Os britânicos da Lightsource BP – empresa detida pela petrolífera BP – estão a desenvolver seis projetos na energia solar fotovoltaica em Portugal num total de mais de 1,5 gigawatts de potência. O valor total do investimento supera os 1,35 mil milhões de euros, apurou o Jornal Económico.
O projeto mais recente a ser submetido a Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) é a Central Solar Fotovoltaica do Alqueva, um investimento de 365,5 milhões de euros para construir uma central com 431,5 MWp a instalar no concelho de Moura, distrito de Beja. Por ano produzirá em média um total de 680 GWh.
Esta central nasce de um acordo direto entre o promotor e a REN, com o promotor a ter de suportar todos os custos decorrentes do necessário reforço de rede. O projeto também tem como objetivo a instalação de um sistema de armazenamento de energia elétrica por baterias, que terá uma disponibilidade de 86 MVA, com uma capacidade total de armazenamento de duas horas (172 MWh). A consulta pública termina a sete de junho.
Mas há mais projetos em curso. Em janeiro deste ano, a companhia submeteu à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) para construir a central fotovoltaica da Beira, localizada nos concelhos de Castelo Branco e de Idanha-a-Nova, que conta com uma potência total de 269 megawatt pico (MWp), mas o processo ainda se encontra em fase de realização do estudo.
E há mais projetos pela frente que já obtiveram Declaração de Impacte Ambiental (DIA) positiva pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), mas sujeita ao cumprimento de condições: a central da Chamusca (281 MW) e a de Cibele (100 MW), ambas no distrito de Santarém; a central do Planalto em Mogadouro, distrito de Bragança, com 130 MWp; a central do Paiva, distrito de Viseu, com 290 MWp.
“Portugal tem a oportunidade de aproveitar um recurso estratégico, gerador de riqueza e postos de trabalho. Um painel fotovoltaico em Portugal produz mais 50% de eletricidade que o mesmo painel na Alemanha ou no Reino Unido. E esse maior recurso solar, se aproveitado, tem como consequência uma fatura de eletricidade inferior, para empresas e para as pessoas. Para consumidores electro intensivos, esta diferença de custo tem um impacto muito significativo. E menores custos, aumentam a competitividade”, disse ao Jornal Económico (JE) o responsável nacional da energética, Miguel Lobo.
“O investimento em projetos de grande dimensão, que resultam em custos mais baixos por megawatt, é crucial não apenas para reduzir os preços ao consumidor, mas também para melhorar a competitividade de Portugal relativamente a outros países, que tanto precisamos. Precisamos de acelerar a implementação de projetos que são sustentáveis e que trazem benefícios diretos em termos ambientais e económicos”, defendeu Miguel Lobo.
Apesar da grande escala dos projetos em Portugal, a maior central da empresa na Europa está a ser construída na Grécia: o projeto Enipeas Solar conta com 560 MW.
Na Austrália, a companhia tem o seu maior projeto mundial: Sandy Creek Solar com 840 MW. Outro projeto de monta no país é o Goulburn River Solar com 550 MW. Ambos estão em fase de desenvolvimento.
A companhia conta com mais de 300 grandes projetos desenvolvidos, com uma potência instalada de 8,4 gigawatts e conta com um pipeline de 65 gigawatts. No primeiro trimestre deste ano, tinha 2,7 gigawatts em desenvolvimento em vários mercados: Reino Unido, Grécia, Polónia, Brasil, Estados Unidos e Austrália.
No caso da central do Alqueva, o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) aponta que os impactes negativos do projeto farão sentir-se principalmente durante a fase de construção, argumentando que a serão, na sua maioria, “pouco significativos, (alguns até mesmo insignificantes) temporários e, grande parte, possíveis de ser minimizados com a aplicação de um conjunto de ações/medidas propostas no EIA, a adotar em fase de obra”.
“Decorrente da recuperação ambiental e paisagística das zonas intervencionadas, parte dos impactes negativos expetáveis de ocorrer na fase de construção deixarão de se fazer sentir durante a operação do Projeto. Os que permanecerem serão no geral pouco significativos (áreas a impermeabilizar reduzidas). Os que se consideram significativos (perceção visual que alguns potenciais observadores próximos poderão ter da presença e funcionamento da Central) poderão ser minimizados, através da aplicação de barreiras com técnicas de engenharia natural e da implementação das ações geradoras de valor acrescentado. Incluindo o potencial de minimização, previsto nas medidas, os impactes negativos residuais sobre a maioria dos fatores ambientais serão globalmente pouco significativos, contrabalançados pelos benefícios positivos que serão expetáveis de ocorrer”, segundo o estudo.
A companhia argumenta que “Apesar dos impactes negativos mencionados, é notório o papel importante que o projeto detém na redução das emissões de GEE (ao evitar a emissão anual de 110 mil toneladas de CO2, traduzindo-se em 3,8 milhões de toneladas de CO2, ao fim de 35 anos). Este papel tende a assumir maior relevo na amenização da dependência energética externa do país, num contexto mundial pautado atualmente por uma grave crise energética. Para além de ir ao encontro da estratégia definida pelo Governo português nestas matérias, dando o seu contributo no cumprimento das metas estabelecidas, o projeto encontra-se alinhado com o modelo de desenvolvimento territorial estabelecido nos instrumentos de gestão territorial em vigor”.
No final de 2023, a BP comprou os 50% da empresa detidos por Nick Boyle (CEO) por mais de 300 milhões de dólares. A Lightsource BP foi fundada em 2010 por Nick Boyle. De três mercados, a companhia evoluiu para 19 países, contando com mais de 1.200 trabalhadores. Em 2022 registou um EBITDA de 287 milhões de libras, com a dívida ajustada nos 1,5 mil milhões de libras.
Em fevereiro deste ano, o CEO da BP revelou que a petrolífera estava a equacionar abrir as portas da Lightsource BP a parceiros, tendo revelado que já tinha mantido conversações com outras empresas, mas que nenhuma decisão tinha sido ainda tomada.
Até 2030, a petrolífera quer cortar a sua produção petrolífera em 25% face a 2019 para dois milhões de barris diários. A BP é uma das maiores petrolíferas mundiais: em 2023 gerou 14 mil milhões de dólares de lucros, estando entre as oil majors, as gigantes mundiais do sector.
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