitas. O mais perto que tinham conseguido chegar foi em março passado, quando um míssil iemenita caiu no mar perto do porto israelita de Eilat, no Mar Vermelho. Mas em julho um drone houthi chegou a Telavive, matando um homem e ferindo outros quatro – o que velou Israel a realizar um grande ataque aéreo contra alvos militares houthis perto do porto de Hodeidah, no Iémen, matando seis pessoas e ferindo 80.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, promete desta vez responder ainda com maior violência. “Esta manhã, os houthis lançaram um míssil do Iémen para o nosso território. Eles já deveriam saber que cobramos um preço alto por qualquer tentativa de prejudicar-nos”, disse. “Aqueles que precisam de um lembrete sobre este assunto estão convidados a visitar o porto de Hodeidah”, acrescentou, referindo-se à cidade do alvo do ataque anterior.

Já depois do ataque, a Arábia Saudita – que apoia os inimigos dos houthis na guerra civil -pede mais pressão sobre o Irão à medida a que a ameaça dos iemenitas cresce: um diplomata diz que ‘os bombardeamentos cirúrgicos feitos pelo Ocidente” são insuficientes para restringir o fornecimento de armas. A alegada aquisição pelos rebeldes houthis de mísseis hipersónicos capazes de penetrar nas defesas aéreas israelitas ameaça aumentar ainda mais a tensão no Médio Oriente.

A Arábia Saudita acredita que o Irão está a armar o grupo, inclusivamente com as armas usadas nos ataques a navios comerciais no Mar Vermelho – que levaram a uma redução do tráfego a metade. Mas na capital houthi, Sanaa (controlada desde 2014), o grupo disse que a tecnologia do míssil foi criada pelo trabalho de técnicos iemenitas – o que não vai convencer ninguém, mesmo que seja verdade, o que é altamente improvável.

O Irão tem sido repetidamente acusado, inclusivamente pela ONU, de fornecer armas aos houthis – inicialmente para uso na luta contra o governo do Iémen, com sede em Aden. Mas apesar do apoio saudita, o certo é que o grupo rebelde nunca foi vencido. Existe um cessar-fogo, mas o enviado especial da ONU para o país, Hans Grundberg, disse ao Conselho de Segurança da organização que a ameaça de um retorno à guerra civil total permanece muito forte.

Por seu lado, Turki al-Faisal, ex-chefe da ‘secreta’ saudita e diplomata, expressou a deceção do reino árabe com a forma como o Irão tem ajudado os houthis. Falando na Chatham House, em Londres, na passada sexta-feira, ele pediu mais ações internacionais para bloquear essa assistência e disse que os bombardeamentos navais dos Estados Unidos e do Reino Unido a partir do Mar Vermelho precisavam de ser mais eficazes. Faisal afirmou que, ao continuar a interferir em Estados árabes como o Líbano, Síria, Iraque e Iémen (a pequena geografia xiita), Teerão não cumpriu a sua parte do acordo diplomático firmado entre o Irão e a Arábia Saudita há cerca de dois anos – naquele que era então um dos maiores e mais inesperados sucessos da diplomacia chinesa.

Mesmo assim, há que recordar que a Arábia Saudita não se juntou aos ataques militares contra os houthis, uma vez que, afirma, está à procura de encontrar uma rota diplomática para apoiar a formação de um governo nacional no Iémen.

Segundo os jornais, o comandante da 5ª Frota dos Estados Unidos, com sede no Médio Oriente, o almirante George Wikoff, disse que os bombardeamentos esporádicos de norte-americanos e britânicos às posições houthis ao longo da costa do Iémen ainda não levaram ao regresso dos navios comerciais. A opção pela rota que circunda a África do Sul encarece a viagem em pelo menos um milhão de dólares em combustível.

Entretanto, uma sondagem realizada no final da semana passada adianta que o Likud, do primeiro-ministro Netanyahu, teria uma forte votação se as eleições se dessem neste momento. Segundo o estudo, o Likud poderia chegar aos 32 lugares no parlamento, bem mais que os 24 que tem atualmente. O Partido da Unidade Nacional, liderado por  Benny Gantz , ficar-se-ia pelos 21 parlamentares. De qualquer modo, num parlamento muito pulverizado, a coligação de partidos de extrema-direita e de ultraortodoxos que apoio Netanyahu não iria além, juntamente com o Likud, dos 53 lugares (o Knesset tem 120 cadeiras). O bloco da oposição teria 58. Dos partidos que apoiam Netanyahu, os que apresentam pior desempenho na sondagem são o Poder Judaico, liderado pelo ministro da Segurança, Ben-Gvir, e o Sionismo Religioso, do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich.

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