O Bloco de Esquerda (BE) e o Chega protagonizaram esta sexta-feira um momento de alta tensão no Parlamento, com uma troca de argumentos acesa. Os bloquistas lançaram farpas às notícias sobre o financiamento do partido de André Ventura, a quem classificaram como “radioativo”, que ripostou com a antiga polémica de Ricardo Robles, garantindo que irá “atravessar” o “lugar” do partido coordenado por Catarina Martins na política portuguesa.
A deputada Mariana Mortágua acendeu o rastilho quando defendeu, durante o debate sobre as propostas de criação de uma comissão de inquérito ao Novo Banco, que é preciso investigar todas as “influências e obscuros interesses privados” nos partidos, incluindo no Chega de André Ventura. Isto porque a proposta do Chega (que acabou por ser chumbada) tinha como objetivo “averiguar sobre o financiamento ilícito de todas as campanhas eleitorais onde eventualmente surjam ligações ao BES/GES”.
Sublinhando que o BE iria votar a favor de todas as propostas de criação de comissão de inquérito apresentadas, Mariana Mortágua afirmou que a investigação ao financiamento ilícito no Chega poderia começar a ser feito e apontou vários nomes de dirigente e ex-dirigentes do Chega com ligações a negócios ruinosos na banca. “Façamos já a investigação. E pouparemos a Assembleia da Republica a uma comissão de inquérito futura”, instou.
Mariana Mortágua acusou André Ventura de liderar “um partido comprometido até ao pescoço com os negócios mais obscuros da elite financeira e económica” e de ser “não é só um político do sistema”, mas “um político do pior que o sistema tem”.
Sem tempo para responder à deputada bloquista ainda durante a discussão sobre o Novo Banco, André Ventura aproveitou o final da intervenção do debate sobre o encerramento da central nuclear de Almaraz para contestar a parlamentar bloquista, numa amarga troca de palavras. “Quando olharem de novo para o Chega lembrem-se sempre que cedo ou tarde vai atravessar o vosso lugar na política portuguesa e vai fazê-lo com muita clareza”, atiçou, antes de recordar a polémica em torno do caso Robles.
“Nunca vendi casas da segurança social acima de milhões acima de milhões quando as comprei por 340 mil, nem nenhum candidato que se senta aqui do Chega a ser preso por cultivar droga. Isso eu nunca fiz, e isso é o pior que a política tem em Portugal. Também nunca tive turismos rurais, nem nunca ataquei aqueles que os tinham e a especulação imobiliária. Isso é típico do BE, que bem se podia chamar partido Robles para melhor identificação”, disse.
O Bloco de Esquerda rebateu as críticas com o deputado Nelson Peralta a dizer que “o deputado André Ventura defendeu a honra sem dizer nada sobre Salvador Andrade, Pedro Pessanha, Francisco Sá Nogueira, Francisco Cruz Martins” e as suas ligações à banca, noticiados pela revista Visão em julho. “Sobre isto nada diz porque considera que isto não é um ataque à honra do Chega. Isto é a essência do Chega. O Chega é isto: o pior do sistema”, salientou.
E acrescentou: “O Chega está intimamente ligado aos escândalos financeiros do país e não tem nada a dizer aos trabalhadores do país. O BE dá essa resposta a quem trabalha no país, a quem quer um país decente para viver”.
André Ventura voltou a responder aos bloquistas, a quem acusa de ter “telhados de vidro”, abraçando a denominação de “radioativo” usado por Peralta para garantir que “o Chega é tão radioativo que um dia há-de acabar em Portugal com aqueles que querem destruir a democracia”.
“Temos sempre no Parlamento, esta superior moralidade de esquerda caviar que chega aqui e que os outros são radiativos, que os outros são muito perigosos, que os outros são o pior que o sistema tem”, disse.
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