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Kuwait chora desaparecimento do emir Al-Sabah

O reinado do ‘pai dos árabes’, como era conhecido, começou em 2006 e foi marcado por um autoritarismo crescente. Externamente, era considerado um dos defensores da hegemonia árabe.
29 Setembro 2020, 17h14

Era conhecido no Médio Oriente como o ‘xeque dos diplomatas’ ou o ‘pai dos árabes’, numa homenagem ao seu talento como mediador e seu apego à unidade do mundo árabe. O emir do Kuwait, Sabah Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah, que presidiu os destinos da petromonarquia desde 2006 e foi ministro das Relações Exteriores do país ao longo de quatro décadas, morreu esta terça-feira, com 91 anos de idade.

O emir nasceu em junho de 1929, no Kuwait, na família de Al-Sabah – era o quarto filho do xeque Ahmad Al-Jaber Al-Sabah – a tribo dominante na área do Golfo Pérsico desde meados do século XVIII. O seu pai, Ahmad Al-Jaber Al-Sabah, governou sob a tutela dos britânicos, uma das potências externas dominantes na região (a par de França).

Dizem os seus biógrafos que o jovem Sabah cresceu num país em crise, fragilizado pelo subdesenvolvimento, que só seria ultrapassado no final da década de 1940, depois do início da exportação de petróleo, de que o emirado foi o pioneiro no Golfo. A enorme receita dessa atividade, associada ao regime político semiliberal instaurado após a saída dos britânicos (em 1961), impulsionou o país para a vanguarda da modernidade árabe, mas ao mesmo tempo para um limbo entre a democracia e o autoritarismo (político-religioso) que marca até hoje os países e os emirados da península.

Nomeado Ministro das Relações Exteriores (1963), Sabah Al-Ahmad Al-Sabah personificará essa época de ouro no cenário internacional: promove uma diplomacia ambiciosa, não se abstendo de estabelecer relações com nenhum país, incluindo os do bloco soviético. Mas esta sua vertente diplomática não era bem vista pelos vizinhos do Golfo – que preferiam à época uma política ‘orgulhosamente só’ que os mantivesse independentes.

Indiferente, o emir acabaria por desempenhar um papel fundamental no equilíbrio da região, correndo a cada crise para oferecer os seus bons ofícios diplomáticos: durante o conflito intra-menita dos anos 1960; no Setembro Negro em 1970 entre a monarquia jordaniana e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP); e durante a guerra civil libanesa, na década de 1980, a marca de Sabah Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah está em todos os grandes acontecimentos do Médio Oriente. Sob a sua liderança, o Kuwait atuou como intermediário diplomático para o Paquistão e Bangladesh, Turquia e Bulgária, Palestina e Jordânia.

Sabah restaurou as relações internacionais do Kuwait após a Guerra do Golfo – tendo mesmo para isso acumulado o cargo de ministro das Finanças para poder ter mão no financiamento da reconstrução.

Foi também um humanista preocupado com os desfavorecidos: Sabah forneceu a maior doação individual em 2013 para apoiar os refugiados sírios (300 milhões de dólares). No ano seguinte, o então ex-secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, galardoou Sabah com um Prémio Humanitário da organização.

Em agosto de 2017, o secretário-Geral da ONU Antonio Guterres, expressou a sua gratidão pela liderança do Kuwait na ação humanitária face a todos os conflitos na região. “Mas não é só a liderança humanitária do Kuwait, é a sabedoria, o diálogo, a promoção da compreensão que o Kuwait tem mostrado em relação a todos os conflitos da região. O Kuwait não tem agenda. A agenda do Kuwait é paz; é a compreensão”, disse.

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