O ex-primeiro-ministro são-tomense Patrice Trovoada admitiu que a Ação Democrática Independente (ADI), que lidera, vive o “período mais difícil da sua existência” e corre o risco de desaparecer, após “o golpe” que derrubou o Governo.
“O risco que nós temos hoje [com o novo Governo] é de retrocesso, de incongruência, de aumento do autoritarismo e da corrupção, e o risco para o ADI é, de facto, de nos virmos a fraccionar e acabarmos por desaparecer, quando desde 2010 somos o maior partido de São Tomé e Príncipe”, disse Patrice Trovoada em mensagem de vídeo publicada na rede social Facebook, na noite de quarta-feira.
Patrice Trovoada, admitiu tratar-se do “período mais difícil da sua existência como partido político”, mas lembrou que foi o “escolhido para conduzir os destinos da nação são-tomense até 2026”.
“O ADI foi vítima, e todo o país ,de um golpe palaciano, golpe esse que contou com pessoas que nós até agora considerávamos de companheiros, que demonstraram a falta de integridade, a falta de honestidade, a ingratidão e o espírito perverso que levou não só à traição de outros companheiros, mas sobretudo levou a traição do contrato estabelecido entre o nosso partido e o povo que nos elegeu com maioria absoluta”, declarou.
O presidente da ADI, pediu ao militantes do partido “bastante resiliência, coragem e caráter”, prometendo manter-se “sempre ativo junto do partido”, sobretudo na preparação do próximo congresso que quer que aconteça o “mais rapidamente possível” para “expulsar todos aqueles que decidiram de facto sacrificar a ADI, sacrificar o programa de Governo”.
Entre os visados da expulsão, Patrice Trovoada destacou o Presidente da República, Carlos Vila Nova.
O chefe de Estado são-tomense entregou o cartão de militante da ADI após assumir as funções 2021.
“Eu apelo (…) à união [dos militantes], a continuarem a confiar no presidente do partido e no líder do partido para (…)sairmos dessa situação grave, perigosa, quer para o país, quer para o partido”, afirmou.
O novo Governo são-tomense é composto por 10 ministros, seis homens e quatro mulheres, e quatro elementos fizeram parte do executivo anterior, liderado por Patrice Trovoada.
Após a posse do executivo, o segundo vice-presidente da Ação Democrática Independente, Orlando da Mata, afirmou que “muitos membros” da ADI com função de relevância no partido, “e que puseram, acima de tudo, o país [à frente]”, apoiam o novo Governo são-tomense, contrariando a contestação da direção do partido.
“Hoje nós temos uma figura da ADI [Américo Ramos] no poder, nós temos um elenco maioritariamente da ADI com algumas áreas estratégicas […], nós vemos um Governo competente e que irá ter muito apoio, não só dentro da ADI como fora”, disse.
No entanto, Patrice Trovoada disse que não há “nada de surpreendente” quanto à participação de alguns membros da ADI no novo Governo, porque alguns, “desde a primeira hora, faziam parte do golpe” e outros, “no meio da confusão”, pediram para integrar.
“O partido vai conhecer muitos ataques, as pessoas contam, os golpistas contam com a nossa fragilidade, nomeadamente com a precariedade material que muitas vezes afeta a nossa militância e também (…) alguma ambição precipitada e falta de visão de médio e longo prazo, porque esse Governo não tem como ter sucesso”, disse Patrice Trovoada.
O novo primeiro-ministro são-tomense foi ministro das Finanças (2010-2012 e 2014-2018) de governos do ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada, secretário-geral da ADI, e governador do Banco Central de São Tomé e Príncipe, cargo que ocupava até assumir a chefia do Governo.
Américo Ramos, foi escolhido pelo Presidente da República, Carlos Vila Nova, após rejeitar dois nomes propostos pela ADI.
Carlos Vila Nova, demitiu o 18.º Governo, liderado por Patrice Trovoada, em 06 de janeiro, apontando “assinalável incapacidade” de solucionar os “inúmeros desafios” do país e “manifesta deslealdade institucional”.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com