“Os dados de julho evidenciam uma travagem na recuperação das viagens e turismo, o que contribui para um agravamento da crise”, refere a quarta edição do “Caderno de Notas” da EY/Parthenon, sobre “A Crise Económica da Covid-19”, elaborado com a supervisão e direção científica de Augusto Mateus, strategic consultant da EY Portugal. Adicionalmente – adianta – “as regras de distanciamento social, imprescindíveis para a mitigação da pandemia, agravam toda a atividade económica dos serviços com maior densidade de interação social ou no qual a mobilidade desempenha um papel determinante”, alerta.
“Esta crise tem vindo a ser enfrentada com um recurso alargado a formas de suspensão total ou parcial do trabalho, onde o mecanismo do lay-off assumiu o papel central”, comenta esta última edição do “Caderno de Notas”, referindo que, “no caso português, este mecanismo terá alcançado um máximo que se aproximou de um quinto do emprego total e envolveu mais de cem mil empresas”.
A crise económica da Covid-19 – numa análise efetuada ao quinto mês de pandemia – permite identificar três características centrais, designadamente, que “a produção de serviços foi mais afetada do que a produção de bens”, que “os constrangimentos à mobilidade de pessoas e que as restrições no contato social e nas formas de interação física humana penalizam processos de trabalho e de consumo” e que “o lay-off representou um mecanismo importante para defesa do rendimento dos trabalhadores e da liquidez das empresas”, prevendo-se que “o arrastamento da atual situação de convivência entre crise económica e pandemia na saúde pública impactará na subida da taxa de desemprego”, refere a EY/Parthenon.
O documento considera que os “países do sul da Europa são mais afetados do que os do norte e Portugal apresenta uma recessão acima da média da zona euro”, adiantando que a “segunda vaga de Covid-19, no penúltimo trimestre de 2020, poderá empurrar a taxa de desemprego em Portugal para 17,6%”, alerta. O “consumo privado deve convergir mais rápido para os níveis pré-Covid, comparativamente às exportações, importações e investimento”, “Portugal deve apresentar-se mais resiliente do que a Europa na possibilidade de captação de IDE” e a “reindustrialização, o Quadro Financeiro Plurianual e o Instrumento de Recuperação da União Europeia são respostas-chave para a retoma da economia e do emprego”, conclui o trabalho da EY/Parthenon, coordenado por Augusto Mateus.
Face à terceira edição do “Caderno de Notas”, de 23 de junho – e divulgadas que foram, pelos principais institutos de estatística, as primeiras e muito preliminares estimativas da evolução do PIB, em volume, no segundo trimestre de 2020 – resulta evidente “a dimensão de uma crise económica sem precedentes históricos na sua expressão quantitativa de quebra da atividade económica e na sua expressão qualitativa de crise económica verdadeiramente planetária, global”, refere a empresa de consultoria.
“Ao entrarmos no quinto mês após a declaração de pandemia pela Organização Mundial de Saúde (11 de março), é notório que a convivência entre crise de saúde pública e crise económica e social tem-se revelado bem mais exigente do que parecia quando a generalidade dos governos adotou procedimentos de levantamento progressivo das restrições do confinamento, terminado o mês de abril, aquele em que se atingiu a maior redução da mobilidade da população e a maior quebra da atividade económica”, adianta.
Se a presente crise tem vindo a afetar de forma mais vincada a produção de serviços do que a produção de bens, “é no seio do grande conglomerado de atividades polarizado pelas viagens e turismo que esta mais se tem vindo a sentir”, refere, adiantando que “nas principais economias do sul da Europa, este segmento representa, na criação direta, indireta e induzida de riqueza, valores próximos dos 20%”.
Num cenário em que “as perspetivas atuais para a evolução económica permanecem negativas e fortemente incertas, o arrastamento de uma situação como a atual, de convivência entre crise económica e pandemia na saúde pública, não deixará de provocar um pleno alinhamento entre o nível de emprego e o nível de atividade económica, isto é, uma apreciável subida da taxa de desemprego”, refere.
“No caso de uma segunda vaga de COVID-19 no penúltimo trimestre de 2020, a taxa de desemprego em Portugal poderá ser empurrada para 17,6%”, admite o trabalho da EY/Parthenon. “Esta possibilidade, aliás, levará a uma recuperação mais lenta dos padrões de consumo, que se poderá traduzir em maiores problemas de liquidez para as empresas e aumentar também o risco de instabilidade do sistema financeiro ao nível europeu. Nesse contexto, há uma maior vulnerabilidade dos países do sul (Espanha, França e Itália)”, considera.
“A CE espera que em 2020 o PIB em Portugal tenha uma contração de 9,8%, um agravamento em 3 p.p. face ao anteriormente projetado. Para este agravamento, contribuiu a maior dificuldade em controlar a pandemia durante a fase de desconfinamento, em associação com o peso significativo do turismo na economia. O aumento relativo do número de casos de Covid-19 em Portugal com o início do desconfinamento, tem afetado a recuperação dos padrões de consumo dos portugueses e levado à imposição de restrições de viagens por parte de países europeus, condicionando a recuperação da atividade turística”, refere o mesmo estudo.
“O consumo tenderá a ser a variável macroeconómica que mais rapidamente tenderá a regressar padrões pré-pandemia, por oposição às exportações, importações e investimento, que deverão conhecer uma retoma mais lenta. Em relação ao Consumo Privado, constata-se que, a par de uma forte contração verificada desde março, ocorreu uma transferência de consumo entre as suas diferentes componentes. O exemplo mais notório é a transferência do consumo “fora de casa” (restauração) para “dentro de casa” (comércio alimentar). Considerando os dados de pagamentos eletrónicos por residentes divulgados pela SIBS Analytics (20 de junho), observa-se que no 2º trimestre de 2020 as despesas com restauração caíram 57,8% (-616M euros) face ao período homólogo, enquanto as despesas com consumo alimentar aumentaram 22,8% (+657M euros)”, adianta o trabalho coordenado por Augusto Mateus.
