Doente há já algum tempo, o advogado João Araújo irrompeu vida mediática dentro desde o momento em que se tornou advogado do antigo primeiro-ministro José Sócrates e fê-lo de uma forma que muitos viram como uma intenção clara de lançar uma nuvem de fumo que encobrisse o andamento dos processos que o seu constituinte tinha pendentes na Justiça.
Fora do circuito tradicional das grandes figuras da advocacia nacional – aquele grupo restrito que invariavelmente surge por trás dos nomes sonantes que têm problemas com a Justiça como se fossem, e são, verdadeiros guarda-costas – João Araújo cedo se assumiu como alguém que, jocosamente a maior parte das vezes, com graça amiúdes vezes e calcando a linha vermelha da elevação profissional umas quantas vezes, tinha por função defender a figura de José Sócrates.
E, dizem os seus críticos, foi isso mesmo que fez: para além das questões técnicas do direito, João Araújo conseguiu em larga medida manter José Sócrates por trás de uma cortina de boutades e piadas, que terão servido de forma eficaz para manter o processo no campo da espuma dos dias. De alguma forma, dizem os analistas, um dos sentidos da defesa protagonizada por João Araújo foi retirar Sócrates da primeira linha da exposição mediática, transformando a idas e vindas aos tribunais em momentos televisivos que pouco ou nada tinham a ver com a matéria em debate no interior das salas de audiência.
Detetando isso, a própria Ordem dos Advogados viu-se obrigada a intervir: o Conselho de Deontologia de Lisboa decidiu, em março de 2015, abrir um processo de inquérito a João Araújo sobre “todas as recentes intervenções e comportamentos públicos de advogados”, lia-se num comunicado da época. “Apurar o contexto e as circunstâncias em que os mesmos ocorreram, tendo como desiderato final saber se as declarações e comportamentos se inserem no quadro legal que as permite ou se, pelo contrário, extravasam esse quadro e constituem, ´ipso facto´, matéria para competente processo disciplinar”. Pouco incomodado com o assunto, João Araújo seguiu em frente.
Chegou a Portugal com 18 anos vindo de Angola, onde nasceu, mas a sua ascendência é indiana (oriunda de uma das castas mais respeitadas do país, os brâmanes cristãos) bem a tempo de ver de perto o 25 de abril de 1974, numa altura em que já se tinha afastado do PCP para se aproximar do MRPP – o grupo maoista onde estavam todos os ‘duros’ anti-regime.
A sua primeira aparição mediática deu-se com o julgamento das FP 25 de Abril, no âmbito do qual defendeu três dos inúmeros réus que se sentaram no banco dos tribunais. Foi nessa altura que ‘inaugurou’ a sua postura desconcertante – mas em que os amigos não acredita. Ou antes, acreditam, mas sabem que é uma postura pensada e com uma finalidade bem estudada. Talvez tenha a ver com a sua forma de ser, alvitram, mas não há naquilo que a Ordem dos Advogados quis investigar qualquer postura inconsequente.
Considerado um solitário, João Araújo nunca quis deixar de ter uma postura hedonista que, era o primeiro a sabê-lo, que tirava anos de vida. Mas não foi por isso que deixou de manter essa opção de vida. Até hoje.
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