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Líderes do setor energético adiam as previsões para alcançar a neutralidade carbónica, revela Bain

A Bain & Company diz que “os investimentos em energia limpa atingiram níveis recorde no ano passado, mas os líderes das empresas responsáveis pela transição tornaram-se menos otimistas sobre quando o mundo alcançará a neutralidade carbónica”.
11 Março 2025, 07h30

Os líderes do setor energético estão a adiar as previsões para alcançar a neutralidade carbónica, devido ao aumento dos custos e aos desafios de investimento. Esta é uma das conclusões do estudo 2025 Energy & Natural Resources Executive Survey lançado pela Bain & Company.

Apesar dos investimentos recorde em energia limpa, os executivos apontam limitações financeiras, relutância dos acionistas e incertezas políticas como os principais obstáculos. No entanto, cresce o otimismo em relação à inteligência artificial e a outras tecnologias emergentes.

A Bain & Company diz que “os investimentos em energia limpa atingiram níveis recorde no ano passado, mas os líderes das empresas responsáveis pela transição tornaram-se menos otimistas sobre quando o mundo alcançará a neutralidade carbónica”.

De entre as conclusões do estudo 2025 Energy & Natural Resources Executive Survey está ainda o facto de cerca de 44% dos executivos de energia e recursos naturais estimarem que o mundo alcançará a neutralidade carbónica apenas em 2070 ou mais tarde, o que traduz um aumento significativo em relação aos 31% que apontavam para esta data no inquérito realizado pela Bain em 2024. Da mesma forma, apenas 32% acreditam que a meta será possível até 2050 – invertendo as tendências dos estudos anteriores, em que cerca de 40% a 50% previam a neutralidade carbónica até 2050.

Em média, os executivos de Oil&Gas preveem o pico do petróleo por volta de 2038, sinalizando claramente que os ativos tradicionais desempenharão um papel crucial na resposta à procura energética no futuro próximo.

A pesquisa anual da Bain, que abrangeu mais de 700 executivos das áreas Oil&Gas, Renováveis, Eletricidade, Químicos, Mineração e Agronegócio, oferece uma visão geral das opiniões dos líderes sobre os desafios e oportunidades da transição energética, destacando como equilibram esses investimentos com outras prioridades empresariais.

“As nossas conclusões deixam claro que o que tem sido descrito como a transição energética é visto como o duplo desafio de fornecer volumes crescentes de energia em simultâneo com um esforço para descarbonizar”, refere Alessandro Cadei, líder da prática de Energia na Europa da Bain & Company, citado no comunicado.

“Os executivos continuam otimistas de que uma descarbonização significativa está no horizonte, mas talvez não tão rapidamente quanto imaginavam inicialmente. A indústria está a passar por um período de grande inovação e transformação, e as agendas dos executivos nunca estiveram tão preenchidas. Aqueles que se mantiverem hiper focados na concretização das suas prioridades, no meio de todos estes desafios, vão liderar a próxima era da energia”, acrescenta.

Por sua vez, Eduardo Ferreira de Lemos, líder da prática de Energia em Portugal, considera que “na edição deste ano da nossa pesquisa, nota-se um maior conservadorismo dos decisores do sector quanto aos prazos que estavam estabelecidos para a descarbonização. Isso deve-se, em parte, a um maior pragmatismo nas discussões em torno dos objetivos de ESG. Depois de uma vaga de enorme entusiasmo, confrontam-se agora com a necessidade de responder a um retorno do investimento e de fazer face a orçamentos e balanços limitados e a um rápido aumento dos custos de capital”.

Retorno financeiro é o grande obstáculo para a transição energética

Os gestores continuam a apontar a dificuldade em encontrar clientes dispostos a pagar preços mais altos para gerar retorno do investimento suficiente como o maior entrave ao crescimento dos negócios orientados para a transição energética. Além disso, este ano regista-se um número crescente de executivos a destacarem a falta de apoio dos acionistas como um grande constrangimento. Outros obstáculos incluem políticas e regulamentações governamentais, bem como falta de liquidez ou capital.

O inquérito revela que mais de três quartos dos executivos afirmam que os custos dos seus projetos de capital aumentaram nos últimos 12 meses, sendo que um em cada dez enfrentou aumentos extremos superiores a 20%. Para melhorar a execução dos projetos, os gestores pretendem alocar melhor o capital nos seus portefólios, definir projetos de forma mais específica e otimizar o valor e desenho das iniciativas. Cerca de metade planeia usar tecnologias, como a inteligência artificial, para melhorar os resultados.

Por outro lado, embora o otimismo com os prazos para atingir a neutralidade carbónica tenha diminuído, os executivos estão cada vez mais confiantes no potencial de tecnologias emergentes ajudarem no processo de transição energética.

O entusiasmo pela IA e ferramentas digitais está a crescer, com 72% dos executivos a verem estas tecnologias de forma positiva para os próximos 5 a 10 anos.

A modernização de sistemas ERP (Enterprise Resource Planning) também está em destaque, com mais de 60% a planear transformações nos próximos três anos, reconhecendo que essas mudanças podem desbloquear novos recursos empresariais e ferramentas tecnológicas, como a previsão de procura com base em IA, para impulsionar a eficiência e o crescimento.

“Os líderes do setor em melhor posição no atual cenário estão a aproveitar tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, para obter uma vantagem competitiva,” defende Eduardo Ferreira de Lemos. “Para muitos, a transformação do ERP deixou de ser apenas uma atualização tecnológica – tornou-se um imperativo estratégico”, acrescenta.

Os executivos estão também mais otimistas em relação ao potencial comercial para armazenamento de energia (47% têm uma visão positiva sobre este negócio), energias renováveis (45%), circularidade (39%) e captura, utilização e armazenamento de carbono (43%), refere a Bain & Company.

A consultora estima que o consumo energético anual de centros de dados a nível global poderá mais do que duplicar até 2027, representando 2,6% do consumo global e um custo superior a 2 biliões de dólares em novos recursos de geração de energia.

Apesar do desafio, a maioria dos gestores de empresas de utilities acredita que conseguirá gerir este aumento de procura. As soluções mais mencionadas incluem o investimento em energias renováveis, a extensão da vida útil de ativos existentes e a adição de mais ativos de gás natural.

Na América do Norte, a energia nuclear é vista como um recurso potencialmente importante, embora outras regiões não a considerem da mesma forma.

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