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Lesados BES/GES reclamam 330 milhões e avisam: isto não é só sobre Ricardo Salgado

Para marcar o arranque do julgamento do caso BES/GES, Associações ABESD e ALEV preparam aquilo a que chamam uma “iniciativa simbólica” e “manifestação pacífica” no Campus da Justiça, em Lisboa.
14 Outubro 2024, 12h15

Por ocasião do arranque do julgamento do caso BES/GES, marcado para o dia 15 de outubro de 2024, a ABESD – Associação de Defesa dos Clientes Bancários e a ALEV – Associação de Lesados Emigrantes da Venezuela e África do Sul, preparam aquilo a que chamam de “uma iniciativa simbólica” e “manifestação pacífica”, no Campus da Justiça, em Lisboa, “em memória” das vítimas que já perderam a vida na esperança de recuperar o seu património e poupanças de vida.

“As 1994 vítimas do maior crime económico-financeiro do país depositam a esperança derradeira no julgamento que arranca no próximo dia 15 de outubro”, salientam as associações.

A associação acrescenta que “as poupanças de vida de investidores não qualificados somam cerca de 240 milhões de euros e, no Processo Crime, este conjunto de vítimas reclama por 330 milhões de euros, valor que inclui danos, não só patrimoniais, como morais”.

Apesar de aplaudirem a recente decisão do Tribunal na recusa de dispensa de Ricardo Salgado no julgamento, a ABESD – Associação de Defesa dos Clientes Bancários e a ALEV – Associação de Lesados Emigrantes Portugueses da Venezuela e África do Sul, “alertam veemente que este megaprocesso não versa apenas sobre Ricardo Salgado e que este não pode ser o único rosto isolado”.

A “manifestação pacífica” que as associações ABESD e ALEV estão a organizar preveem reunir 100 pessoas que não perderam a esperança de recuperar o seu património e poupanças.

“Uma viatura funerária com um caixão e coroa de flores irá estacionar e circular pela zona do Campus da Justiça, ilustrando de forma simbólica as suas vítimas, os seus lesados já falecidos, bem como as suas poupanças enterradas em dezenas de crimes. Esta ação será ainda escoltada por 16 indivíduos que representam os 16 arguidos e caras do caso BES/GES para que este julgamento não verse apenas sobre Ricardo Salgado”, descrevem as associações em comunicado.

A iniciativa estará estacionada, nos momentos que não estiver a circular, na esquina da Rua Mar da China, com a Avenida D. João II na zona do Campus da Justiça, a partir das 8h30 do dia 15 de outubro.

Francisco Carvalho, Presidente da ABESD – Associação de Defesa dos Clientes Bancários sublinha que “este caso sem precedentes não pode viver apenas escudado no rosto de Ricardo Salgado, nem tão pouco os bancos devem ser vistos como inimigos”.

“O caso BES/GES versa, acima de tudo, das pessoas envolvidas, nomeadamente os 16 arguidos em julgamento, bem como a negligência do Estado/Banco de Portugal, em proteger as poupanças de milhares de portugueses”, acrescenta.

Francisco Carvalho relata que “são inúmeros os relatos que nos chegam até hoje de gestores de contas que aliciaram clientes com produtos bancários compostos do BES – alguns destes nem sequer autorizados em Portugal”.

“Clientes esses sem capacidade – académica e técnica – de fazer uma escolha informada, confiando cegamente nos seus pontos de contacto e nas instituições bancárias e de supervisão. São todos estes – arguidos ou não – que são os rostos deste crime e que a banca deve ativamente combater através de fortes mecanismos”, acrescenta.

As Associações ABESD e ALEV assinalam ainda que o desfecho deste julgamento “será decisivo para Portugal no combate à corrupção, fraude fiscal, branqueamento de capitais e outro rol de crimes e práticas ilícitas que marcam este caso”.

“O pior cenário que pode acontecer ao país é este julgamento passar uma mensagem de que os crimes económico-financeiros em Portugal fintam a justiça”, conclui.

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