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Jovens são os mais severamente afetados por uma recessão profunda

Economista considera que as perturbações do mercado de trabalho resultam no principal motor das perdas de bem-estar durante um episódio de recessão, defendendo que o principal foco das políticas públicas seja a redução do desemprego, principalmente o jovem, bem como um aumento do peso da dívida pública para compensar as perdas de bem-estar.
22 Dezembro 2020, 07h40

Os jovens que vivem uma recessão perdem mais do que o dobro do que os outros grupos, devido não só à perda de rendimento, mas também aos efeitos que a crise tem a longo prazo no mercado de trabalho. A conclusão é de um working paper publicado esta segunda-feira pelo Banco Central Europeu (BCE) e que aponta para o efeito que as recessões mais severas têm na desigualdade intergeracional.

“As famílias mais jovens, que se tornam ativas durante uma recessão económica, são as mais severamente atingidas pela recessão. As duas perdas de bem-estar são mais do que o dobro em magnitude do que qualquer outro coorte e esse resultado é impulsionado principalmente pelas perdas permanente de desemprego”, explica o working paper “Losers amongst the losers: the welfare effects of the Great Recession across cohorts”, do economista Alessandro Ferrari.

O economista sustenta que as conclusões do artigo resultam em duas orientações para as políticas públicas: uma vez que as perturbações do mercado de trabalho são o principal motor das perdas de bem-estar durante um episódio de recessão, “qualquer intervenção política deve centrar-se na redução do desemprego, e em particular, no desemprego jovem”; e em segundo lugar, que uma vez que os grupos futuros têm um “pequeno ganho de bem-estar” face ao choque negativo que atinge os agregados em início de vida adulta ideal “é ideal aumentar o peso da dívida [pública] para aliviar as perdas de bem-estar das coortes que estavam vivas durante o episódio recessivo”.

O artigo que toma como exemplo o impacto da Grande Recessão, mas também as dinâmicas de consumo das famílias entre 2007 e 2013 nos Estados Unidos, coloca ênfase nas diferenças de que no início do ciclo de vida, os agregados familiares vivem dos rendimentos do trabalho e têm “riqueza humana”, ou seja, a soma esperada do rendimento futuro do trabalho e que serve de base para pedirem empréstimos e não devem ativos financeiros, enquanto as famílias mais velhas dependem principalmente de ativos financeiros e não têm rendimento do trabalho, nem riqueza humana.

A análise conclui que “os efeitos do desemprego sobre o rendimento do trabalho e especialmente sobre a riqueza humana são os fatores mais importantes para explicar a diferença na perda de bem-estar entre as coortes”, dando como exemplo a Grande Recessão, onde os agregados familiares na faixa dos 20 anos tiveram uma perda de riqueza humana de 25% maior do que a de qualquer outro coorte.

“O segundo efeito é induzido pelo comportamento: a perda de riqueza humana sofrida pelas famílias jovens aumenta o grau de aversão ao risco” explica, realçando que como resultado, investem menos em ativos de risco, ainda que refira que “este fator estará muito ligado à ausência ou não de efeitos de longo prazo do desemprego”.

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