Humberto Pedrosa, presidente do Grupo Barraqueiro
A economia do país tem vindo a sofrer um enorme abalo decorrente do surto pandémico que estamos a viver. O impacto foi fortíssimo e transversal a praticamente todo o tecido empresarial.
Acresce que toda esta situação provocou uma alteração profunda nos hábitos e rotinas da população, facto que veio agravar as dificuldades de uma economia assente em pressupostos que, entretanto, deixaram de se verificar.
Outro fator de agravamento da situação é a incerteza quanto ao futuro, verificando-se uma forte redução dos níveis de confiança relativamente à recuperação económica do país, tanto mais que Portugal tem uma economia muito dependente do exterior, e a pandemia está a afetar o mercado mundial.
Em todo este enquadramento, a principal preocupação dos empresários é a preservação dos seus negócios e dos postos de trabalho, sobretudo nos setores de atividade mais afetados pela pandemia, entre os quais, a atividade turística.
O panorama é desastroso particularmente nestes setores, e a generalidade das empresas começa a ter a sua subsistência em sério risco.
Para evitar um descalabro económico generalizado e o agravamento descontrolado do desemprego, é absolutamente fundamental canalizar adequadamente os apoios financeiros disponíveis para áreas estratégicas para o país, financiando excecionalmente a atividade das empresas estruturadas e economicamente viáveis, em detrimento de um apoio transversal a toda a economia, que só iria adiar, por algum tempo, o encerramento das empresas inviáveis, ao mesmo tempo que se desperdiçariam recursos já de si escassos e limitados.
Portugal precisa de apoiar, nesta fase dramática da nossa vida económica, as estruturas empresariais mais sólidas e com capacidade de regeneração. Com isto estar-se-ia também a proteger os postos de trabalho destas empresas, que se distinguem das restantes por criarem emprego estável, consistente e de futuro.
Carlos Gomes da Silva, CEO da Galp Energia
Os últimos meses demonstraram que o mundo em que vivemos se tornou absolutamente imprevisível, não só nas grandes questões estratégicas mundiais, como nas mais simples rotinas do quotidiano – seja um dia de trabalho; a forma como educamos os nossos filhos ou convivemos com os nossos amigos.
Na imprevisibilidade, torna-se determinante a capacidade de adaptar o rumo face a novas circunstâncias, mas também a atuação firme sobre as variáveis em relação às quais podemos exercer algum nível de controlo, desde logo na definição de um rumo de longo prazo.
Do ponto de vista das políticas públicas, a prioridade não pode deixar de ser a de recuperar a economia, com regras claras e uma visão de longo prazo, mas de forma conscienciosa e estruturada, transparente, sem passos em falso que comprometam a credibilidade e a previsibilidade do nosso percurso coletivo.
Só assim conseguiremos mobilizar os agentes económicos e os recursos dos quais, em última análise, essa recuperação dependerá.
Luís Teixeira, COO da Farfetch
No momento em que se começaram a conhecer os efeitos e algumas das consequências relacionadas com a Covid-19, os governos começaram também a divulgar os seus planos para manter a economia à tona e minimizar uma crise sem precedentes. A imprevisibilidade da evolução do vírus não nos permite desenhar o futuro com segurança, mas há coisas que sabemos que vão mudar – ou já mudaram! – definitivamente.
Em todas as crises há uma oportunidade, e a pandemia abre de forma permanente caminho para mudanças que até há bem pouco tempo viviam no imaginário de alguns, ou fechadas nas poucas empresas que desafiavam a regra. É necessário aproveitar o momento para um “reset”, não resistir ao imperativo digital e criar condições para que o trabalho remoto seja mais uma ferramenta ao dispor das empresas e dos colaboradores, e não um mal necessário.
Acredito que, perante esta crise humana, teremos todos de enfrentar o futuro de forma mais humana também. As pessoas não podem nunca deixar de ser a prioridade das empresas, a saúde e o bem-estar das nossas pessoas não pode nunca ficar para segundo plano. As empresas e sobretudo os líderes que ainda não o faziam, darão um sentido renovado às palavras “cuidado”, “ouvir” e “empatia”, sublinhando uma reinvenção porventura tardia, mas inevitável, do mundo do trabalho.
Por fim, é inegável a mudança nos hábitos de consumo, com mais pessoas a recorrer às plataformas online como a Farfetch. No segundo trimestre do ano, a Farfetch registou um aumento de meio milhão de novos clientes . Não acredito que as lojas físicas venham a desaparecer até porque poderão elas próprias reinventar-se e serem o pilar de uma estratégia em que a gestão não é feita por canal mas sim com base nos clientes, mas é verdade que há uma aceleração acentuada de uma tendência que não é nova, e temos de estar preparados para um consumidor cada vez mais exigente que reconhece as vantagens do digital.
Esta crise provou que os governos e as pessoas são capazes de reagir com assertividade a dificuldades únicas e inimagináveis, mas no meio da incerteza que persiste, é importante que as decisões tomadas agora não sejam apenas um paliativo, mas soluções duradouras e sustentáveis, que criem um mundo melhor, e que visem o bem estar tendo em consideração a essência relacional do ser humano.
Carla Rebelo, CEO da Adecco em Portugal
A chave para Portugal garantir uma recuperação rápida e robusta é a capacidade de alinhamento sinérgico e coeso entre os três pilares do triângulo em que assentará inevitavelmente a natureza e forma da recuperação de qualquer economia. São eles: empresas, colaboradores e autoridades governamentais. Estes agentes têm mesmo que estar todos no mesmo barco!
