O conflito entre a Jerónimo Martins, proprietária da cadeia de supermercados Biedronka, e a empresa Zakłady Mięsne Henryk Kania tornou-se tema de destaque no setor empresarial polaco. Segundo o gestor polaco Henryk Kania, a política comercial da companhia portuguesa terá contribuído para as dificuldades financeiras que levaram à falência da sua fábrica de processamento de carne.
A queixa de Henryk Kania ao Ministério Público assenta na acusação de que os supermercados polacos da Jerónimo Martins realizaram práticas comerciais desleais. “O modelo de negócio agressivo da Jerónimo Martins consiste em explorar os produtores e fornecedores” refere Henryk Kania que diz que a Biedronka levou à falência “uma empresa familiar construída ao longo de duas gerações, fundada pelo meu pai”.
“Quando iniciámos a nossa colaboração com a Jerónimo Martins, um grupo com raízes familiares semelhantes às nossas, que nos inspirava confiança, acreditámos na criação de benefícios mútuos. Estávamos convencidos de que, graças à cooperação com a rede de lojas Biedronka, pertencente à Jerónimo Martins, poderíamos fornecer aos clientes produtos da mais alta qualidade e, ao mesmo tempo, garantir rendimentos estáveis e uma vida digna aos criadores, agricultores, pequenos produtores e outros fornecedores das nossas fábricas”, afirmou numa carta aberta enviada às redações.
Henryk Kania acrescenta que reorganizou a produção, contraiu empréstimos e fez investimentos para satisfazer as expetativas do novo parceiro. “Três quartos dos nossos produtos eram destinados às lojas da Jerónimo Martins. Concordámos em estabelecer uma parceria exclusiva, renunciando à cooperação com outras redes. Não imaginávamos a artimanha que se escondia por trás disso”, conta. E questiona: “Recebe e-mails arrogantes dos seus parceiros de negócios com mensagens do tipo «acabem com esses joguinhos» e ameaças de rescisão de contratos se não ceder à chantagem? Nós recebíamos isso da Jerónimo Martins. Alguma vez alguém lhe comunicou que pagaria apenas uma parte do montante acordado porque era mais forte do que você? Para nós, isso era o quotidiano na colaboração com a Jerónimo Martins”.
Henryk Kania explicou também que quando as vendas excediam as previsões, sofria taxas adicionais, “não acordadas em nenhum contrato”, que chegavam a atingir até 30% do valor do volume de negócios. “Mesmo uma empresa tão grande como a sua seria capaz de continuar a funcionar se, sem aviso prévio, recebesse quase um terço menos do que o estabelecido no contrato?”, interroga na carta aberta enviada às redações.
Sob a ameaça de romper a cooperação, o empresário diz ainda que foi obrigado “a arcar com os custos de marketing e programas de fidelidade”. “Dirijo-me hoje a si porque já posso fazê-lo. Perdi a minha empresa familiar em consequência da cooperação com o seu grupo empresarial. Já não estou paralisado pelo medo, como outros fornecedores, de que se falou numa recente reunião da comissão do parlamento polaco com a participação do ministro da Agricultura. Um representante da Autoridade da Concorrência e da Defesa do Consumidor polaca alertou no parlamento que, apesar das sanções impostas à Jerónimo Martins, as práticas desleais continuam a ser utilizadas no mercado. Estas consistem em impor aos fornecedores taxas não acordadas previamente, baixar os preços abaixo dos custos de produção, cobrar tributo por aumentar o volume de negócios e financiar serviços de marketing fictícios”.
Posição da Jerónimo Martins
Em resposta, a empresa portuguesa considera a carta “repugnante”. “Consideramos esta carta repugnante, escrita por uma pessoa que tem medo de enfrentar acusações criminais graves no seu país, incluindo lavagem de dinheiro, participação num grupo de crime organizado e atos graves em detrimento da sua empresa, e que há anos evita o sistema judicial polaco. Iremos imediatamente tomar medidas legais para proteger a nossa empresa, bem como o bom nome do seu proprietário, equipa de gestão, colaboradores e fornecedores. Acreditamos firmemente que o Sr. Kania deve ser responsabilizado pelas suas atividades em tribunal polaco, incluindo difamação nesta carta. Vale a pena destacar que o Tribunal Comercial Distrital de Poznań já decidiu que a relação comercial entre as companhias Biedronka e ZM Henryk Kania estava em total conformidade com a lei polaca. E é assim que estruturamos a nossa cooperação com todos os fornecedores da Biedronka, com base em acordos mútuos e favorecendo relações de longo prazo”, diz fonte oficial da empresa.
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