Nos próximos anos, os intervenientes do sector económico e ambiental em Portugal esperam ver melhorias nas embalagens que permitam agilizar a comunicação com o consumidor, aumentar a qualidade e os níveis de reciclagem e ainda a capacidade de preservação do produto, uma meta que a Tetra Pak espera ver alcançada já em 2030.
“O nosso compromisso é até 2030 ter uma embalagem 100% renovável”, partilhou Ramiro Ortiz, diretor-geral da multinacional Ibéria, frisando que a gigante do agro alimentar está a apostar fortemente na investigação por materiais de fontes renováveis e mais facilmente recicláveis.
Mas, além desta capacitação destas embalagens e a sua sustentabilidade, espera-se que se tenha em conta também a sustentabilidade económica do consumidor. “É preciso que não nos esqueçamos do fator preço”, referiu o diretor-geral Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED).
“[As melhorias têm] que ser justas do ponto da sustentabilidade e do racional económico. Não podemos perder foco no equilibro financeiro”, frisou Gonçalo Xavier na sua intervenção na web conference, onde se debateu a sustentabilidade e as embalagens do futuro, organizada pela TetraPak em colaboração com o Jornal Económico, transmitida esta quarta-feira nas plataformas do JE.
A necessidade de otimizar a legislação também foi um ponto referido pelos intervenientes presentes. Segundo a CEO da Sociedade Ponto Verde, existe um “um grave problema relativamente à forma como legislamos, sobretudo em matérias de consumo”. Para Ana Isabel Trigo, a atual qualidade e da legislação não permite dar tempo às empresas de se adaptarem às novas exigências, nomeadamente, a política que prevê o fim da utilização dos plásticos de utilização única.
“A empresas querem cumprir as legislações mas precisam de condições para respeitar essas urgências. A legislação está sempre a ser alterada e cria uma instabilidade para os sectores económicos”, alerta. Perante tal situação, a responsável pela rede de ecopontos em Portugal sugere que o país siga o exemplo dos parceiros europeus e adote “prazos de implementação de legislação mais alargados”, de forma a criar “um espaço para que os agentes económicos procurem melhores soluções”. Uma vontade que está muito patente entre as empresas associadas à APED, que, segundo o diretor-geral, assumem uma “responsabilidade” para apostar “na inovação de novos produtos” mas que necessitam de apoios financeiros para concretizar essas metas.
“Há aqui uma responsabilidade de dotar as empresas com meios financeiros para aderirem às boas práticas e soluções disponíveis no mercado”, ressalvou Gonçalo Xavier. “Não podemos ser tão ingénuos e acreditar que as empresas estão disponíveis para fazer grandes investimentos numa altura em que estamos a recuperar de uma pandemia”.
É neste sentido que entram os fundos europeus, que, para o coordenador do Pacto Português para os Plásticos, constituem uma “oportunidade única”. Graças ao Next Generation EU e ao próximo quadro financeiro plurianual (QFP, 2021-27), Portugal vai receber 45,1 mil milhões de euros de subvenções a fundo perdido (29,8 mil milhões de euros provenientes do QFP e 15,3 mil milhões oriundos do Próxima Geração UE).
“Não voltará a acontecer, nas próximas gerações, um momento como este em que Portugal vai beneficiar de um conjunto de incentivos vindos da Europa que poderá aplicar de várias maneiras”, afirmou Pedro São Simão, reconhecendo que de forma a garantir que “que o sistema de reciclagem e a economia circular das embalagens em Portugal funcionem” será necessário aplicar um investimento “não só de hoje mas de futuro”.
O responsável acrescenta ainda que em termos de legislação deve ser ponderada uma que trate da “circularidade das embalagens” uma vez que a solução não passa pela eliminação total de todo o plástico. “Corremos o risco de, com estas decisões, afetarmos de forma muito direta vários sectores de atividade no país, mas também corremos o risco de estar a criar um problema novo”, afirmou, dando como exemplo que algumas alternativas propostas sugerem ou materiais que não existem ou materiais que não têm capacidade para serem tratados em Portugal no fim de vida.
“O plástico se for bem concebido e desenhado pode ser 100% reciclável. Tem imensas vidas úteis. Ao substituirmos por materiais que não existem ou que ainda não saibamos tratar, estamos a criar problemas de sustentabilidade ainda mais graves”, sublinhou o coordenador.
No entanto, embora existam alternativas que para Portugal ainda não são consideradas viáveis, existe a possibilidade de apostar em embalagens mais amigas do ambiente e menos poluentes através da incorporação de matéria-prima à semelhança do que a Tetra Pak faz. Em Portugal, de acordo com o Conselho de Manejo Florestal (Forest Stewardship Council, FSC, sigla em inglês), existem 47 mil empresas no âmbito da cadeia de custódia que transformam e processam o material de origem florestal para a produção de embalagens. “Mas há um longo caminho pela frente”, afirma a diretora-executiva da organização Joana Saque Faria.
Na sua opinião, o consumidor poderá ser o impulsionador deste tipo de embalagens uma vez que a certificação FSC atribui valor ao produto. “Um produto de origem florestal com esta certificação dispõe de um rótulo que permite ao consumidor fazer a relação entre a floresta e o produto final. Existe toda uma cadeia de valor que é trabalhada”, argumenta, acrescentando que o consumidor tem agora a responsabilidade de saber a origem do produto por haver o risco de ao comprar um produto de origem desconhecida estar a “compactuar com ações que ainda podem ser penalizadoras, nomeadamente a desflorestação”.
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