Já era estratégico antes da pandemia e agora viu reforçada a sua importância para o país. O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) tem sido, em Portugal, um fator crucial para o crescimento do produto, o reforço da competitividade, a criação de emprego, o equilíbrio externo, a valorização humana… Merece, por isso, uma especial atenção numa altura em que o nosso tecido empresarial está descapitalizado e sobreendividado, ao mesmo tempo que o país se prepara para enfrentar uma grave crise socioeconómica.
Importa lembrar que, no pós-25 de Abril, o IDE teve um papel fundamental na dinamização do tecido industrial e na absorção de capital humano, minorando assim os efeitos da crise económica dos anos 80. Na década seguinte, Portugal teve de abandonar um modelo de competitividade assente em baixos salários e baixa qualidade, o que provocou uma queda do IDE. Ainda assim, foi nos anos 90 que nasceu a Autoeuropa, o maior investimento estrangeiro de sempre entre nós.
Com a viragem do milénio e até aos dias de hoje, os fluxos de IDE sofreram grandes variações. Mas é de assinalar que, após a crise económico-financeira de 2008-09, o investimento estrangeiro nos sectores do turismo e do imobiliário revelou-se decisivo para a retoma do país.
De resto, havia boas perspetivas para o IDE até à pandemia. Em 2019, o investimento contratualizado pela AICEP bateu todos os recordes: maior volume de contratos (quase 80), maior valor de investimento (superou os mil milhões de euros) e maior número de empregos criados (cerca de 7.000). Portugal estava de facto a atrair IDE, com base em fatores como a qualidade de vida, a estabilidade social, o talento disponível, a rede de telecomunicações, as potencialidades turísticas e o ecossistema empreendedor e de inovação.
É preciso, agora, não só retomar como intensificar o esforço nacional de atração de IDE. À semelhança do passado, o investimento estrangeiro pode ser um precioso contrapeso à contração da atividade económica e uma almofada para a crise social que aí vem. Tanto mais que, perante a necessidade de “europeização” das cadeias de valor, boas oportunidades se abrem para Portugal de captação de empresas da União Europeia (UE) que decidam deslocalizar a sua produção dos países asiáticos.
A pandemia veio expor a dependência da UE em relação às cadeias de valor globais, muitas delas concentradas na China. Daí que haja hoje uma agenda para a reindustrialização da Europa, objetivo que também passa pelo regresso ao “velho continente” de unidades produtivas que foram deslocalizadas para a Ásia. Não se trata, como é natural, de um processo de curto prazo, mas parece ser uma tendência inexorável à medida que cresce a rivalidade económica e geopolítica entre a Europa e a China.
Neste cenário, Portugal deve posicionar-se como um destino seguro e confiável para o investimento. Para tanto, tem de melhorar o seu ambiente de negócios e apostar na qualificação humana.
A atração de investimento vai depender muito da nossa capacidade para tornar mais competitivo o quadro fiscal, reduzir a burocracia, acelerar os licenciamentos, acabar com a morosidade da justiça, modernizar as infraestruturas de transporte e aumentar a produtividade, por exemplo. Por outro lado, há ainda grande margem para progredirmos na formação de talento, na qualificação do trabalho, na produção de inovação, nas relações empresas/academia e na investigação aplicada.
A competição global por capital e talento vai estar ao rubro. Logo, só uma estratégia inteligente pode trazer para Portugal investimento que seja verdadeiramente game-changer.