Os grandes centros urbanos portugueses não são mundialmente conhecidos pela categoria da sua limpeza urbana e os cerca de 300 milhões de euros que todos os anos são gastos no país com esse fim não estão a redundar em cidades com um aspeto devidamente limpo.
A Tabaqueira sabe que é um dos ‘culpados’ disso – ou pelo menos o seu cliente final, que tende a considerar a rua de uma cidade como um imenso cinzeiro, mas decidiu uma espécie de contrição que não ficasse pela simples ‘mea culpa’: em parceria com a Fundação de Serralves e a Único, realizou (na própria fundação) uma conferência que “surge no contexto de um crescente apelo à transformação dos comportamentos individuais e coletivos no espaço urbano”, com impacto direto na limpeza, sustentabilidade e qualidade de vida nas cidades.
“A conferência insere-se no compromisso das entidades organizadoras com a sustentabilidade ambiental e a cidadania ativa, com o objetivo de fomentar o diálogo entre poder político, autarquias, setor empresarial, academia e sociedade civil, identificando desafios, soluções e boas práticas para a construção de espaços públicos mais limpos, seguros e resilientes”, refere a organização.
Vários dos participantes nos dois painéis da conferência convergiram no facto de ser claro que o comportamento dos consumidores surge como uma reação à envolvente: “infraestruturas são o que altera os hábitos e transforma a norma”, disse Graça Fonseca, fundadora e responsável da Because Impacts e ex-ministra da Cultura. Segundo revelou, um estudo da Because indica que há uma elevada consciência do impacto ambiental. Mas “as condições externas têm de ajudar”. “As infraestruturas são o que altera os hábitos e transforma a norma”, assegurou, a que deve acrescentar-se “educação e comunicação estratificada”, para além do alinhamento das entidades – Estado e ‘produtoras’– numa mesma finalidade.
Isabel Pires de Lima, presidente do Conselho de Administração da Fundação Serralves, explicou que, sendo um tema de cidadania, “Serralves tem inscrita na sua missão a responsabilidade ambiental. Faz, aliás, parte do Sistema Comunitário de Eco-gestão – a primeira instituição portuguesa a inscrever-se na organização.
Leonor Sottomayor, diretora de Assuntos Institucionais da Tabaqueira – empresa que exporta 90% daquilo que produz – assume o ‘pecado inicial’ em relação às beatas, sendo exatamente por isso que assume “um compromisso com a sustentabilidade” provavelmente mais denso que as empresas que não têm este tipo de visualização. A Tabaqueira leva quase duas décadas de campanhas ambientais, recordou Leonor Sottomayor, mas também de projetos piloto com “vários parceiros”, todos eles seguindo numa linha de “mudança de comportamentos”.
Parte da solução, a Agência Portuguesa do Ambiente também participou na conferência. Mafalda Mota, referiu que “é urgente mudar comportamentos na forma como consumimos” na generalidade, mas mais particularmente em relação aos consumos que geram resíduos. “As cidades refletem os nossos hábitos”, recordou.
Edição do Jornal Económico de 4 de julho.
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