Se, de modo inédito em Portugal, conseguirmos que estas três forças trabalhem na mesma direção e intensidade, com esforços e disponibilidades de entendimento entre si, então teremos garantido o sucesso.
As empresas, instadas a agir, pela premência da sua viabilidade financeira e consequente tentativa de manter postos de trabalho, estão a tomar todas as medidas para garantir ao máximo a proteção da saúde dos seus colaboradores. Recursos financeiros e humanos sem restrição, têm sido alocados a este propósito.
Aos colaboradores e sociedade civil em geral é pedido um esforço de adaptação às novas circunstâncias, não sem que as empresas façam, como estão a fazer, a sua parte na mitigação do risco, no sentido de colaborarem e se auto gerirem, nomeadamente quanto à gestão do medo, da ansiedade e do pânico, que atualmente não mais se justifica e que apenas produzirá comportamentos totalmente irracionais. Com as medidas de proteção adotadas, existem condições para que este regresso seja controlado e bem gerido. Possuímos hoje uma experiência que não existia há seis meses e, portanto, mais informação para gerir da melhor forma o que outrora eclodiu de modo totalmente descontrolado.
As autoridades governamentais devem indicar o caminho, criar normas dinâmicas e continuamente aperfeiçoadas e sobretudo não penalizar as empresas e os colaboradores que, numa luta desigual, tentam defender a existência de uma vida pós-Covid-19.
João Alves, Country Managing Partner da EY Portugal
O caminho para a recuperação começa por reconhecer que as causas desta crise são atípicas e que muitas das suas consequências, algumas delas positivas, vão permanecer no tempo.
Já estamos perante uma crise social, resultante da perda de postos de trabalho. Para evitar uma espiral depressiva, são essenciais medidas que sustentem o consumo interno e minimizem o impacto em sectores não transacionáveis, incluindo a restauração e outros serviços de proximidade especialmente afetados por não poderem operar com a sua capacidade normal.
Em segundo lugar, é importante focar medidas de apoio nas empresas em sectores transacionáveis e na criação de emprego qualificado. Uma das consequências positivas desta crise foi o acelerar da digitalização das empresas. É essencial criar estímulos financeiros que permitam a mais empresas inovar os seus modelos de negócio, adaptá-los à nova realidade de mercado e manterem-se competitivas face às que já deram esse passo. Em paralelo, deve-se promover a requalificação de mão de obra, criando as competências exigidas por esta nova realidade e promovendo a criação de emprego qualificado.
Como passo essencial para uma recuperação rápida, o Estado deve dar o exemplo com metas agressivas de disponibilização de apoios às empresas. Este não é o momento de sermos os melhores alunos, ou de procurarmos soluções ótimas. Adicionalmente, medidas de flexibilização e incentivos ao investimento serão fundamentais para as empresas se manterem vivas. Para uma crise que começa por um problema de confiança, seria importante termos mecanismos de apoio que se baseiam na confiança na capacidade de execução das empresas, apoiados por processos digitais que conjuguem celeridade com um controlo efetivo de resultados.
João Bento, CEO dos CTT
Esta pandemia, para além de nos ter mostrado a incapacidade que temos em prever, realmente, riscos de tamanha dimensão, trouxe profundas alterações à nossa economia e ao funcionamento da sociedade em geral, muitas das quais terão vindo para ficar. Mitigar os seus impactos mais negativos e adaptar-nos à nova realidade deverão ser a nossas prioridades.
Julgo, pois, que reposicionamento e reorganização sejam palavras-chave para a fase que se segue. Embora sejam necessárias iniciativas concretas em diversos pilares estruturantes para o país, há medidas globais que podem ajudar a uma recuperação e a prioridade parece-me dever apontar para o fomento da continuidade de negócio e da mitigação dos impactos sobre as pessoas que o arrefecimento súbito da economia está a provocar.
Por outro lado, é importante que saibamos reconhecer as oportunidades, ainda que no meio da adversidade, para tirarmos partido daquelas que são as enormes potencialidades do nosso país.
Experienciámos a aceleração da transição para o digital, obrigando a uma reinvenção ora improvisada, ora mais estruturada, dos modelos e sistemas de trabalho e acredito que o país deva tirar partido desta experiência forçada para promover melhorias resultantes do uso das tecnologias emergentes.
Por fim, mas não menos relevante, realço o efeito colateral – este positivo – da redução súbita das emissões por via do arrefecimento da economia, o que nos apela à importância do investimento em tudo o que possa promover comportamentos mais sustentáveis com resultados positivos para toda a Humanidade.
Os meus parabéns ao Jornal Económico pelo seu 4.º aniversário, com votos de sucesso extensíveis a toda a equipa.
Luís de Sousa, CEO & Founder do Grupo ACIN
Portugal, e por arrastamento o arquipélago da Madeira, têm uma oportunidade de ouro para dar o passo que já se deveria ter dado há alguns anos atrás. As mais das vezes, a administração direta e indireta do Estado, a que se junta o setor empresarial público, têm resistências inexplicáveis para a desmaterialização e desburocratizarão, por via da digitalização de todos os processos administrativos, fruto das “capelinhas” existentes, que, no final do dia, terão um único prejudicado: O CIDADÃO.
Pois bem, o nosso País tem esta oportunidade para avançar rapidamente para a utilização de soluções tecnológicas. E é na verdade isso que, grosso modo, está a acontecer.
Esta é uma das saídas com maior sucesso para acelerar a resolução da crise, entretanto instalada.
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