A subida dos juros de longo prazo e as perspetivas de inflação têm sido temas centrais de discussão nos mercados financeiros. O assunto não é irrelevante – taxas de juro mais altas podem colocar em causa a recuperação económica e a capacidade de famílias, empresas e Estados conseguirem fazer face às suas dívidas no longo prazo.

Há cada vez mais analistas a considerarem que o risco de inflação e juros altos no futuro é real, resultado dos enormes montantes de estímulos fiscais e monetários que têm sido introduzidos nas economias. Mas há outras perspetivas a considerar. A subida dos juros até poderá continuar, mas pode não se manter a longo prazo por dois motivos:

1. Os bancos centrais não pretendem colocar em risco a recuperação económica, nem ajudar a criar uma situação com potencial de resultar numa nova crise financeira; 2. É discutível que a inflação continue a acelerar para além de 2021.

Há sinais de inflação neste início de ano, não existe pressão por parte da procura. O desemprego mantém-se elevado na generalidade das economias e até poderia ser maior sem medidas como os programas de emprego a tempo parcial ou lay-offs. A inflação parece derivar, essencialmente, da subida de preços nas matérias-primas e energia, bem como de problemas em muitas cadeias logísticas. É de esperar que a reabertura das economias resulte num aumento de consumo (revenge spending), mas esse poderá ser um efeito temporário e mais concentrado nos serviços.

Em resumo, a subida da inflação parece essencialmente temporária e provavelmente regressar-se-á ao cenário de excesso de capacidade instalada em pouco tempo. E, como já foi referido, os bancos centrais e os governos não parecem nada interessados em ter taxas de juro mais altas nos próximos tempos.