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Lagarde não quer um choque de malparado e recomenda que bancos comecem a provisionar perdas para créditos

A presidente do Banco Central Europeu recordou a importância de alguns mecanismos de apoios que têm atenuado a dureza da crise, nomeadamente as moratórias, que têm atuado como um “escudo”. No entanto, alertou, “esse escudo será levantado e espero que isso aconteça de forma gradual e que os bancos façam provisões também de forma gradual”.
  • Forum BCE 2020 — Christine Lagarde
    BCE
12 Novembro 2020, 20h05

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, reconheceu esta quinta-feira que será inevitável assistirem-se a falências de empresas, especialmente nos setores mais afetados pela crise provocada pela Covid-19. Por isso, sugeriu aos bancos prestem muita atenção aos seus balanços e que tenham cuidado com as empresas às quais concedem crédito, que devem ter alguma saúde financeira, para mais tarde não serem surpreendidos.

Christine Lagarde falava durante um painel sobre política monetário no âmbito do Fórum BCE, que este ano se realizou online por causa da pandemia, mas que normalmente decorre em Sintra. Questionada sobre se os bancos da zona euro têm sido de alguma forma levianos a conceder crédito porque ainda não se assistiram a muitas falências de empresas, a líder do BCE respondeu que “nas condições atuais, por enquanto, é necessário que os bancos prestem muita atenção aos seus balanços e à saúde financeira das empresas que financiam”.

A francesa explicou que os bancos estão hoje “muito mais sólidos, muito mais capitalizados, a alavancagem está sob controlo e os rácios de liquidez estão a impor-lhes cautela suficiente”, por comparação com o sistema bancário de há doze anos atrás, na crise financeira de 2008.

Isso não isenta o sistema bancário de estar preparado para algumas dificuldades que se avizinham. “É claro que em alguns setores teremos dificuldades, haverá falências e haverá empresas a sair do mercado e algumas demorarão tempo a reentrar. No entretanto, algumas imparidades terão de ser reconhecidas, algum crédito malparado terá de ser provisionado. E considero que é do interesse do setor bancário fazer isto de forma razoável e transitória para que não haja um choque de malparado”, salientou a presidente do banco central.

Christine Lagarde recordou ainda a importância de alguns mecanismos de apoios que têm atenuado a dureza da crise, nomeadamente as moratórias, que têm atuado como um “escudo”. No entanto, alertou, “esse escudo será levantado e espero que isso aconteça de forma gradual e que os bancos façam provisões também de forma gradual”.

Em Portugal, no final do terceiro trimestre, os quatro maiores bancos nacionais constituíram imparidades de 640 milhões de euros para acautelar o impactos da crise.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Santander e BPI constituíram cerca de 640 milhões de euros de imparidades para antecipar impactos da crise Covid-19 nos primeiros nove meses do ano. Com as 220 milhões de imparidades reveladas pela CGD; os 173,6 milhões de imparidades constituídas pelo BCP; as 106 milhões constituídas pelo BPI (sendo 101 milhões líquidas de recuperações) e as 146,5 milhões constituídas pelo Santander – os quatro dos maiores bancos portugueses abateram esse montante aos lucros, que no conjunto somam 840,2 milhões de euros.

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