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Líbia: voltam a surgir sinais de que o país se mantém dividido

Apesar de todos se terem congratulado com o novo governo, as milícias do general rebelde Khalifa Haftar impediram o primeiro-ministro de visitar uma região que aparentemente ainda é controlada pelas suas forças.
  • Líbia
30 Abril 2021, 18h10

O primeiro-ministro líbio, Abdul Hamid Mohammed Dbeibah, cancelou uma visita planeada à província de Benghazi, depois de as milícias do general Khalifa Haftar terem impedido a aterragem de um avião que transportava proteção do governo e pessoal de protocolo que pretendia antecipar a sua chegada.

A milícia Haftar – que assinou a paz com o governo central há alguns meses – ao bloquear a visita do primeiro-ministro ao seu reduto, parece deixar claro que o general rebelde não considera Dbeibah como legítimo representante do país, ao contrário do que disse após as eleições.

Dbeibah foi nomeado em março para liderar o novo governo de unidade nacional com o apoio das Nações Unidas e tendo como objetivo marcar eleições para dezembro próximo – uma vez que a sua designação para o cargo surgiu de uma espécie de colégio eleitoral que pretendia representar todas as sensibilidades em presença na Líbia.

Recorde-se que, em fevereiro, Haftar declarou o seu apoio às novas autoridades de transição e a uma “alternância de poder pacífica e democrática” na Líbia, de acordo com um comunicado divulgado pelo seu gabinete na altura, no qual saudava a nomeação do novo governo e dos seus líderes, referidos como “figuras nacionais”.

A visita de Dbeibah a Benghazi serviria para realizar uma reunião de gabinete na província, visitar várias instituições e examinar os resultados da guerra civil, que ali foi particularmente dura. A deslocação teria sido a primeira de um primeiro-ministro em anos, um momento que visava ser marcante no encerramento do conflito.

“Podemos dizer que a guerra acabou, mas há quem queira reacendê-la”, disse Dbeibah esta sexta-feira, citado pela comunicação social, durante uma visita a Tajoura, a leste da capital, acrescentando que os mercenários estrangeiros continuam a representar uma ameaça à estabilidade da Líbia.

As zonas este e oeste formaram administrações rivais em 2014, dividindo ainda mais um país já assolado pelo caos e pela violência que se seguiu ao levantamento apoiado pela NATO em 2011 contra o ex-ditador Moammar Kaddafi.

Em nota divulgada pelo canal de TV pró-Haftar Líbia Al-Hadath, a milícia – que se autodenomina Comando Geral das Forças Armadas Árabes da Líbia – disse que “recebeu centenas de solicitações de diversos segmentos da sociedade e de todas as tribos e famílias dos mártires e dos feridos segundo as quais o primeiro-ministro deve apresentar um pedido de desculpas explícito e claro pelo que aconteceu quando mencionou na semana passada que Benghazi retornará à pátria”.

Fontes citadas pelos jornais dizem ainda que o Egito, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita diminuíram o seu apoio a Haftar. Entretanto, surgiram relatos de que o general rebelde estará a trabalhar com o grupo Wagner – uma organização paramilitar de origem russa tida como próxima do presidente Putin – que estará a planear enviar 300 milícias para Benghazi, para evitar perder o controlo do país.

Por seu lado, a ONU concentra os seus esforços precisamente no repatriamento de mercenários, tendo esta quinta-feira realizado uma reunião informal com foco na retirada de mais de 20 mil combatentes e mercenários estrangeiros da Líbia.

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