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Jorge Jesus: A nova vida na Arábia Saudita

As primeiras palavras que o treinador português do Al-Hilal aprendeu a dizer em árabe foram ‘kora’ (bola) e ‘ma’an’(água). Conheça o dia a dia de Jesus em Riade.
5 Agosto 2018, 12h00

O calor implacável da Arábia Saudita marca o ritmo dos dias de Jorge Jesus em Riade, a capital da Arábia Saudita. As temperaturas nesta altura do ano variam entre os 40 e os 50 graus. Nas primeiras duas semanas de trabalho, o técnico português, de 64 anos, divide o tempo entre o centro de treinos do clube Al-Hilal, o condomínio onde vive e o carro. O treinador encontra-se neste momento na Áustria para realizar o estágio de pré-época, que durará até ao início de agosto.

A metodologia de trabalho está também adaptada aos horários das rezas do jogadores. A primeira acontece por volta das cinco da manhã. Há ainda um tradutor que anda sempre um ou dois metros atrás de Jesus e que tem como função traduzir a parte mais tática do treino. As primeiras palavras que aprendeu a pronunciar em árabe foram kora (bola) e ma’an (água). Em Riade, Jesus está acompanhado de um staff de nove portugueses. No entanto, o ‘contigente’ nacional na Arábia deverá aumentar em breve. O presidente do Al-Hilal, Sami Al-Jaber – considerado o melhor jogador de sempre da Arábia Saudita –, convidou Jesus a escolher uma equipa técnica para a equipa B.

Além do desafio profissional e da parte financeira – Jesus é o treinador mais bem pago de sempre do Reino, com cerca de sete milhões de euros limpos por temporada, um valor já revelado pela imprensa –, a qualidade de vida pesou igualmente na hora de deixar Portugal. “Vive numa espaçosa moradia de um condomínio que é uma espécie de pequena cidade com cinco mil pessoas: tem cinco piscinas, supermercados e todo o tipo de comodidades para o dia a dia”, diz uma fonte próxima ao Jornal Económico.

Recebido em euforia

O primeiro dia de trabalho, no início deste mês, foi passado em ambiente de festa. O português cumprimentou os atletas um a um e, no final, houve um lanche que serviu para estreitar os laços entre a nova equipa técnica e o plantel. Jorge Jesus foi convidado a partir o bolo.

Em termos desportivos, o Al-Hilal é um dos clubes favoritos para conquistar a Liga dos Campeões asiática. O Al-Nassr e o Al-Ahli são os principais rivais a nível doméstico. Os jogos frente a estas equipas costumam levar 60 mil pessoas ao estádio.

Esta quarta-feira, o clube realizou o primeiro jogo de pré-época frente à equipa amadora do Rapid Lienz, da Áustria. A formação saudita venceu os austríacos por 5-0, com destaque para os dois golos de Carlos Eduardo, antigo jogador do FC Porto e Estoril. Os restantes foram marcados por Omar Khrbin, Fahad Al-Reshidi e Gelmin Rivas.

Jesus está ainda a aguardar a chegada dos jogadores internacionais que estiveram a representar a Arábia Saudita no Mundial 2018 e, também, de alguns reforços. O potencial dos futebolistas e o gosto pelo trabalho são caraterísticas que agradam ao técnico. Ao mesmo tempo, a relação com o presidente Sami Al-Jaber “corre às mil maravilhas”, conta fonte próxima do português ao Jornal Económico. Recorde-se que Sami representou o clube durante 20 anos e chegou mesmo a representar o clube inglês Wolverhampton. Participou ainda em quatro campeonatos do Mundo, tal como Pelé ou Maradona, sendo por isso considerado uma lenda do futebol saudita. “Na apresentação que foi feita em Zurique, além do presidente do clube, encontrava-se também o ministro do Desporto do país. Os responsáveis entendem que o método e o conhecimento podem ter um impacto profundo no futebol. Daí a contratação do Jorge estar a ser patrocinada ao mais alto nível pelo Reino da Arábia Saudita”, explica a mesma fonte.

Saudades do peixe português

No dia a dia, Jesus conta ainda com um motorista, porque só dois elementos do staff têm neste momento carta de condução local. O tempo de espera para os restantes técnicos portugueses poderem conduzir deverá rondar os três meses. Para falar com a família e os amigos, o técnico costuma utilizar a aplicação WhatsApp.

Na primeira semana de julho Jesus foi recebido por Luís Ferraz, embaixador de Portugal na Arábia Saudita (foto à esquerda, em baixo). Entregou ao diplomata uma camisola autografada do Al-Hilal e, em troca, recebeu uma bandeira portuguesa.

Na Arábia, o treinador sente a falta de peixe  fresco. Porém, um amigo já conseguiu via Dubai entregar-lhe um bacalhau que acabou por ser cozinhado na Academia do Al-Hilal.

Voltar a sentir o sabor do peixe irá demorar pelo menos seis meses. É que as épocas desportivas “não casam” com o ano civil. Ou seja, para ser considerado não residente fiscal, Jesus terá de passar pelo menos 183 dias fora do país – caso contrário teria que pagar impostos em Portugal, ainda que sujeito ao acordo de dupla tributação entre Portugal e o Reino da Arábia Saudita.

Se há três ou quatro meses nunca pensaria trabalhar na Arábia (e ainda tem mais um ano de opção), Jesus tem um acordo com a administração do Al-Hilal a impedi-lo de ir para países próximos. De quaquer forma, isso não foi problema para as negociações chegarem a bom porto. O objetivo é outro: regressar a Portugal e não fechar a porta a nenhum clube.

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