A necessidade de gerir atividades que focam, por um lado, necessidades de curto prazo e, por outro, objetivos de longo prazo, como a inovação exige, faz com que surjam novos modelos de liderança, a todos os níveis na organização.
Num ensaio recente, partilhei a ideia que a colaboração também pode justificar o alinhamento de prioridades nas agendas dos diversos parceiros de modo a atingir resultados vantajosos para todos e um sucesso partilhado. A dinâmica de colaboração e a participação em redes, porque estimuladas pela complementaridade de competências, tecnologias e conhecimentos, geram novas formas de governança.
As iniciativas ou projetos de inovação estratégicos ou mobilizadores podem mesmo ir mais longe no modelo de liderança a aplicar, como avançam diversos autores. Algumas empresas portuguesas, sobretudo de áreas tecnológicas, como as tecnologias de informação, experimentaram já mecanismos de liderança rotativa não só na administração mas também na coordenação de projetos, com efeitos importantes na sua afirmação e na capacidade de se reinventarem, dando visibilidade a estilos diferentes e proporcionando novas oportunidades para o desenvolvimento da organização.
A criação de condições para que mais pessoas possam liderar traduz um compromisso com uma maior abertura à participação e simultaneamente à aplicação de processos mais plurais, transparentes e orientados para resultados.
Trata-se de uma mudança que vai sendo conseguida, através do exemplo, com efeitos na cultura das organizações. Uma das suas características prende-se com o reconhecimento de que “líderes positivos” podem desempenhar um papel, em diversos níveis e áreas funcionais, como na inovação, nomeadamente no desenvolvimento de novos produtos e serviços, com capacidades adequadas mas sobretudo com o espírito de missão que permite contagiar os outros para a importância de saber, conhecer, interagir e aproveitar melhor as oportunidades que não deixam de existir, mesmo em contextos adversos, de incerteza ou de risco.
Encorajar e estimular a inovação significa dar mais tempo e liberdade para o desenvolvimento individual e, por isso, também coletivo. Mas os casos de empresas ou outras organizações, como partidos políticos, agências públicas, associações ou fundações, pecam por utilizarem modelos mais convencionais, encostados à zona de conforto, moral e legal, que faz do seu líder um único herói, frequentemente transfigurado em anjo.
Receiam-se as ideias, por vezes diferentes e que não cabem nos espartilhos de critérios de outros tempos, muitas vezes colados a um estilo de liderança perra. Acumula-se o pó, deixa-se que a luz se torne sombra, mantém-se o statu quo, numa tentativa, frequentemente ilusória, de controlo, mas que mais não é que um passo rápido para a estagnação. E o problema é quando assistimos, como nos revela Camilo Castelo Branco, “à queda de um anjo”, e com ele se põe em causa toda a comunidade a que pertencia e os princípios éticos de uma liderança de futuro.