[weglot_switcher]

Kobe Bryant: Eternidade chegou depressa de mais a quem nasceu para se tornar uma lenda

Chegou à NBA com 17 anos, passou 20 temporadas a somar títulos pelos Los Angeles Lakers e acabou a carreira quando o corpo deixou de garantir aquilo que exigia a si mesmo. O homem dos números perdeu a vida num acidente de helicóptero aos 41 anos e deixa um legado incomparável.
6 Fevereiro 2020, 09h30

Kobe Bryant, um dos atletas mais reconhecidos de todo o mundo, morto no domingo passado nos arredores de Los Angeles, na sequência de um acidente de helicóptero, fica na história do desporto mundial como uma verdadeira lenda, onde a palavra superação faz mais sentido do que nunca. Para perceber o percurso de Kobe Bryant temos de recuar até ao ano de 1984, para recordar uma das passagens mais importantes na vida do icónico ‘Black Mamba’. O seu pai, Joe “Jellybean” Bryant, também jogador de basquetebol, depois de passagens na NBA, onde representou três equipas – Philadelfia 76’ers, San Diego Clippers e Houston Rockets –, rumou a Itália levando a família consigo.

Tendo na altura apenas seis anos, Kobe viveu em várias cidades italianas, à medida que acompanhava o pai, algo que lhe marcaria a vida de forma bastante vincada. Foi lá que começou a desenvolver o seu gosto pelo basquetebol e, também foi em Itália que competiu pela primeira vez. David Giudici, amigo e antigo colega de Kobe Bryant em Itália, afirmou, numa entrevista à NBC, que “já em criança ele [Kobe] dizia que um dia ia ser jogador profissional de basquetebol na NBA. Na altura nós gozávamos com ele e achávamos que era apenas um sonho. Ainda assim, a qualidade que ele já demonstrava com aquela idade colocava-o num patamar muito acima do nosso”. Kobe nunca esqueceu as suas raízes, até porque falava fluentemente italiano, e fez sempre questão de lembrar quefoi lá que se formou como pessoa e onde fez as suas primeiras amizades.

Volvido aos Estados Unidos, mais concretamente à cidade de Filadélfia, ingressou na escola secundária Lower Marion. O seu talento e dedicação não passaram despercebidos, e as equipas da NBA começaram a fazer scout a um dos talentos mais promissores da sua geração. Em 1996 candidata-se ao ‘NBA Draft’ sem ingressar numa instituição universitária, algo raro naquele tempo, e que ainda hoje não é comum. Foi a 13.ª escolha, selecionado pelos Charlotte Hornets, mas a vontade de rumar a Los Angeles fez com que os icónicos Lakers conseguissem a troca, enviando para a Carolina do Norte Vlad Divac, um poste veterano (de grande qualidade), o que não agradou a todos, mas seria amenizado pela contratação de Shaquille O’Neal no mesmo ano.

Começaram então os lendários 20 anos ao serviço dos Lakers. Nos ‘purple and gold’ estabeleceu-se como um dos principais extremos da NBA, elegendo como principal rival Michael Jordan, o melhor jogador do mundo de basquetebol da sua geração, havendo quem o considere o melhor de sempre. A sua “picardia” com Jordan motivou Kobe a melhorar de dia para dia, através de uma ética de trabalho que se tornou a sua imagem de marca. Conhecido por chegar várias horas antes dos jogos (por vezes sete horas antes), foi melhorando todos os aspetos do seu jogo e, ao mesmo tempo, aumentando a reputação de ser um dos jogadores que mais trabalhava aliada à insaciável fome de vencer.

O seu primeiro título chegaria em 2000, na altura com 21 anos. O feito repetir-se-ia em 2001 e 2002. Os títulos conseguidos ficam marcados pela sua parceria, lendária, com Shaquille O’Neal. Daí em diante, a relação com O’Neal deteriorou-se, e culminaria com o poste a rumar a Miami para representar os Heat em 2004. O estatuto lendário do ‘Black Mamba’ ficou reforçado ao colecionar prémios individuais de ‘MVP’ (melhor jogador da temporada) e integrando, de forma consecutiva, as equipas do ‘All-Star Weekend’.

Avançando alguns anos até 2006, Kobe faz a melhor época individual de sempre, atingindo a impressionante marca de 81 pontos num jogo e, venceu o prémio de jogador com mais pontos nessa época, feito que repetiria em 2007. Durante este período começou a questionar a vontade da equipa de conquistar mais títulos e pediu para ser transferido, algo que nunca chegou a acontecer. Em vez disso, faria com que o poste catalão Pau Gasol, um dos melhores do mundo na sua posição, ingressasse na equipa. Esta “atualização” do plantel transformou os Lakers numa equipa novamente capaz de apontar a títulos, o que viria a acontecer em 2009 e 2010. Mas apesar de a sua ética de trabalho nunca ter perdido fulgor, as várias lesões que sofreu impediram Kobe de alcançar mais títulos em Los Angeles. Ainda assim voltou a conquistar o ouro olímpico em 2012, repetindo o feito de 2008. O jogo final chegaria em 2016 contra os Utah Jazz, onde Kobe marcou 60 pontos, feito por si só incrível, mas que para um atleta com 37 anos se torna especialmente marcante.

Após terminar a carreira, Kobe procurou aproveitar a sua influência a nível global, estando integrado em vários projetos um pouco por todo o mundo, com foco especial nos jogadores jovens. Fundou a academia desportiva Mamba Sports Academy, criou a produtora cinematográfica Granity Studios e, adicionalmente, já tinha desde 2013 fundado a Bryant Stibel, que tinha como foco principal impulsionar projetos digitais. Esta empresa revelou-se a mais bem-sucedida de todas, com investimentos no grupo AliBaba, na Dell e até no Fortnite, todos casos confirmados de sucesso a nível global que, consequentemente, permitiram à empresa de Kobe ter hoje uma avaliação de dois mil milhões de dólares (1,8 mil milhões de euros).

Kobe perdeu a vida aos 41 anos, num acidente de helicóptero juntamente com uma das suas filhas, Gianna, de 13 anos, e sete outras pessoas na manhã de domingo, 26 de janeiro. Será para sempre lembrado por quem o viu jogar, passando para a eternidade onde a regra dos 24 segundos que uma equipa tem para atacar não se aplica. Para lá de prémios individuais e coletivos, Kobe Bryant fica imortalizado na história como um atleta ímpar, onde o trabalho será sempre mais importante que o talento.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.