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João Manso Neto: “Nunca devemos entrar numa zona de protecionismo contra a China”

O CEO da Greenvolt defendeu esta terça-feira na conferência de aniversário do Jornal Económico que a Europa deve ser independente dos Estados Unidos no que respeita a China. Criticou a decisão de Donald Trump de revogar licenças a projetos eólicos offshore.
23 Setembro 2025, 13h41

João Manso Neto considera um retrocesso a decisão de Donald Trump de impedir o desenvolvimento das eólicas offshore, mas consegue ver sinais positivos aí, em forma de oportunidades para a Europa e para a empresa que lidera, a Greenvolt. O que realmente lhe tira o sono é a possibilidade de a Europa entrar em rota de colisão com a China.

“Preocupa-me que a Europa ponha em questão o seu paradigma do livre comércio”, afirmou, na conferência “9 Chaves para a Europa”, promovida pelo Jornal Económico, esta terça-feira, escola de negócios AESE, em Lisboa.

Entrevistado pelo jornalista do JE, André Cabrita Mendes sobre a revolução energética europeia, chave sete da conferência, o gestor justificou: “Se a Europa começar com ideias de entrar numa guerra comercial com a China que afete as áreas onde a China é, de facto, o campeão, não por trabalho forçado, mas por tecnologia, caso da indústria solar – componentes de painéis solares e baterias – pode ser um grande problema”.

Primeiro, porque, explicou, “não há oferta na Europa nesse campo e, se houver, é altamente subsidiada para sempre”, e em segundo lugar, porque poria em causa o princípio de que a segurança energética tem a grande vantagem de bater todos os itens, nomeadamente o custo. “Isso é verdade sempre e quando o custo das renováveis seja barato. E o custo das renováveis solares só é barato se utilizarmos os produtos chineses”, afirmou. Ponto.

Manso Neto deixou bem claro que a Europa deve ter a sua política e ser independente dos Estados Unidos face à China. “Nunca devemos entrar numa zona de protecionismo contra a China”, afirmou, salientando, pela segunda vez: “Seria um erro crasso se a Europa entrasse numa guerra comercial com a China”.

Olhando para os Estados Unidos, que muito conhece bem – foi, no passado, responsável pela EDP Renováveis que tem interesses poderosos neste mercado -, considerou que a decisão da administração Trump de revogar licenças off shore (notícia da Bloomberg deste mês dá conta de projetos eólicos offshore da Iberdrola, New England Wind 1 e 2, em Massachusetts) é um erro. O offshore nos EUA é condição necessária para aumentar a competitividade da indústria da eletricidade em estados do Leste como Nova Inglaterra e Nova Iorque, referiu.

“Os Estados Unidos estão a fazer mal, a Europa deve seguir e terminar o seu caminho”, afirma. Considera, no entanto, que é, “muitas vezes, nos momentos mais complicados que há oportunidades.

“Hoje vemos oportunidades, pode não ser já amanhã, de fazer pequenas aquisições de parques eólicos em estados democratas em terras privadas em que há bons projetos que  os pequenos developers não têm dinheiro para desenvolver”. Apontou o exemplo do Maine como o de uma porta que se pode abrir.

João Manso Neto começou por explicar que a gestão da energia deve assentar em três pilares: sustentabilidade, custo e segurança. “A invasão russa da Ucrânia veio de alguma forma acentuar ainda mais a importância desta necessidade de segurança, veio só por si criar incentivos para que a transição energética se desse ainda mais rapidamente”, explicou.

A transição energética passa na sua perspetiva por eletrificar mais o consumo, sobretudo áreas como transportes, aquecimento e arrefecimento e pôr o peso das renováveis a ser cada vez maior na produção. Quanto àquilo que se dizia antigamente que “com as renováveis vamos lá”, Manso Neto é perentório: “Sabemos que não é verdade. As renováveis, por definição, têm uma limitação: a intermitência. Há quem diga agora que o que é preciso é juntar as bateria, é verdade”.

E prossegui: “As baterias são muito úteis e facilitam muito esta maior introdução de renováveis, mas chega? – interroga-se, respondendo prontamente: “não”.

“É preciso também que haja potência térmica que esteja na base e que complemente as renováveis. Dentro deste esforço de eletrificação pelas renováveis , é preciso baterias, mas também é preciso potência térmica”, acrescenta.

Em Portugal há o costume de decidir primeiro e estudar depois, disse mais do que uma vez ao longo da entrevista. Houve uma altura em que o que se ouvia é que o gás natural não era preciso, a salvação era o hidrogénio. Também aqui, as águas já acalmaram. Conclusão?  “O gás natural, neste fase, vai continuar a ser importante, cada vez menos em termos de produção, mas muito importante em termos de back up”.

Resumindo as palavras de Manso Neto: mais eletrificação sim, mas o gás natural continua a ser importante para dar solidez ao sistema. Até porque, alternativa ao gás natural só há uma: o nuclear, que tem, como referiu, outros problemas mais complicados.

Em Portugal faz sentido o nuclear fazer parte do mix energético? – questionou André Cabrita Mendes.

“Eu tenho as minhas dúvidas, mas não há como estudar. Não se pode entrar numa situação em que se decide primeiro e se estuda depois. Ainda assim, acabou por adiantar: “tenho duvidas, sobretudo se Espanha vier a fechar as centrais nucleares que isto tenha cabimento.

Greenvolt, empresa do portefólio KKR, é um grupo de energia 100% renovável que opera em 20 geografias na Europa, América do Norte e Ásia. Oferece soluções renováveis em três segmentos de atividade: Biomassa Sustentável – produzindo energia a partir de resíduos florestais e resíduos urbanos lenhosos em sete centrais em Portugal e no Reino Unido; Utility-Scale – desenvolvendo projetos eólicos, solares fotovoltaicos e storage de grande dimensão em vários mercados europeus, nos EUA e Japão, com um pipeline total de 13.2 GW; Geração Distribuída – apostando em soluções B2B para instalação, manutenção e financiamento de projetos de energia solar fotovoltaica para autoconsumo individual e coletivo, bem como mobilidade elétrica, LED, rooftopscarports, baterias, em várias geografias da Europa e Indonésia.

A conferência do Jornal Económico lança as bases das celebrações  dos 40 anos da assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE, que se comemora a 1 de janeiro de 2026.

 

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