O Orçamento do Estado de 2022 deveria servir para “libertar” o país. Contudo, o mindset da esquerda política nunca foi o crescimento, tanto mais que estamos perante uma esquerda moribunda. Mas, ainda assim, a solução do mais inteligente dos políticos nacionais, António Costa, é governar à esquerda.

Não se libertou dos grilhões e insiste em governar como se nada de extraordinário e disruptivo tivesse acontecido. A pandemia levou o país a parar, negócios a fechar, lay-off para um milhão de trabalhadores contribuintes, e à perda irreparável do crescimento interno via turismo e exportações.

Hoje, passado ano e meio do início da pandemia, houve um levantamento das restrições, mas muitos consideram que será temporário. Atualmente, todos ignoram a questão da dívida pública e privada que impede o crescimento.

Em contraste, temos mais burocracia, não se consegue uma reunião com um chefe das Finanças ou a aprovação de uma mera licença camarária, enquanto a obtenção do passaporte com urgência obriga a uma madrugada em frente aos serviços.

Dentro de duas semanas será entregue o documento fundamental para a governação de 2022, e do lado do Governo continua o marketing. Claro que a classe média não verá os impostos baixar porque não existe classe média. E se existisse, a promessa seria falsa.

O que faz o Governo é dar sinais simbólicos com a criação de novos escalões de IRS, enquanto é prometido um aumento de reformas para os miseráveis, que lhes dará para um almoço mensal suplementar.

Para quem poupou, assistimos ao teste para ver como sairia o projeto de englobamento dos rendimentos prediais e financeiros. Ficou o aviso aos senhorios de que são o bode expiatório. Reduzir impostos ou aumentar os benefícios fiscais está fora da equação.

Diga-se o que se disser, este será o OE da continuidade até porque nada mudará enquanto não houver reformas de fundo no sistema eleitoral, no sistema fiscal, na redistribuição da riqueza gerada e nas liberdades, deveres e garantias inscritos na Lei Fundamental.

Tivemos as recentes eleições autárquicas em que todos perderam. O PS continua a ser o partido mais votado mas perdeu porta-aviões, o PSD teve poucos votos, a CDU teve sucesso em Lisboa mas derrapou no resto do país, o Bloco está em dificuldades para se afirmar, a IL não deixa de ser apenas uma promessa, o Chega ficou longe do que esperava e o PAN está a desaparecer.

Todos foram ao ato eleitoral para fazer a prova de vida, mas nesta ressaca apenas António Costa tem a consciência de que consegue uma eventual maioria absoluta. Bem pode, antes da entrega e discussão do OE de 2022, agitar a bandeira das previsões de crescimento económico de 4,6% para este ano e de 5,5% para o próximo, quando é o próprio governador do Banco de Portugal que vem alertar que esta euforia acabará exatamente no próximo ano e se começará a derrapar e a derrapar num plano cada vez mais inclinado.

O país espera a recuperação das exportações, das indústrias, do turismo, mas a pandemia ainda cá está. Não vamos ter condições para exportar mais, o défice externo vai manter-se elevado, a dívida pública e privada desmesurada a pressão ao nível das reformas alta e a natalidade baixa. Este OE podia mas não vai ajudar.