Hoje, 18 de março de 2025, pelas 17h30, Lídia Jorge será distinguida com a insígnia de Commandeur des Arts et des Lettres, a mais alta distinção atribuída pelo Ministério da Cultura francês, que a Embaixadora de França em Portugal, Hélène Farnaud-Defromont, entregará à escritora portuguesa, numa homenagem a “uma obra excecional que reflete, com sensibilidade e profundidade, a memória portuguesa e o seu eco europeu”.
A romancista e contista nascida a 18 de junho de 1946, em Boliqueime, no Algarve, licenciou-se em Filologia Românica, em Lisboa, com o apoio de uma Bolsa Gulbenkian. Foi professora do ensino secundário e também lecionou em Angola, onde foi casar, e em Moçambique, antes de se fixar em Lisboa. Para além de exercer a docência, dedicou-se igualmente à publicação regular de artigos na imprensa e foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social.
Ficcionista, a quem tem sido apontada a influência do realismo mágico latino-americano, cada romance de Lídia Jorge é sinónimo de novidade relativamente ao romance que o antecedeu, quer ao nível da estrutura e da linguagem, quer do contexto, pelo que uma panorâmica sobre a obra ficcional da autora deve acima de tudo destacar a capacidade de aperfeiçoamento dos materiais narrativos, a sua adaptação a uma temática sempre renovada, embora inserida numa tendência ampla para reflexão sobre as várias dimensões do Portugal pré e pós-revolucionário.
Revelou-se com O Dia dos Prodígios, romance onde a linguagem oral permite a evocação de um mundo rural perdido, numa ficção que integra processos de desconstrução narrativa (“Um personagem levantou-se e disse. Isto é uma história. E eu disse. Sim. É uma história. Por isso podem ficar tranquilos nos seus postos.”), que tem como objeto a construção de uma perspetiva irónica sobre a utopia revolucionária, apreendida pelo ponto de vista dos habitantes de uma aldeia, Vilamaninhos.
Não mais parou de escrever, partindo amiúde do seu desejo de dar voz às margens culturais, históricas e sociais silenciadas na construção da memória coletiva do passado recente português. O tema da mulher e da sua solidão também está plasmado na sua obra. Obras como Notícia da Cidade Silvestre (1984), A Costa dos Murmúrios (1988) ou O Vento Assobiando nas Gruas (2002) – no qual aborda a relação entre uma mulher branca com um homem africano e o seu comportamento perante uma sociedade de contrastes – valeu-lhe o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (2003), o prémio Correntes d’Escritas (2004), o Prémio de Literatura Albatros da Fundação Günter Grass (2005), na Alemanha, e o Prémio do Público (2005), no Salão de Literatura Europeia, em França.
Mais recentemente, em 2023, foi galardoada com o Prémio Eduardo Lourenço – inicialmente de caráter ibérico e que passou a ter uma dimensão ibero-americana –, até aqui maioritariamente ‘masculino’ e ao qual à 19ª edição, Lídia Jorge “vem reforçar a presença feminina no leque de premiados, ela que é precisamente um dos arautos por excelência dessa visibilidade das vozes femininas através da sua obra”, nas palavras do vice-reitor da Universidade de Coimbra, Delfim Leão.
No mesmo ano, a autora de romances tão poderosos como “Combateremos a Sombra” (2007), “Os Memoráveis” (2014) e “Estuário” (2018) recebe, em França, o Prémio Médicis Melhor Obra Estrangeira pelo romance “Misericórdia” (2022), um reconhecimento que sublinha a importância da sua escrita no panorama literário internacional, e que fez dela a primeira autora de língua portuguesa a inscrever-se nesse ‘panteão da Literatura, criado em 1970, ex-aequo com o romance “Impossibles Adieux”, da sul-coreana Han Kang.
Os livros de Lídia Jorge estão traduzidos para diversas línguas, como alemão, árabe, galego, búlgaro, castelhano, esloveno, grego, francês, hebraico, húngaro, italiano, holandês, romeno, sueco e inglês, entre outras. E algumas das suas obras foram adaptadas ao cinema, caso de “A Costa dos Murmúrios”, realizado por Margarida Cardoso.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com