“A crise provocada pela pandemia também se manifesta por uma assimetria das dinâmicas do consumo ao nível territorial. Enquanto distritos mais dependentes do turismo, como o Algarve (-39,3%), Lisboa (-37,8%) e Porto (-26,7%) registaram quebras mais significativas no consumo, distritos com menor exposição ao turismo e maior peso do emprego público, como Portalegre (-1,7%) e Bragança (-3,6%) registaram quebras menos acentuadas”, compara o trabalho da EY/Parthenon.
Os efeitos da crise no Investimento Direto Estrangeiro (IDE) “surgirão mais tarde, mas sentir-se-ão com força em todo o mundo. Portugal, contudo, de acordo com os resultados do EY Attractiveness Survey 2020, evidencia uma maior resiliência na manutenção dos projetos de IDE anunciados em 2019 face à Europa (20% estarão em risco, contra 35% na Europa). O foco no domínio do digital e nos serviços empresariais explica a menor exposição à pandemia”, refere ainda o mesmo estudo.
“A natureza global e mundial desta crise não permite soluções parciais e individualizadas. Qualquer economia nacional só recuperará completamente no quadro de uma interdependência resiliente alimentada por formas de globalização mais equilibradas. Qualquer economia europeia só recuperará completamente no quadro de uma construção europeia reforçada com instrumentos renovados de promoção conjunta da coesão e da convergência. Neste contexto adverso e marcado pela imprevisibilidade e incerteza, a reindustrialização, o Quadro Financeiro Plurianual e o Instrumento de Recuperação da União Europeia surgem como respostas-chave para contrariar a criar e dinamizar a recuperação da economia e do emprego”, adianta o documento.
O presente “caderno de notas” foi concluído no dia em que os principais institutos de estatística divulgaram as primeiras e muito preliminares estimativas da evolução do PIB, em volume, no segundo trimestre de 2020 que, em síntese, nos deram a conhecer os valores das quebras mais elevadas da história económica moderna, nomeadamente na União Europeia (-14,4%), na Área do Euro (–15,0%), na Alemanha (-11,7%), em Portugal (-16,5%), na Itália (-17,3%), em França (-19,0%), na Espanha (-22,1%) e nos EUA (-32,9%), refere ainda a EY/Parthenon.
O trabalho esclarece que “os valores divulgados são suficientemente expressivos para forçar uma generalizada compreensão da verdadeira dimensão da crise que enfrentamos, isto é, uma nova, difícil e pesada excecionalidade ainda que estes números fiquem bem aquém, neste segundo trimestre de 2020, da evolução nominal das variáveis macroeconómicas decisivas”. Também refere que “as estimativas mais seguras da evolução do PIB no segundo trimestre de 2020 deverão estar disponíveis a meio de agosto. Não sendo tempo de valorizar a discussão de pontos percentuais, importa, no entanto, referir que a metodologia que os institutos de estatística seguem para a determinação do PIB acomodam, bem, uma preocupação de avaliação do nível produção, despesa e rendimento numa lógica global, tal como tendem a refletir uma maior aptidão na avaliação das variáveis tangíveis, estritamente quantitativas”, diz.
“A crise económica e social despoletada pela Covid-19 apresenta, no quadro das suas profundas assimetrias, três características centrais que importa valorizar para interpretar adequadamente as informações disponíveis sobre a respetiva dimensão e configuração. Em primeiro lugar trata-se de uma crise que tem afetado muito mais significativamente a produção de serviços do que a produção de bens. As economias modernas mais desenvolvidas são economias terciárias, isto é, economias onde a produção de bens agrícolas e industriais representa menos de um quinto do total”, refere.
“A crise económica da Covid-19 não é, nem será, apesar da sua forte expressão nas indústrias automóvel e da moda, por exemplo, uma crise predominantemente industrial. A crise económica e social em aprofundamento atinge principalmente, de forma transversal, o vastíssimo conjunto das atividade de serviços, domésticos e internacionais, aumentando o seu potencial destruidor de riqueza e emprego e reduzindo o alcance dos mecanismos de resiliência que, precisamente, em crises anteriores, se tinham acionado com a viragem para as atividades de serviços com menores exigências de capital e trabalho qualificado”, considera.
“A centralidade dos serviços no aprofundamento da presente crise, impulsionada pelas restrições de mobilidade e convívio social, por um lado, e pela depuração, por focalização no essencial, dos modelos de consumo, por outro, conduz, igualmente, um perfil mais lento e arrastado na recuperação das quebras de atividade económica originadas pelo grande confinamento, sobretudo num cenário, que se vai perfilando, de avanços e recuos na própria dinâmica dos processos de desconfinamento. O segmento dos serviços mais afetado, o grande conglomerado de atividades polarizado pelas viagens e turismo que, por exemplo, nas principais economias do sul da Europa representa, na criação direta, indireta e induzida de riqueza, valores na vizinhança dos 20%, constitui, também, aquele onde os elementos subjetivos de incerteza, risco e insegurança são mais determinantes na formação das tendências da procura onde o conforto da confiança na disponibilidade e estabilidade de rendimentos no futuro próximo é fundamental”, refere o trabalho da EY/Parthenon.
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