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Ivanka Trump na ONU? O ‘The New York Times’ acha que sim

A possibilidade foi desmentida pela Casa Branca, mas o jornal norte-americano acredita que, a prazo, e a ver pelas qualidades da filha de Donald Trump, isso pode perfeitamente vir a suceder.
29 Novembro 2017, 07h10

Socialite, gestora do setor imobiliário, ex-modelo, criadora de joias, roupa, sapatos e acessórios e finalmente filha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ivanka Trump tem um perfil que a aproxima de outras embaixadoras da ONU, pouco ficando a dever, pelos menos em termos de currículo, à atriz Nicole Kidman ou à cantora Annie Lennox.

Mas a questão não é essa: o jornal ‘The New York Times’ avançou que Ivanka Trump pode ser escolhida pela Casa Branca – ocupada pelo pai – não para cumprir a função de embaixadora da boa vontade, por onde têm passado muitos nomes famosos das artes e dos espetáculos, mas para assumir o cargo de representante permanente dos Estados Unidos junto da ONU.

Apesar do desmentido da Casa Branca, o jornal achou a história suficientemente verosímil para a publicar, num cenário em que a atual representante permanente dos EUA junto das Nações Unidas, Nikki Haley, venha a substituir o secretário de Estado Rex W. Tillerson, que aparentemente está de saída do elenco do executivo norte-americano.

É muito comum – mas não entre os principais países daquela organização supranacional – que familiares de presidentes, primeiros-ministros ou monarcas sejam designados para trabalharem nas Nações Unidas: o serviço dá-lhes prestígio pessoal e coloca-os fora dos radares internos quando surge algum problema.

Ivanka tem um problema: para o ‘The New York Times, a filha do presidente e o seu marido, Jared Kushner, perderam influência na Casa Branca, onde, por isso, deixaram de se sentir confortáveis. Mas a ONU pode não ser apenas uma espécie de fuga para a frente: perante as dificuldades mais que evidentes de manter a hegemonia do seu círculo mais restrito – para onde entraram e de onde saíram dezenas de nomes durante o primeiro ano de presidência – o recurso a Ivanka pode ser um trunfo precioso para Donald.

A agenda norte-americana relativa à ONU é, no mínimo, complexa: as sanções contra a Coreia do Norte, o futuro do acordo nuclear iraniano, o caso da Venezuela, a saída do Acordo de Paris, os problemas com a China e o envolvimento no Médio Oriente são alguns dos temas que colocam os Estados Unidos no olho do furacão. Ter na ONU alguém de absoluta confiança é, para Donald Trump, uma condição obrigatória – já as qualidades diplomáticas são um mero acrescento não absolutamente necessário: quando Nikki Haley foi escolhida para essa função, era governadora da Carolina do Sul e não tinha qualquer experiência real em política externa, nunca tendo até então proferido nada de notável sobre esses assuntos.

Haley, recorda o ‘The New York Times’, nada tinha a ver em termos de currículo com as anteriores escolhas de Barack Obama: Susan Rice e Samantha Power eram duas especialistas de longa data na organização, capazes de enfrentar qualquer questão ou qualquer chinês ou russo no Conselho de Segurança.

Haley nem por isso, Ivanka com certeza que não, mas a filha do presidente tem outras ‘skills’ que a podem colocar num plano invejável. Desde logo, como afirma o jornal norte-americano, é muito diferente um diplomata russo, chinês ou qualquer outro (talvez com a exceção dos representantes da Coreia do Norte) ser violento com alguém que representa os Estados Unidos ou com alguém que é filha do próprio presidente. Uma espécie de autocensura que só poderia correr a favor de Trump, pai: um desentendimento entre qualquer outro país e os Estados Unidos iria transformar-se uma afronta pessoal.

A proximidade entre o representante dos Estados Unidos na UNO e a presidência do país é um elo que pesa muito nas Nações Unidas e nos seus intricados corredores diplomáticos. Foi assim com Heley, mas também com Susan Rice e Samantha Power – ambas com um acesso muito fácil a Obama. Por maioria de razão, Ivanka cumpre esta obrigação não-escrita.

Mas há mais: a filha do presidente já mostrou alguma aptidão para a diplomacia multilateral, onde se incluem um relacionamento com o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, para a criação de um fundo especial para as mulheres, e uma conversa sobre igualdade de género com o secretário-geral da ONU, António Guterres. Isto para não se falar das ‘skills’ necessárias em termos sociais – importantes na ONU e matéria onde Ivanka é ‘diplomada’ com distinção.

Contra ela está também o facto de ser… filha do presidente: ao Congresso dos Estados Unidos, onde Donald Trump tem averbado um número assinalável de dissabores, por certo não agradaria muito a ideia. Mas isso será possivelmente para já: mesmo que venha a demorar algum tempo, o ‘The New York Times’ acredita que Ivanca na ONU é, a prazo, um cenário perfeitamente possível – assim que os que não o apoiem se habituem à ideia.

 

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