Ainda o Muro de Berlim se estendia pelos 155Km que dividiam o mundo e a humanidade em dois blocos e, a Europa, então mais próxima dos traumas da guerra e, porventura, da dimensão simbólica que a actividade humana sempre comporta, tomou a iniciativa de promover os Jogos sem Fronteiras.

A Europa dos anos 60 e 70 sabia como era importante que as relações humanas se sobrepusessem às, quantas vezes pouco naturais, fronteiras políticas.

Uma década após a queda do Muro, os Jogos terminaram.

Para os leitores que consideravam os Jogos sem Fronteiras mais um programa televisivo de entretenimento, a leitura deste artigo pode terminar por aqui.

Três décadas após a queda do Muro, os muros voltaram!

Desde a queda do muro de Berlim, há 32 anos, ergueram-se na Europa mais de 1000Km de barreiras físicas- seis vezes a dimensão do Muro de Berlim.

Há 71 anos, a fundadora Declaração Schuman referia: A contribuição que uma Europa organizada e viva pode dar à civilização é indispensável para a manutenção de relações pacíficas.

Há um mês o Presidente do Conselho Europeu considerou ser possível que o orçamento da UE financie a construção de muros nas fronteiras com o objectivo de impedir novas rotas migratórias.

Este é o caminho de quem não tem caminho. Esta é a solução de quem não tem soluções.

A dimensão securitária não pode sobrepor-se à dimensão política.

Sabemos que o mundo de hoje não é o mundo de há 70 anos, mas talvez nos faça bem imaginar o que teria representado um muro de 623km entre o Golfo da Biscaia e o Golfo de Leão.

A Europa destes muros é a mesma que se indignou com os muros de Donald Trump na fronteira dos EUA com o México (128km). O respeito pelos Direitos Humanos não tem, não pode ter, cambiantes geográficos. O que os distingue e o que enobrece os seus defensores é a sua dimensão Universal.

Certamente que os muros europeus evidenciam gravíssimos dramas humanos, mas o que verdadeiramente eles revelam é o confronto de sempre entre a liberdade e a opressão, entre a luz e as trevas, entre a dignidade da pessoa humana e a sua redução à condição de servos.

E a Europa das Luzes, da afirmação universal dos Direitos Humanos, da abolição da escravatura, da abolição da pena de morte, o que faz? Envolve-se numa discussão jurídica, sem sentido e, sobretudo, sem alma, sobre quem paga os muros …

Ou a Europa volta à política ou a sua existência, enquanto farol civilizacional da dignidade da pessoa humana, se extinguirá inexoravelmente, para opróbrio de todos nós, especialmente daqueles que, por força das suas convicções, assumiram o compromisso expresso de a defender.

Quo Vadis Europa?