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“Já não há dinheiro fácil”

Para Amir Djourabtchi, CEO da Credibom, o aumento da procura no crédito ao consumo é um “sinal global de evolução da economia e, sobretudo, da confiança”.
Cristina Bernardo
3 Dezembro 2016, 18h25

Setembro foi o segundo melhor mês do ano para o crédito ao consumo em Portugal, com 121.548 contratos celebrados. Face a agosto, o valor dos contratos de crédito representa um incremento de 4,5% para 513,6 milhões de euros. Em termos homólogos, a subida é de 23,3%. Os dados são do Banco de Portugal, revelando-se ainda que a educação, a saúde, as energias renováveis e a locação financeira de equipamentos, ou seja, o aluguer de equipamentos com opção final de compra, foram as principais finalidades de quem recorreu ao crédito. O Jornal Económico falou com Amir Djourabtchi, CEO da Credibom, sobre as empresas de crédito que, na opinião do responsável, “estão a permitir às pessoas consumir e à economia crescer”.

O foco da atividade da Credibom é o financiamento automóvel e, neste campo, o CEO dá conta de um aumento da procura por carros novos ou usados seminovos – que implicam créditos mais avultados – e do recurso a empréstimos para viagens. Esta procura é, de acordo com Amir Djourabtchi, um “sinal global de evolução da economia e, sobretudo, da confiança”. Destaca, ainda assim, “uma prudência que não existia no passado”.

No rescaldo da crise financeira, “o crédito ao consumo ficou como culpado”, garante o CEO, abstendo-se de analisar a veracidade desta ideia: “O que é importante é que hoje já não há dinheiro fácil. A empresa que o faz vai morrer, o custo do incumprimento vai fazê-la desaparecer. É suicídio.” Porque “não pode haver crescimento que não seja sustentável”, a Credibom mantém a exigência dos critérios de concessão de crédito. “Uma empresa pode facilmente aumentar a atividade concedendo crédito, mas, se as pessoas não têm a capacidade de pagar, o risco aumenta e é insustentável”, defende Djourabtchi.

Graças aos critérios rigorosos, a Credibom conseguiu, entre 2013 e 2016, reduzir para metade a taxa de incumprimento, hoje abaixo dos 5%: “É muito importante verificar, junto do cliente, se este é capaz de pagar, o rendimento que tem, se há outros créditos em curso e qual vai ser o esforço para reembolsar os créditos. Se vemos que o esforço vai ser demasiado, não aceitamos. É um problema futuro, para o cliente e para nós.” Porém, garante o CEO, a concessão de crédito é uma atividade “que não pode ter risco ‘zero’”. Quando ocorrem, mesmo assim, situações de incumprimento, a celeridade do contacto é decisiva: “Quanto mais tempo passa, mais difícil é pagar. É muito importante entrar em contacto rapidamente, perceber quais são os motivos e que tipo de plano pode definir-se.”

Sobre os limites às taxas de juro, Amir Djourabtchi destaca a sua importância e refere que “ter um limite e controlar o mercado é saudável”. Embora à primeira vista possa “dizer-se que quanto mais elevada a taxa, maior é a rentabilidade”, uma análise mais “cuidada” permite outro entendimento: “Uma taxa muito elevada pode atrair clientes de menor qualidade. O ‘cliente bom’ não quer pagar muito.”

O grupo Crédit Agricole, ao qual pertence a Credibom, tem divisões de crédito ao consumo em França, Itália, Holanda e Alemanha. Trata-se de países de grande dimensão com os quais Portugal não pode competir em termos de valor. Na quota de mercado, contudo, a Credibom ultrapassa as congéneres alemã e italiana. No que concerne ao crédito automóvel, Portugal lidera o grupo. A quota de 17% no mercado português de crédito automóvel – que ascende aos 28% nos usados – permitiu à Credibom estabelecer-se como a referência no grupo, até para mercados de grande dimensão, como o chinês ou o francês.

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