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Lítio. Ações da Savannah afundam 17% depois de buscas

Empresa mineira foi alvo de buscas na terça-feira no âmbito da investigação aos negócios do lítio e do hidrogénio pelo Ministério Público e que culminou na demissão do primeiro-ministro após oito anos no poder.
Extração de Lítio
8 Novembro 2023, 13h31

As ações da Savannah Resources estão a afundar mais de 17% na bolsa de Londres esta quarta-feira, um dia após as buscas de que a empresa mineira foi alvo em Portugal. As ações negoceiam agora nas 2,7 centavos de libra.

No total, trocaram de mãos cerca de 11,7 milhões de ações, contra a média de 2,6 milhões de ações negociadas. A companhia tem um market cap de 50,5 milhões de libras.

A Savannah está sediada em Londres, mas conta com um CEO português, Emanuel Proença. Durante o dia de ontem, foi alvo de várias buscas em vários pontos do país.

A empresa anunciou ao final da tarde de terça-feira que tinha sido alvo de buscas, confirmando que as autoridades estiveram hoje presentes em certos locais da empresa em Portugal. “A Savannah cooperou totalmente com as autoridades da investigação e vai continuar a fazê-lo. Nem a Savannah nem nenhum dos seus diretos ou trabalhadores são alvos desta investigação (um termo conhecido como arguido em português)”, segundo o comunicado redigido em inglês.

 A empresa confirma que os “seus trabalhos no projeto de lítio do Barroso vão continuar, enquanto decorre a investigação do DCIAP. A concessão da mina, emitido em 2006, permanece imutável e a Savannah tem e vai conduzir os seus negócios de forma legal e transparente”.

Na terça-feira decorreram várias buscas por todo o país no âmbito da investigação aos negócios do lítio, do hidrogénio e de dados. Vários responsáveis foram constituídos arguidos incluindo o ministro das Infraestruturas João Galamba, o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, e o advogado e amigo de António Costa, Diogo Lacerda Machado. Como resultado, o primeiro-ministro anunciou a sua demissão, depois de se saber que o Supremo Tribunal de Justiça deverá abrir uma investigação sobre si.

Antes das buscas, a Savannah anunciou na segunda-feira que o banco britânico Barclays e um banco de investimento australiano subiram a bordo do projeto da mina de lítio de Covas do Barroso para ajudar a encontrar investidores para o projeto.

A Savannah anunciou hoje que está a “trabalhar para identificar parceiros para o projeto”, anunciando a nomeação do banco de investimento do Barclays e os australianos do Barrenjoey Advisory  como “conselheiros para liderar o processo”.

“Para quantificar o interesse comercial recebido no projeto, a companhia iniciou um processo de parceria estratégica em julho, no qual partes interessadas foram convidadas a submeter propostas a explicar como poderiam ajudar a Savannah com o financiamento do projeto como parte de uma relação comercial de longo prazo com a empresa”, seg

“Dado o elevado número de respostas positivas recebidas de uma variedade de grupos, a Savannah nomeou o Barclays e a Barrenjoey como co-conselheiros financeiros para liderar a próxima fase do projeto”, segundo a companhia que destaca a “significativa experiência” de ambas as empresas “em gerir transações no sector do lítio e na indústria mineira e de metais”.

O processo passa agora pelo “engajamento com vários potenciais parceiros estratégicos com vontade de assistir ao futuro desenvolvimento do projeto” proporcionando “oportunidades adicionais” à Savannah ou “capacidades suplementares”.

Mais de 300 milhões de receitas por ano

Para 2025, a empresa espera tomar a decisão final de investimento do projeto e arrancar com a construção. Já em 2026, deverá arrancar a produção com 191 quilotoneladas por ano de concentrado de espumodena (ktpa).

O projeto fica a 145km do porto de Leixões, por onde pode exportar produto; a 180km de Estarreja, onde a Bondalti pretende instalar uma refinaria de lítio; a 500km de Setúbal, onde a Galp e a Northvolt pretendem instalar a sua refinaria.

A Savannah espera gerar receitas anuais de 304 milhões de dólares (285 milhões de euros), com um EBITDA de 205 milhões de dólares (192 milhões de euros), gerando um cash flow de 124 milhões de dólares (182 milhões de euros).

Para a totalidade da vida da mina, a Savannah espera receitas de 4.151 milhões de dólares (3.890 milhões de euros), um EBITDA total de 2.793 milhões de dólares (2.617 milhões de euros), num cash flow total de 1.694 milhões de dólares (1.587 milhões de euros), levando ao pagamento de 924 milhões de dólares (866 milhões de euros) em impostos e royalties.

O projeto implica um investimento inicial de 280 milhões de dólares (262 milhões de euros), incluindo 40 milhões de dólares (37 milhões de euros) em medidas sociais para a comunidade. Já o encerramento da mina vai ter custos de 102 milhões de dólares (95 milhões de euros).

Por ano, a companhia prevê extrair 1,5 milhões de quilotoneladas de minério para produzir 190 quilotoneladas de concentrado de espumodena, 400 quilotoneladas de feldspato/quartzo, usados pelas indústria de cerâmica, mas com valor comercial mais baixo (53,5 dólares por tonelada).

Em termos de preços, espera que o concentrado de espumodena (6% Li2O) recue dos atuais 2.850 dólares/tonelada para uma média de 1.597 dólares/tonelada entre 2026-2039. Já o concentrado de espumodena (5% Li20) deverá atingir em média 1.464 dólares/tonelada em média durante o mesmo período.

Por ano, a empresa britânica espera produzir 1,5 milhões de toneladas de lítio, durante 14 anos. A mineração vai ser entregue a outra empresa, com a exploração a céu aberto a ter lugar somente durante o dia.

A empresa tem uma concessão de 30 anos. Olhando para o futuro, prevê que o concurso que o Governo prevê lançar para as concessões de pesquisa de lítio possa vir a “expandir as oportunidades de exploração”. No total, a empresa estima que as suas reservas atinjam as 28 milhões de toneladas, fazendo desta mina a maior da Europa em termos de espumodena.

Mercado em expansão

A Savannah argumenta na sua apresentação que a procura mundial por lítio para produzir baterias para carros elétricos vai disparar quatro vezes até 2030, com a procura na Europa a disparar 12 vezes até 2030 e 21 vezes até 2050. Atualmente, não existe produção de lítio na Europa para as baterias.

O défice global de lítio vai subir 2,5 vezes até ao final da década. Como resultado, os preços do lítio dispararam 10 vezes desde o segundo semestre de 2020 até ao final de 2022, atingindo máximos históricos.

“Os preços estabilizaram agora após uma correção no primeiro semestre de 2023, mas vão permanecer acima dos preços médios de longo prazo”, segundo a empresa.

 

  • Notícia corrigida a 9/11/23: a versão anterior dava conta de que a cotação das ações era em libras, mas foi corrigida para centavos de libras.
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