Há quem pense que o Incentivo ao investimento e à criação de emprego, no nível autárquico, passa pela celeridade e previsibilidade dos processos, relação independente, porém cordial e atenciosa, para com os investidores, atratividade fiscal e uma cidade com espírito reformista e de progresso, libertando o potencial da iniciativa privada.
Há quem não siga os passos deste manual clássico, e porventura considere que isso está tudo errado, e que bom mesmo é replicar o modelo de feiras e mercadinhos em espaço municipal Indoor. Parece que estamos a falar de coisas distintas e na verdade estamos. Mas é necessário que o decisor político autárquico seja o primeiro a ter noção dessas diferenças.
No caso da Câmara do Funchal a escolha parece ter sido claramente a do segundo exemplo que dei. Enquanto os processos jazem em gavetas fundas ou se sucedem meses, e mesmo anos, de troca de correspondência e pedidos de esclarecimento ou alteração de projeto, que levam à agonia, primeiro, e à fuga, depois, os persistentes que por vontade, ou falta de alternativa, querem investir no Funchal, a câmara vai inaugurando estruturas públicas financiadas com o dinheiro dos munícipes, para alegado apoio ao investimento. Depois do nado-morto chamado balcão do investidor é vez de uma coisa intitulada “viveiro de lojas”. A ironia é que naquele espaço da zona histórica e turística do Funchal não se vislumbra qualquer “viveiro” muito menos de “lojas”. O que existem são alguns expositores com produtos interessantes, alguns deles transferidos diretamente de um qualquer mercadinho a poucos minutos a pé de distância, da iniciativa de pessoas estimáveis e criativas, mas cuja vocação futura dificilmente contemplará a criação de uma “loja”, mas sim, e na melhor das hipóteses, poderá abandonar de vez um qualquer mercado ao ar livre ou Municipal Indoor, para assumir um lugar num dos muitos estabelecimentos de “souvenires“, como se dizia antigamente, ou grandes superfícies, que a cidade já tem de fartura.
De resto, esta ideia peregrina de que se devem testar os produtos sem que nesse teste estejam previstos os custos fixos inevitáveis, diria mesmo inadiáveis, de qualquer atividade comercial, ainda está por resultado. Noutra dimensão, é imperioso surgir na memória o caso de empresas, algumas delas grandes empresas, que beneficiaram da mão protetora do poder público, quando deveriam ter confiado na sabedoria de outra mão, a invisível, e que fatalmente sucumbiram à primeira crise que apanharam, por nunca terem sabido verdadeiramente o que é o risco do investimento, com alguns casos à mistura de que nem sequer os custos de funcionamento previam nas folhas Excel.
Estou aqui eu com esta retórica rebuscada, tentando perceber o imperceptível, e justificar o injustificável, quando porventura deveria seguir a máxima do “Keep it simple, stupid“! No final do dia tudo deve simplesmente resumir-se à evidência de que um processo administrativo célere não sai das quatro paredes de um departamento em contraste com abertura de um qualquer viveiro o balcão que dá sempre um bom número mediático ou de propaganda.
As vítimas das Causas
A extrema-esquerda das causas, orfã que tem estado de temas fraturantes, lembrou-se que o teletrabalho, um dos produtos da vertigem pandémica, era capaz de se constituir como um saco de pancada eficaz duma suposta defesa dos interesses dos trabalhadores. Os argumentos até podem soar plausíveis ao cidadão distraído, mas vejamos: parece indiscutível que a maioria dos trabalhos menos diferenciados, menos bem remunerados e mais passíveis de abusos por parte de identidade patronal são intrinsecamente presenciais. Impossíveis de reproduzir em teletrabalho.
É um pouco difícil uma empregada da limpeza, um empregado de balcão ou um motorista trabalharem a partir de casa, certo? Por outro lado só quem está muito distante das dinâmicas do trabalho, contemporâneo ou não, é que não entende que até a empresa mais xpto percebeu que nada substitui uma reunião presencial. Por outro lado é um pouco incompreensível alegar-se que a empresa transfere custos fixos para o novel trabalhador caseiro, desprezando a poupança particular em transportes, gasolina, portagens, refeições fora. Além de que é ambientalmente mais sustentável a não realização de viagens supérfluas. Compreendo que há uma agenda de luta a cumprir, mas certamente que o PCP e o BE conseguem encontrar outras “vitimas”.