O governo Italiano apresentou recentemente as suas expetativas económicas e projeções fiscais para o próximo ano, que incluem uma revisão em alta dos objetivos de consolidação orçamental para o triénio 2019-2021 de 2,4% (6,6 pontos acima do anterior). A decisão unilateral por parte do governo transalpino – onde existe um apoio maioritário de partidos eurocéticos – traz ao de cima algumas preocupações para os investidores, que têm vindo a ser reflectidas nos mercados financeiros com subidas dos prémios de risco e acentuadas correções nos índices acionistas europeus.

À frente das preocupações encontra-se o receio da deterioração das relações entre a Itália e a Comissão Europeia (CE), e o facto de essa deterioração poder desencadear nova crise sistémica na Europa, sobretudo se o debate em torno de uma saída do país da União Europeia (UE) voltar a surgir na agenda política, como consequência de um braço de ferro entre Roma e Bruxelas. De facto, é pouco provável que a CE se coíba de questionar esta decisão, não só por questões técnicas como também por questões políticas.

Por um lado, é complicado perceber a compatibilidade desta revisão com os critérios de ajustamento de défices excessivos do pacto de estabilidade e crescimento da UE – ainda no ano passado o país comprometeu-se com um ajustamento de 1,1% durante os próximos três anos, que inclui um excedente orçamental para 2021. Acresce que este objetivo do défice assenta em previsões para o crescimento económico que podem ser consideradas bastante otimistas (1,5% para 2019, face a valores de consenso dos analistas que apontam para médias entre 1% e 1,2%), e exigir necessidades de financiamento muito mais elevadas que o inicialmente previsto em mercado.

Com a pré-anunciada retirada do programa de estímulos (QE) do Banco Central Europeu, esta situação pode gerar uma reapreciação do nível de risco das emissões de dívida soberana italiana, que espolete revisões em baixa da notação de rating de risco por parte das agências internacionais, com os devidos impactos sobre os restantes países da zona euro e, sobretudo, dos países da periferia. Isto significa que ou a CE utiliza este argumento para tornar os critérios de ajustamento mais flexíveis – o que parece ser difícil de pôr em prática nesta altura –, ou teremos uma série de tomadas de posição por parte da Comissão durante os próximos tempos.

Por fim, a somar a isto, existe ainda, como sempre no euro, a agenda política – cuja influência é decisiva e corrobora o cenário de inflexibilidade por parte da CE. No próximo ano teremos eleições para o Parlamento Europeu e dificilmente haverá margem política para mais concessões que possam pôr em causa a já fragilizada posição em prol de uma maior integração da zona euro, em particular no caso de governos com uma agenda claramente protecionista.

Dito isto, adivinha-se um período que será marcado por maior volatilidade para os investidores, uma vez que o diálogo não se afigura fácil. Esta “pasta italiana” populista, está por isso “al dente”. No final do mês de outubro, agências de rating como a Moody’s irão pronunciar-se e isso poderá reacender velhos fantasmas, da mesma forma que a divulgação de maiores detalhes sobre o plano orçamental durante este mês não deixarão de representar verdadeiros testes aos mercados europeus.