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Lítio. Mina do Barroso com capacidade anual para construir baterias para 655 mil BMW i3

A mina do distrito de Vila Real poderá também ter capacidade para fornecer lítio para a baterias de mais de 300 mil Jaguar I-Pace por ano, segundo as estimativas apresentadas pela concessionária Savannah Resources que anunciou esta semana um acordo com a Galp.
  • Extração de Lítio
13 Janeiro 2021, 08h10

A mina do Barroso tem a capacidade anual para construir baterias para 655 mil BMW i3 ou para 307 mil Jaguar I-Pace, com base nos modelos produzidos por estas marcas em 2019.

No período de onze anos, a mina teria capacidade para produzir baterias para 7,2 milhões de BMW i3, com a Savannah a apontar que estas baterias têm uma vida média de oito anos. O investimento inicial previsto atinge os 109 milhões de dólares (quase 90 milhões de euros).

Estas estimativas são apresentada pela Savannah Resources que detém a maioria da concessão da mina localizada no concelho de Boticas, distrito de Vila Real. Este projeto encontra-se atualmente sob avaliação de impacte ambiental pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) que poderá dar o seu parecer ainda no primeiro trimestre deste ano.

Por ano, a empresa mineira sediada em Londres estima que a sua produção poderá atingir 1,3 milhões de toneladas por ano. Em novembro de 2020, a Savannah estimava existirem 27 milhões de toneladas de lítio na mina do Barroso, acima dos 14,4 milhões de toneladas estimados inicialmente.

A Savannah aponta que a “mina do Barroso é o mais significante projeto em desenvolvimento de espodumena na Europa, e oferece custos operacionais e capital intensivo abaixo da média”.

A espodumena é um mineral de lítio “usado para produzir sais de lítio que são usados na produção de baterias que equipam os veículos elétricos ou que são usadas para armazenar energia produzida de forma renovável”, explica a companhia. Depois de retirada da mina, a espodumena é transportada para uma refinaria onde é transformada para ser usada em diferentes indústrias.

Em novembro, a Savannah esperava completar o estudo de viabilidade em 2021 e arrancar com a produção no final de 2022. Sobre a compra de lítio, a empresa aponta que continuava em negociações com empresas da indústria de minério. A companhia esperava ter a aprovação ambiental aprovada até ao final de 2021, assim como as respetivas licenças para produção, alertando para atrasos devido à pandemia do coronavírus.

A empresa aponta que a mina pode contribuir para a redução em 100 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono em onze anos.

Tal como na Austrália, a produção de lítio é principalmente de “pedra dura”, que se tem tornado a principal fonte de abastecimento global: 72% contra 28% de salmoura, dados de 2018. Comparando com a Austrália a empresa aponta que a produção em Portugal equivale a 1% da produção neste país do antípodas.

A Savannah Resources anunciou na terça-feira um acordo com a Galp para esta mina. A Galp vai ficar com uma percentagem de 10% neste projeto em troca de 6,4 milhões de dólares para ser usado no estudo de viabilidade do projeto. O acordo também prevê que a petrolífera fique com 50% do concentrado de lítio produzido anualmente na mina.

Olhando para o mercado global de carros elétricos, as vendas devem subir dos 2,3 milhões registados em 2019, para nove milhões em 2025, 26 milhões em 2030 e 44 milhões em 2035.

Desta forma, a procura mundial por lítio deverá crescer três vezes até 2025, seis vezes até 2028 e mais de dez vezes até 2035. “A produção de lítio refinado deverá ficar aquém da procura, gerando um défice na década de 2020”, alerta a empresa.

Sobre a Europa, a empresa aponta que é o segundo maior mercado mundial para o lítio e os veículos elétricos, com 590 mil carros elétricos vendidos em 2019, mas a Savannah aponta que não existe nenhuma cadeia de abastecimento europeia de lítio. Nesse sentido, a mina do Barroso tem o “potencial fundacional para esta nova cadeia de abastecimento”.

A empresa também aponta que a mina fica estrategicamente localizada próxima dos “principais centros de produção da União Europeia de baterias de iões de lítio”, apontando que o porto de Leixões fica a cerca de 140 quilómetros.

A Savannah Resources espera atingir receitas na ordem de 1.555 milhões de dólares (1.274 milhões de euros) em onze anos, 140 milhões por ano (114 milhões de euros), com um EBITDA de 805 milhões de dólares (659 milhões de euros), uma média de 73 milhões por ano (59 milhões de euros).

A companhia aponta que o “risco operacional” em Portugal é “baixo”, destacando a vontade do Governo português de desenvolver uma indústria de produção de lítio devido às significantes reservas de lítio do país.

O Governo português está a preparar-se para, no terceiro trimestre de 2021, lançar um concurso para atribuir direitos de prospeção e pesquisa para apurar, em 11 áreas do país, se e onde existe lítio, a sua quantidade e qual a viabilidade económica da sua extração.

Este projeto, a par dos de Montalegre e de Argemela, vão ficar fora deste concurso por já terem concessões atribuídas e estarem em fase de avaliação ambiental, disse o secretário de Estado da Energia, João Galamba, em entrevista ao jornal online “Observador” em fevereiro de 2020.

Americanos de olho no lítio português

Em dezembro, o responsável pelos recursos energéticos do governo norte-americano esteve em Portugal para se reunir com responsáveis do sector público e privado sobre o futuro do lítio no país.

“Estou aqui para me reunir com membros do Governo, com representantes do sector privado, para falar dos esforços que estão a ser feitos para oferecer apoio, para ajudar a assegurar que os investimentos vão de encontro às melhores práticas. Idealmente, gostaríamos de ver investidores norte-americanos e sei que Portugal gostaria de ter investidores norte-americano. A oportunidade é incrível. Há outras áreas no sector energético em que queremos trabalhar com Portugal, como no hidrogénio verde, há muitas empresas norte-americanas interessadas nisto, há muitas áreas que podemos aprofundar”, disse Francis Fannon, subsecretário adjunto para os Recursos Energéticos do Departamento de Estado dos Estados Unidos (EUA), em entrevista ao Jornal Económico.

Portugal tem a nona maior reserva mundial de lítio

Portugal conta atualmente com a nona maior reserva (valor líquido de lítio) a nível mundial, segundo um relatório do governo norte-americano divulgado este ano, com o Chile (8,6 milhões de toneladas), Austrália (2,8 milhões) e Argentina (1,7 milhões) a liderarem o ranking.

A nível de produção, Portugal aumentou de 800 para 1.200 toneladas entre 2018 e 2019, usada para produzir cerâmica e vidro, ocupando a sexta posição entre oito países produtores em 2019. Esta tabela é liderada pela Austrália (42 mil toneladas), Chile (18 mil) e China (7,5 mil). Já em termos de recursos minerais (o valor bruto do lítio), Portugal ocupa a 17.ª posição entre 22 países, com 250 mil toneladas potenciais. A liderar as reservas potenciais estão a Bolívia (21 milhões de toneladas), a Argentina (17 milhões) e o Chile (nove milhões).

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