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Lagarde quer evitar “guerra” das tarifas com Trump: “Comprem produtos norte-americanos”

“Guerra comercial levará à diminuição do PIB global” e não deve ser retaliada, aconselhou a governadora do BCE. A resposta é ‘Buy American’. GPL e armas estão na lista das compras.
28 Novembro 2024, 09h53

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, apelou aos líderes políticos europeus para que cooperem com Donald Trump em matéria de tarifas e comprem mais produtos fabricados nos Estados Unidos, alertando para que uma guerra comercial lança o mundo no risco de destruir o crescimento económico global.

A governadora do Banco Central Europeu disse na sua primeira entrevista desde que Trump ganhou o seu segundo mandato presidencial (ao Financial Times) que a União precisava “não de retaliar, mas de negociar” com um presidente eleito que ameaçou impor uma tarifa geral de até 20% sobre todos os países.

Lagarde advertiu para que uma “guerra comercial em geral não seria do interesse de ninguém” e levaria “a uma redução global do PIB”. “Como tornar a América grande outra vez se a procura global está a cair?”, questionou. A resposta deu-a antes: levando os outros países a comprarem aos Estados Unidos.

A teoria pode parecer estranha: se alguém não quiser comprar o que produzimos, a resposta deve ser comprarmos o que esse país produz. Em princípio, se isso acontecer, os produtores norte-americanos terão um largo mercado externo e os produtores da União não terão nem mercado externo nem interno (porque está a ser abastecido por importações. A teoria pode parecer estranha porque… é estranha.

Lagarde disse que a Europa deveria lidar com um segundo mandato de Trump com uma “estratégia de livro de cheques” em que se oferecesse “comprar certas coisas aos Estados Unidos”, como gás natural liquefeito e equipamento de defesa. “Este é um cenário melhor do que uma estratégia de pura retaliação, que pode levar a um processo de retaliação onde ninguém é realmente um vencedor”, disse o presidente do BCE. Convém recordar que, mal a Rússia invadiu a Ucrânia, os Estados Unidos trataram de colocar o seu GPL à disposição dos europeus. A alternativa – abastecer a Europa pelos gasodutos vindos do Médio Oriente, foi rapidamente colocada de parte e as promessas de investimento em novos gasodutos nunca passou do papel. Pelo menos neste particular, Lagarde está a fazer um enorme favor aos norte-americanos.

A Comissão Europeia, que dirige a política comercial dos 27 Estados-Membros da UE, ainda está a ponderar a forma como responderá. O aumento das compras de exportações dos EUA, incluindo produtos agrícolas, bem como GNL e armas, estão entre as opções em consideração. A UE está também a preparar-se para permitir que as empresas dos participem em iniciativas para apoiar a aquisição militar conjunta com o dinheiro dos contribuintes da UE e para se alinharem mais estreitamente com a Casa Branca nas suas políticas comerciais e geopolíticas em relação à China.

Estranhamente disponível para comentar Donald Trump – apesar de tudo, o seu lugar recomenda recato – Lagarde disse: “cabe-nos agora – aos europeus – transformar a atitude de ameaça num desafio ao qual temos de responder”.

Lagarde disse que a sua ideia sobre como lidar com um segundo mandato de Trump “mudou um pouco” ao longo de 2024, dizendo que também era responsabilidade da Europa usar o resultado das eleições nos EUA para estimular mudanças tão necessárias numa economia que luta para manter a saúde.

Lagarde concordou com o diagnóstico do seu antecessor Mario Draghi de que a UE precisava de tomar medidas drásticas para recuperar a competitividade económica, depois de ter lutado para acompanhar os EUA nas últimas décadas. “A Europa está atrasada. Mas não diria que a Europa não consiga recuperar o atraso”, disse.

Embora Lagarde tenha dito que é demasiado cedo para avaliar as implicações das tarifas dos Estados Unidos na inflação da Zona Euro, disse, em princípio haverá um efeito inflacionista no curto prazo”. “Depende de quais são as tarifas sobre o que são aplicadas e durante que período de tempo”.

 

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