Já se sabia que a decisão de Donald Trump de retirar os Estados Unidos do perímetro do acordo nuclear com o Irão – conhecido como Plano de Ação Conjunto Global, ou JCPOA – teria consequências a prazo, mas a maioria dos analistas não antecipou senão uma crescente dificuldade do regime de Teerão na frente económica. Isso sucedeu – mas sucederam várias outras coisas que os analistas não anteciparam. Uma delas foi a eleição de Ebrahim Raisi. O analista, militar e professor Carlos Branco disse, em declarações ao JE, que o legado de Raisi será a ‘argamassa’ do próximo presidente. Isto apesar de, referiu, “ser impossível percebermos quem vai suceder-lhe. Até porque o sistema iraniano é complexo e tem de passar por todas as etapas do processo” – entre elas a escolha que o líder supremo, Ali Khamenei e o seu conselho superior farão em termos da elegibilidade dos vários candidatos.
Mas o analista chama a atenção para o legado de Ebrahim Raisi – e, principalmente, para aquela parte desse legado que os especialistas não anteciparam. É evidente que o contexto internacional mudou e o facto de a Rússia ter invadido a Ucrânia, alterou tudo. Essa invasão abriu uma janela de oportunidade a Teerão – “Raisi percebeu isso e colocou o Irão nessa linha”, refere Carlos Branco. O culminar do inesperado processo de ‘reabilitação internacional’ do Irão teve dois pontos fundamentais: a atitude de Teerão na Síria e o acordo com a Arábia Saudita, patrocinado por Pequim. Carlos Branco acrescenta-lhe ainda “a adesão aos BRICS” para dar a entender aquilo que na sua ótica é a ação preponderante de Raisi desde que se sentou na cadeira da presidência em agosto de 2021.
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