Nestes seis meses in office, pode dizer-se dos três grandes atos de Trump – as tarifas, a guerra contra Powell e a Big Beautiful Bill – o que Boulay de la Meurthe disse da execução do Duque d’Enghien, “c’est pire qu’un crime, c’est une faute”.
Menos crescimento económico, pôr em causa a independência da Reserva Federal (Fed) e um défice orçamental ‘colossal’ são as consequências prováveis. E quanto ao conflito com Powell, é uma aventura escrever hoje sobre a próxima reunião do Open Market Committee da Fed um texto lido logo depois da reunião.
O mercado dá hoje uma probabilidade de 97% à manutenção a taxa de juro dos Federal Funds na reunião desta semana, contra 3% de descida de um quarto de ponto. Mas isto esconde uma realidade: os Governadores Waller e Bowman já declararam que são a favor da descida. Ora, desde 1993 que dois membros não votam contra, e os mercados financeiros apreciam a unanimidade pela previsibilidade que dá à política monetária.
Mais, os dois foram já nomeados por Trump, e este tem atacado Powell por não descer os juros (os 23 insultos destes seis meses estão aqui). Já ameaçou despedi-lo, tendo reconhecido que não lhe seria possível fazê-lo, mas agora estará a ponderar demiti-lo por fraude na sequência das obras de 2,5 mil milhões de dólares na Fed de Washington, com a vantagem de desviar atenções do caso Epstein.
Há argumentos para os dois lados, descer e não descer a taxa de juro. Waller avança com o efeito das tarifas ser one shot, logo temporário, e com a criação de emprego ter abrandado.
A Fed (e Powell) salienta a descida da taxa de desemprego, para 4,1%, e a subida da inflação de 2,4% em maio para 2,7% em junho; mesmo se o efeito sobre os preços for apenas uma alteração de nível, se se formam expectativas de inflação o efeito não será temporário – A prudência recomenda que se espere até conhecer o real impacto destas tarifas.
Mas Trump não quer esperar, até porque juros mais baixos são poupança no custo da dívida pública e menor défice orçamental. Porém, o artista dos acordos não conseguiu domar a Fed. O mal, esse, está feito. Powell termina o mandato a meio de 2026, e Waller é neste momento o favorito à sucessão, até por agradar ao patrão. Só que uma Fed que obedece a Trump é a política monetária perder a independência, e potencialmente a descida dos juros ser compensada pelo aumento do prémio de risco. Não há caprichos grátis.